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Mães mostram a filhas que tecnologia pode ser opção profissional a mulheres

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

11/03/2015 20h20

Conhecedora da hegemonia masculina na área de tecnologia, a vice-presidente da Totvs (empresa desenvolvedora de softwares de gestão), Marília Rocca, 42, decidiu levar as duas filhas --uma de cinco e a outra de nove anos-- para uma imersão no universo da programação.

As pequenas trocaram as bonecas pelo computador, mas não para jogar ou acessar redes sociais. Elas, pela primeira vez, aprenderam a resolver um problema diretamente relacionado às suas rotinas com a criação de um aplicativo. A atividade, que fez parte da programação da Semana da Mulher na Tecnologia, foi promovida pela FIAP (Faculdade de Informática e Administração Paulista).

"É uma oportunidade de elas conhecerem parte do meu trabalho e descobrirem se essa é a praia delas também", contou a mãe, que disse acreditar que a falta de estímulo às meninas contribui para a escassez de mulheres na área de tecnologia. "Foi criado um estigma de que meninas só brincam com bonecas, não com carrinhos."

Marcella Chaves Giannoni, a filha de nove anos da advogada Viviane Macedo, 39, se mostrou convicta ao falar sobre que carreira pretende seguir: "Quero ser engenheira química, mas estou amando programar", disse Marcella, que era uma das mais compenetradas nas explicações da expositora. A mãe resolveu levar a garota para a oficina ao notar sua curiosidade em saber como "é feita a tecnologia".

Para a embaixadora do Technovation Challenge Brasil --concurso que desafia garotas de Ensino Médio a criar aplicativos--, a desenvolvedora Camila Achutti, meninas e mulheres podem ser o que quiserem, inclusive programadoras. Segundo ela, desde que se formou em Ciências da Computação na USP (Universidade de São Paulo), sua principal missão tem sido atrair mais profissionais do sexo feminino para área mostrando na prática que "programar é muito legal". "Me senti sozinha durante toda a graduação. Não era a única matriculada durante o curso, mas fui a única a me formar", lamentou ela.

Segundo dados do Censo da Educação Superior 2013, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), as mulheres representam apenas 15% do número de formandos em cursos da área de ciências da computação --administração de redes, banco de dados, ciência da computação, tecnologia da informação e tecnologia de desenvolvimento de softwares. Naquele ano, 3.101 mulheres se formaram, contra 17.442 homens.

A estudante Juliana Flores Scagliarini, 18, pensa seriamente em substituir o direito por TI ou ciência da computação. "Fiz o primeiro ano de direito, mas não me identifiquei muito com a área", conta ela, que disse ter se interessado por tecnologia por ser um mercado promissor. Ela decidiu comparecer na oficina com a irmã de dez anos para ter um contato maior com a área e avaliar se seu interesse se resume a um hobby ou se pode se transformar em profissão.

"Me encantei bastante, mas pretendo me aprofundar um pouco mais antes de começar uma nova faculdade." Juliana disse não se assustar por se tratar de uma área dominada por homens. "Mostra que há uma carência de mulheres na área", acrescentou ela.

Essa carência é confirmada pela vice-presidente da Totvs, que disse que menos de 10% da equipe de desenvolvedores da empresa é formada por profissionais do sexo feminino. Antes de ocupar o cargo de gestão, Marília conta ter enfrentado alguns preconceitos durante sua caminhada profissional. O principal, segundo ela, foi quando se tornou mãe. "Muitas pessoas, inclusive mulheres, achacam que por ter filhas não seria capaz de produzir tantos, o que é uma grande inverdade." De uma maneira geral, no entanto, ela diz ter encontrado muito mais compressão do que preconceito. "Muitas pessoas apostaram em mim."