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Apple se abre "timidamente" para o sexo e para a nudez

Justin Sullivan/Getty Images/AFP
Imagem: Justin Sullivan/Getty Images/AFP

Damien Leloup

12/06/2015 06h00

É quase uma nova revolução (sexual). Na última segunda-feira (8), algo sem precedentes se passou durante a tradicional apresentação da Apple na WWDC (Worldwide Developers Conference), uma reunião de duas horas e meia na qual foi apresentado o serviço de música em streaming Apple Music.

No telão, diante da nata de desenvolvedores e dos jornalistas --sem esquecer das centenas de milhares de internautas--, apareceram... pessoas nuas. É claro, as pessoas em questão estavam "pixelizadas". A Apple não brinca com o respeito aos bons costumes.

Em todas as plataformas, os aplicativos de conteúdo pornográfico são proibidos e os nus são banidos --o aplicativo do tabloide britânico "The Sun", por exemplo, com sua célebre playmate nua na página 3, foi recusado pela revista de aplicativos da Apple. Mesmo os nus geralmente considerados como "artísticos" não estão a salvo, como foi o caso do videogame "Papers, Please" que recentemente foi censurado.

Mas a Apple durante um dos seus principais eventos foi bem além da simples presença de alegres ciclistas nudistas --sumariamente descritos como "a equipe de marketing da Apple com seu traje costumeiro da 'sexta-feira sem roupa de baixo'". O produtor Jimmy Iovine, que apresentava a Apple Music, chegou a fazer uma piada picante. Enquanto explicava que os algoritmos sozinhos são incapazes de compor playlists adaptadas ao que você sente em um determinado momento, ele deu o seguinte exemplo:

"A única pergunta que conta quando você ouve uma playlist é: 'qual vai ser a próxima música?' (...) Imagine: você está vivendo um momento especial (...), está fazendo exercício, por exemplo, ou qualquer outro momento especial (...), seu coração batendo forte, e a música seguinte chega e BIIIP,  é brochante."

Alguns risos nervosos entre a plateia. No Twitter, a incredulidade competia com o mal-estar. No entanto, durante essa conferência a Apple também soube estabelecer limites. Como a censura, inofensiva, no máximo uma pequena adaptação à realidade, feita no comecinho da apresentação.

Tim Cook, o diretor-executivo da Apple, contava uma anedota tirada de notícias recentes: Brandon Moss, o jogador da equipe de beisebol Cleveland Indians, alguns dias antes havia feito o centésimo homerun de sua carreira. Cook disse que entendia que o jogador quisesse guardar a tal bola como lembrança. Mas, por azar, esta foi pega por sua equipe, que decidiu lhe pedir um resgate em troca: uma imponente lista cheia de produtos da Apple. "Uma verdadeira lista de compras para a Apple Store", brincou ele, que a exibiu no telão.

Ou quase: a lista continha um elemento que não se encontra à venda nas lojas da maçã: "225 litros de lubrificante". Uma piada de vestiário que a Apple pura e simplesmente cortou da "lista de compras" – o que permitiu a Tim Cook afirmar que a Apple havia oferecido a lista inteira à equipe.

Então nem tudo mudou na relação da Apple com o sexo e a nudez, longe disso. Mas essa conferência marcou uma mudança --ainda tímida-- na relação da empresa com tudo aquilo que diz respeito, de perto ou de longe, ao sexo.

Uma das novidades do iOS9, o sistema operacional dos iPhones, será o acréscimo de uma ferramenta de acompanhamento das menstruações no aplicativo Healthkit. Uma função básica, que potencialmente atenderia metade da humanidade, e que é oferecida por vários aplicativos na App Store.

Mas até hoje ela não existia no Healthkit, que, no entanto, permite acompanhar vários outros dados de saúde, como a glicemia, o ritmo cardíaco, a hipertensão ou até mesmo o sono. Ainda mais inacreditável é o fato de que o iOS9 incluirá até uma ferramenta de acompanhamento de sua atividade sexual. De forma declarativa.

A atitude da Apple em relação à sexualidade é, muitas vezes, incompreensível. A empresa adota uma política extremamente pudica, que resulta em censuras absurdas, ao mesmo tempo em que opta por práticas bastante progressivas sobre a sexualidade. Tim Cook foi um dos primeiros diretores-executivos de uma grande empresa americana a revelar abertamente sua homossexualidade.

Além disso, a empresa é a favor do direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, e foi premiada por sua política de recursos humanos em matéria de combate às discriminações. Os cínicos poderão se consolar pensando: antes isso que o contrário.