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Sem exageros: saiba como usar apps para crianças de forma positiva

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Imagem: Getty Images

Fabio Andrighetto

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/01/2016 06h00

A família se encanta ao ver o seu mais novo membro deslizar com desenvoltura os dedinhos em telas sensíveis ao toque. Não demora muito para alguém comentar que as crianças de hoje já nasceram adaptadas às novas tecnologias ou que se tratam de verdadeiros gênios. Mas para elas, saber usar não significa estar pronto para isso, ou que tenham discernimento para escolher o conteúdo.

O uso indiscriminado de celulares e tablets pode comprometer o crescimento intelectual e motor de crianças e adolescentes. Em 2014, a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria divulgaram uma pesquisa que condenava o uso de tablets e smartphones por crianças com até dois anos. Entre três e cinco anos, a exposição à tecnologia deveria se limitar a uma hora por dia e duas horas até os 18 anos.

Segundo o estudo, crianças que usavam aparelhos digitais apresentaram déficit de atenção, obesidade, problemas de sono, agressividade, demência e dependência. Se seu filho não morar em uma caverna, ele estará exposto diariamente aos aparelhos móveis, dentro e fora de casa. Então, é melhor limitar o tempo em frente às telas e escolher bem o aplicativo que ele usa.

"Muito embora sejam atraentes e, desde muito cedo, exista um interesse pelos aparelhos eletrônicos, quanto mais tarde as crianças puderem usá-los, melhor", diz a psicopedagoga Sandra Lia em entrevista ao UOL. "Os pais devem ficar atentos e selecionar e oferecer jogos com atividades adequadas à faixa etária de seus filhos, propostas que estimulem a percepção, a concentração e o raciocínio lógico na resolução de problemas".

Lia, presidente da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia) seção São Paulo, lembra que jogos violentos devem ser evitados, mesmo que a criança receba estímulo dos amigos. "O melhor caminho é o diálogo para aprofundar o entendimento pela escolha. Deve-se apontar os significados do jogo tanto na vida dele, como na história das pessoas na vida real".

Segundo a psicopedagoga Rebeca Lescher, que trabalha com jogos eletrônicos desde 2006, o ideal é escolher aplicativos que estimulem o aumento de vocabulário, a atenção, a concentração e a memória, além de desafios de lógica e de construção e quizzes. "Aconselho os pais a limitarem horários, pois deve haver hora para estudo, brincadeiras ao ar livre, esportes e artes. E, principalmente, para o ócio, onde a brincadeira pode surgir espontaneamente".

"Ficar simplesmente jogando, sem pausa, pode empobrecer o convívio com outras crianças", diz Lescher. "Também recomendo evitar que usem na hora das refeições, pois é importante que a família possa conversar entre si".

Lia e Lescher concordam que é difícil, se não impossível, manter os pequenos longe da tecnologia. É necessário, porém, a supervisão dos pais e que o uso desses aparelhos não seja desculpa para aquietar os filhos em determinadas situações.

"Existe o lado perverso deste avanço tecnológico de entretenimento", conta Lescher. "Quando você não consegue mais a atenção de seu aluno/filho/amigo/namorado/marido, pois não conseguem deixar de olhar para seu celular, nem por um segundo".