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Celular com tela grande e crise econômica impõem queda a mercado de tablets

Galaxy Tab A, um dos lançamentos de tablets da Samsung em 2015 - Divulgação
Galaxy Tab A, um dos lançamentos de tablets da Samsung em 2015 Imagem: Divulgação

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

29/12/2015 06h00

No final de 2014, pouco antes do Natal, a consultoria IDC informava que as vendas de tablets no Brasil subiram 18% em comparação com o ano anterior. Em outubro deste ano, a mesma IDC afirmou que a venda de tablets no mundo caiu 12,6% no terceiro trimestre. Foi o quarto trimestre consecutivo de baixa.

E o Brasil acompanhou a tendência. As vendas devem recuar 29,5% este ano, pressionadas não só pela forte queda do real contra o dólar e pela crise econômica, mas também pela canibalização gerada por celulares inteligentes com telas grandes. Das grandes marcas mundiais, só três trouxeram novos modelos para o país neste ano: a Apple (iPad Pro, Air 2 e Mini 4), Lenovo (Yoga 2 Pro) e Samsung (Tabs S, A e E). Nada de vir o Xperia Z4 (Sony) ou o Pixel C (Google), por exemplo.

Na publicidade, as empresas mostram os novos smartphones com pompa, mas os anúncios desses novos tablets ficaram relegados à imprensa especializada em tecnologia. Diante disso, podemos concluir que 2015 foi o ano em que o mercado de tablets teve seu "estouro da bolha"?

Do '"boom" ao phablet

Para Pedro Hagge, analista de mercado da IDC Brasil, o "boom" ocorreu no Brasil principalmente no segmento de entrada, via marcas nacionais e componentes de origem chinesa, por ter sido por um tempo o dispositivo mais barato para se acessar a internet. "Pagava-se R$ 180, R$ 200 por um tablet e ele acabou subindo para uns R$ 300 hoje em dia. E com a crise econômica, os consumidores estão mais receosos".

Outros fatores apontados por Hagge são o crescimento dos phablets, os smartphones com telas acima de cinco polegadas --que "tem sido mais rápido que no resto do mundo"-- e a má qualidade dos primeiros modelos. "Os modelos melhores são da Samsung e Apple, onde o preço é mais caro. Isso acaba segmentando o perfil do usuário que pode ter um tablet".

No Brasil, o valor médio do tablet é de R$ 490, sendo que 74% deles custam até R$ 500. E os produtos mais vendidos são os de sete a oito polegadas (88% do volume). Para se ter uma ideia, atualmente temos cerca de 20 marcas atuantes, mas há um ano, eram 30, segundo a IDC Brasil.

"Uma grande quantidade de marcas menores, principalmente as asiáticas, invadiu o nosso mercado há uns anos, mas elas já não estão mais importando produtos. Haverá menos marcas mas em compensação a qualidade tende a ficar um pouco melhor", descreve o analista.

Computadores com tela touch

Outro fator que vem correndo por fora foi o surgimento de híbridos, os computadores com tela touch que se destacam e viram tablets. "Na área de serviços 'over the top' a gente observa um aumento no uso desses serviços no PC e notebook em relação a tablet. Além do celular com tela grande, as pessoas estão migrando aos poucos para os híbridos", diz Adalberto Leidenfrost, diretor executivo da consultoria Accenture na América Latina.

Pedro Hagge, da IDC, também vê os híbridos como uma nova fase desse setor. "É um formato que consegue atender bastante a quem produz e consome conteúdo, mas o preço no Brasil ainda é um inibidor. E os com preço agressivo deixam a desejar na parte técnica. Quando tiver combinação de preço baixo com hardware avançado, o mercado de híbridos vai decolar". Enquanto isso não acontece, o mercado sentirá esse "banho-maria" ainda por algum tempo.

Oliver Römerscheidt, diretor de negócios da consultoria GFK, discorda em parte dessa ideia. "Quando você fala em celular e tablet, fala em iOS e Android. O híbrido ainda pertence a um microcosmo do Windows, e os híbridos são notebooks com funcionalidades dos tablets. Para que serve um tablet? O consumidor se faz essa pergunta e muitos acharam que quem usa smartphone não precisa de tablet".

 

Banho-maria

O que será do mercado de tablets daqui para a frente? Questionadas pela reportagem, tanto as marcas --Microsoft, Samsung, Apple e LG-- quanto os grandes varejos --B2W (Submarino/Americanas), Grupo Pão de Açúcar (Casas Bahia/Ponto Frio) e Magazine Luiza-- disseram que não falariam a respeito do assunto.

Atualmente um fenômeno curioso é que o tablet vem sendo mais aceito entre o público infantil. "Como vendiam mais os tablets sem 3G e de 7 polegadas de tela, eles eram pouco mais do que brinquedos, então cresciam em vendas em outubro como presente para as crianças", destaca Römerscheidt.

"As grandes quedas no volume de venda de tablets já aconteceram. Acredito que, agora, esse mercado tende a se estabilizar com a diversificação para outros públicos, como o infantil, por exemplo", disse Reinaldo Paleari, gerente de produtos da Multilaser, uma das empresas nacionais mais atuantes no setor.

Paleari afirma que o varejo está apostando na diversificação de produtos para reagir à crise. "Os modelos de tablet para o público infantil estão com boas vendas". Ele também estima "mais cinco anos" de fôlego para esse segmento.

Mais tempo de troca

"A Samsung tem uma boa participação de mercado, muitas vezes briga pela liderança e tem um bom mix de produtos. O ciclo de vida do iPad é diferente do tablet superbarato. Quanto ao iPad, lá nos EUA a adoção foi muito forte e a renovação acaba acontecendo de forma mais lenta. No geral, o volume de vendas dos tablets deve diminuir, mas para as empresas que ficarem, as vendas tendem a ficar mais saudáveis e a competição poderá melhorar", conjectura Hagge.

E o que os consumidores dizem? Para o editor de cursos online e "macmaníaco" Zander Catta Preta, ainda faltam aos tablets de hoje mais autonomia e melhor nível de resposta na tela. "Ainda não vi o iPad Pro e a caneta dele, mas não são substitutos completos para a vida analógica", diz ele, que já foi dono de quatro iPads.

Portador de um Nexus 7, da Google, o médico Fábio Lopes não acha que a evolução do tablet chegou a um teto, mas que a curva de avanço está mais horizontalizada. Ele gostaria que o desempenho dos modelos chegasse ao nível dos melhores PCs. "Pra mim, o próximo passo é algo como o Surface, com um sistema operacional completo que conseguisse fazer tudo que faz um computador ou um notebook, que rodasse todos os jogos de última geração". Basta saber se os preços vão ficar acessíveis.