Campus Party já não é mais um evento para nerds e geeks, dizem campuseiros
Ainda que seja definido pelos próprios organizadores como um evento de tecnologia, campuseiros veteranos que têm acompanhado a evolução da Campus Party ao longo de seus oito anos relatam uma significativa mudança de foco. "Está cada vez menos voltado ao público nerd e dedicado a startups", relatou o programador Felipe Riffel, 26, que já participou de três edições.
O conteúdo de empreendedorismo, segundo o estudante Paulo José Toledo Barbosa da Silva, 23, tem dominado os painéis da Campus Party desde a edição passada, que chegou a ser batizada como a Campus do Empreendedor. "Se comparado a 2014, houve uma redução desse domínio, mas ele ainda existe", aponta.
Ainda que também reconheça essa mudança de foco, o empresário Alexandre Ferreira de Souza, 40, que marcou presença em todas as oito edições da Campus Party, cita uma mudança no perfil do campuseiro. "Os campuseiros não evoluíram junto com a estrutura do evento", disse ele. "Muitos acreditam que esse ambiente seja uma rede de computadores, mas isso aqui é uma rede de pessoas. Para vir e fazer o mesmo que se faz em casa, não vale o investimento."
Para ele, todas as mudanças --de foco e de perfil-- podem estar diretamente relacionadas ao aumento "desenfreado" do evento. Segundo a organização, a primeira edição da Campus Party, em 2009, foi composta por 3.300 campuseiros. O número pulou para 6.655, em 2010, que se manteve em 2011. Em 2012, foram 6.800 campuseiros, contra 7.500, em 2013, e 7.631, em 2014. Atualmente, são 8.000 participantes, o que representa um aumento de quase 150% em oito anos.
Uma evolução que, de acordo com a organização, propiciou o aumento das horas de conteúdo promovidos pelo evento, que passou de 600 horas, em 2014, para 700 horas, em 2015. Apesar do aumento de conteúdo, o programador de jogos Luiz Fernando de Lira, 26, relatou o desencontro de informações no cronograma. "No Facebook, havia uma informação, no site outra, e quando você chegava no palco era uma totalmente diferente."
Internet
A capacidade da internet aumentou de 40 Gbps (Gigabits por segundo), em 2014, para 50 Gbps. Na primeira edição da Campus Party, a organização oferecia uma conexão de apenas 5 Gbps.
Mas, apesar do aumento, a qualidade da conexão ainda não é unanimidade entre os participantes. Muitos reclamam da demora. E aqueles que não reclamam dessa demora, reivindicam a volta do Wi-Fi. "É melhor um Wi-Fi que funcione mal, como o do ano passado, do que não ter nenhum", disse Paula.
"Este sem dúvida não é o melhor ano da Campus Party", disse o gestor de mídia online Thiago Plauth, 32, que já participou de seis edições do evento. "Não tem Wi-Fi. Apesar da diminuição nos problemas com cabos, a internet, apesar de mais potente, parece estar bem mais lenta do que no ano passado."
Mudanças estruturais
Do ponto de vista estrutural, a principal mudança dessa edição em relação às demais, de acordo com os campuseiros entrevistados pelo UOL, foi o ar-condicionado. "Saímos do deserto do Saara para o Alasca", brincou o estudante Renato Rodrigues, 21, que optou em dormir na área de palestras para fugir do frio da área de camping.
Embora também tenha sofrido com o frio, o estudante Paulo José Toledo Barbosa da Silva prefere o frio ao "calor insuportável" das edições anteriores. "Ano passado passeis duas noites sem dormir por causa da temperatura", lembra ele. "Ano que vem quem sabe eles conseguem atingir um meio termo."
Já os banheiros não foram um consenso entre os participantes. Enquanto uns notaram um avanço, outros afirmaram que houve uma redução na quantidade de cabines e uma instabilidade na força da água. "Esse ano consegui tomar banho quente todos os dias, diferente da edição passada", disse a gaúcha Paula Marcheoro, que há dois anos acompanha o namorado no evento. Já Renato Rodrigues relatou que a água quente é "sorte".
O grande problema citado por mais de um campuseiro nesse quesito foi a falta de escoamento da água na hora do banho. Ou seja, a água corre de um banheiro para o outro por debaixo da estrutura vazada que separa as unidades. "Uma nojeira só", comentou Paula.
"Muito mais do que os problemas estruturais, ainda há uma grande falha na segurança do evento", destacou Plauth, que diz ser facilmente possível burlar o esquema de revista implantado pela segurança. "Se alguém quisesse entrar com uma arma, seria possível. Assim como é fácil sair daqui levando um notebook que não é seu." Depois dessa reclamação, o UOL Tecnologia testou e, por duas vezes, a repórter conseguiu sair do evento sem que tivesse a bolsa revistada.
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