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Tecnologia une casal de deficientes mesmo com mais de 1.000 km de distância

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

12/06/2015 13h32

Um mora em Taquarituba, no interior de São Paulo. O outro em Coxim, Mato Grosso do Sul. Ela sofreu uma paralisia do lado direito com apenas um ano de idade por causa de uma encefalite. Ele acabou em uma cadeira de rodas aos 23 anos após um acidente de automóvel e uma fratura na cervical. Mas, graças à tecnologia, os caminhos desses dois jovens se cruzaram mesmo diante dos 1.104 km de distância e das dificuldades de mobilidade.

Grace de Fátima Almeida, 29, e Leonardo Nunes Larroque, 34, se conheceram há mais de um ano em um grupo de deficientes criado no Facebook. Ele disse ter ficado encantado com o olhar da paulista e, ela, que tinha acabado de sair de um relacionamento, afirmou que buscava amigos para compartilhar experiências e para buscar motivação para continuar sua luta diária contra o preconceito aos cadeirantes.

"Ele me adicionou, começamos a conversar até que viramos bons amigos. Três meses depois fui surpreendida com o pedido de namoro", contou Grace. "A beleza dela me chamou atenção, no primeiro momento, mas, ao longo do tempo, pude perceber o quanto ela era especial", completou Larroque. E, surpreendendo as previsões dos pessimistas, o casal completa um ano e dois meses de namoro e comemora o segundo Dia dos Namorados.

A distância sempre fez parte desse relacionamento. O primeiro encontro pessoal só foi realizado há menos de um mês e "patrocinado" pelo Programa do Ratinho, exibido no SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). "Nós dois somos de família humilde e não temos condições de nos vermos com a frequência que gostaríamos. Sem contar que por causa da deficiência tudo acaba ficando mais difícil. Até porque nenhum de nós consegue sair de casa sozinho", afirmou Larroque, que diz recorrer à tecnologia para driblar essas barreiras.

A comunicação é feita diversas vezes por dia, seja por WhatsApp, Facebook ou telefone. Mas, para matar a saudade um do outro, a ferramenta mais recorrida é o Skype. "É bom demais a gente poder ver um ao outro", relatou o mato-grossense-do-sul. Até na surpresa do Dia dos Namorados ele recorreu ao comunicador instantâneo. "Ela disse que queria ganhar uns óculos de sol. Fui até a loja, mas fiquei bastante em dúvida. Entrei no Skype e pedi para que ela escolhesse o modelo, que já foi enviado para São Paulo via correspondência."

A paulista não esconde o desejo de poder ver o amado pessoalmente mais vezes e já faz plano de passar o final do ano em Mato Grosso do Sul. "Ele é bem mais bonito ao vivo", acrescentou ela, que diz não fazer muitos planos para o futuro. "Se for para ser, será. Ele gosta muito de mim e eu muito dele. Para Deus nada é impossível. Tem também a tecnologia a nosso favor."

Ainda em busca do namorado 
Personagem - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A analista de comunicação Ana Paula Toledo, 35, recorreu a internet para fugir do preconceito dos homens com mulheres com deficiência
Imagem: Arquivo Pessoal

A analista de comunicação Ana Paula Toledo, 35, que foi vítima de um erro médico no parto, também recorre à tecnologia para favorecer a sua vida amorosa. Ela não precisa usar cadeira de rodas para se locomover, basta uma simples bengala. Ainda assim diz preferir a internet à baladas e barzinhos.

"Há um grande preconceito, principalmente por parte masculina, de se relacionar com pessoas com deficiência. Já perdi as contas de quantas vezes ouvi: 'o que vão pensar se me verem ao seu lado' ou 'Você é bonita, mas...'. E aqueles que não falam, expressam esse repúdio com o olhar", relata ela, que afirmou ter encontrado nos aplicativos de namoro a oportunidade de se expressar melhor e dar a oportunidade para que os homens me conheçam melhor.

O Tinder --um dos mais populares apps de relacionamento do país-- não é a única plataforma utilizada por Ana Paula. Há inclusive o site "Amor Normal", focado especificamente para deficientes físicos. Com os recursos, a analista de comunicação conseguiu dois namoros. Um que durou apenas alguns meses, mas, segundo ela, foi o mais "intenso". O segundo chegou há dois anos.

"Teve um momento da vida que desacreditei de tudo e todos, até me afastei dos aplicativos. Mas, agora, resolvi voltar para tentar conhecer alguém legal. Ainda acredito na existência da exceção da exceção", contou ela, que faz questão de, sempre que possível, avisar sobre sua deficiência. "Já omiti a informação para esperar que a pessoa se sinta mais envolvida e de repente veja a deficiência como supérfluo. Mas não deu nada certo. Já fui deixada falando sozinha."

Na descrição de seu perfil, geralmente, Ana Paula escreve: "sou vítima de um erro médico e preciso usar bengala para me locomover. Mas, se você não tiver preconceito, poderá conhecer uma excelente pessoa. Caso contrário, estará desperdiçando uma ótima oportunidade."