Android novo é privilégio de quem tem celular lançamento ou top de linha
Se você é dono de um smartphone ou tablet com Android deve saber que uma das maiores decepções com o sistema operacional é a demora para atualizá-lo para a versão mais recente. Lançada em outubro do ano passado, a versão mais recente é a 6.0, a Marshmallow, mas a versão anterior, a Lollipop (5.0 e 5.1), é a mais usada no mundo atualmente.
A Lollipop, que representa 36,1% do mercado, só obteve esse posto agora, 16 meses após o seu lançamento. Já a porcentagem de aparelhos com Marshmallow é de míseros 2,3%. Ainda que esse número deva crescer --já que as fabricantes ainda estão atualizando seus modelos--, a responsabilidade da lentidão da liberação dos upgrades não é exclusiva do Google, mas de um processo que envolve as fabricantes e até mesmo as operadoras.
Um esforço que sempre parece estar defasado -- uma nova versão do Android, chamada provisoriamente de N, já está em teste para desenvolvedores e deve ser lançada provavelmente no segundo semestre.
Cada versão nova resolve questões importantes de segurança e performance, além de trazer recursos novos. O Marshmallow, por exemplo, vem com o Now on Tap --que melhora o assistente pessoal Google Now--, pagamento com impressão digital e um modo de economia de energia avançado, entre outros.
As fabricantes, via de regra, adotam a seguinte postura nesse assunto: atualizam para o último sistema operacional apenas os aparelhos top de linha e, com sorte, alguns da linha intermediária. Celulares de entrada, nem pensar. E os poucos que ganham o Android novo acabam esperando meses para receber a atualização. O tempo varia de acordo com o país em que o modelo foi lançado.
Também ocorre que aparelhos mais novos acabam "furando a fila" e já saem de fábrica com o Android novo. Em 2016, os exemplos são os recém-lançados Galaxy S7 e S7 edge, da Samsung. O G5, top de linha da LG, deve chegar às lojas em abril e também virá com o Android 6.0.
A Motorola foge um pouco à regra por ter um sistema mais "puro" e atualiza quase toda sua linha de aparelhos com o Android 6.0. Não receberam o novo sistema alguns modelos do Moto E com 8 GB de memória interna, que não aguentaria rodar o sistema, e o Moto Maxx, lançado em 2014 --- mas a empresa diz que está trabalhando na atualização.
Anatomia de um sistema
Os fatores que influenciam na demora da atualização são muitos. A maioria deles é de ordem técnica, pois existem muitas etapas para que eles cheguem até os donos de um aparelho com Android.
Logo depois do anúncio de um novo Android, o código fonte do sistema é enviado para avaliação de fabricantes de chips e de celulares. Eles vão ver quais processadores e aparelhos de sua linha têm a capacidade mínima para rodar o sistema. Depois cada fabricante faz as devidas personalizações no sistema, incluindo recursos próprios e às vezes mudando parte da identidade visual. O resultado desse Android adaptado é chamado de "skin".
Outra etapa importante passa pelos aparelhos bloqueados para funcionar em uma operadora de telefonia, que precisam fazer adaptações para seus aparelhos. São incorporadas mais mudanças para que as bandas de telefonia funcionem bem no sistema.
É comum que os celulares desbloqueados sejam atualizados antes dos que foram comprados sob contrato com operadoras. Não apenas pela questão dos testes, mas porque alguns apps que vêm de fábrica (e que não podem ser deletados) são de propriedade da empresa de telefonia e talvez precisem ser atualizados para não causar conflitos no sistema novo. É o que ouviu a reportagem ao questionar TIM, Claro, Vivo e Oi sobre o assunto, dividindo por vezes essa "culpa" com as fabricantes.
"Os aplicativos próprios das operadoras demandam o desenvolvimento, pelo fabricante do celular, de uma versão de software específica. Faz parte desse processo realizar testes para validar as atualizações, buscando garantir o funcionamento ideal dos devices e manter a qualidade de conexão com a rede", disse a resposta oficial da TIM. "Cada fabricante opera com uma regra específica para as atualizações. O período para que o release chegue ao cliente depende do intervalo no qual as novas versões são adequadas aos diversos modelos de aparelho", disse a Vivo.
Após a etapa das operadoras, são realizados testes; se erros forem achados, eles voltam à fase de alterações. Estando tudo certo, a fase seguinte é a de certificação com entidades regulatórias de cada país e com o próprio Google. Se aprovadas, o passo final é enviar a atualização "over the air" (via wi-fi no próprio Android) ou por meio de programas de gerenciamento da própria fabricante.
Dinheiro também influencia?
Razões comerciais também podem fazer diferença. É o que diz Van L. Baker, consultor do Gartner especializado no mercado móvel: ele acredita que não é vantajoso para fabricantes e operadoras avançar na corrida pela atualização porque não é algo vantajoso para eles.
"No lançamento de sistema, a fabricante tem que tomar a decisão de se quer fazer isso. Eles precisarão fazer mudanças em suas skins, submeter isso às operadoras, que têm seus próprios processos e precisam checar se estão confortáveis a lançar isso em seus dispositivos. Esse processo vai contra os interesses das operadoras ou das fabricantes porque em vez de atualizar os celulares que você tem, elas vão querer que você compre um novo aparelho", diz.
Ele também cita a instabilidade do sistema Android como outro fator complicador do processo. "A maioria dos usuários de Android que tentam usar as novas versões encontra algum problema nele. É muito raro que uma nova versão funcione bem em todos os dispositivos", argumenta.
As fabricantes, por sua vez, dizem que fazem o que podem para atualizar o mais rápido possível o maior número de dispositivos, embora seja muito difícil encontrar nos seus respectivos sites informações sobre que modelos têm ou terão atualizações.
A Motorola defende sua postura de usar o Android sem muita interferência da fabricante como um fator importante para avançar nesse quesito das atualizações. E quando acrescentam coisas, é para tentar trazer diferenciais para os usuários. "O Moto X foi primeiro produto a trazer comandos de voz sem tocar no aparelho, e esse recurso foi melhorando independente do upgrade do Android. A câmera do Moto G evoluiu bastante também", diz Renato Arradi, gerente de produtos Motorola.
Outras fabricantes ouvidas apontam as operadoras como coautoras da demora. "Assim como os fabricantes, que testam as atualizações em seus produtos, as operadoras também têm um processo de homologação para garantir o funcionamento perfeito em sua própria rede. A Sony preza muito pela experiência de usuário, e por este motivo a marca só libera a atualização de Android quando estiver 100% satisfeita com o resultado", diz o comunicado da Sony enviado ao UOL.
A LG vai na mesma linha. "Este processo depende não apenas da liberação da LG, mas também de uma adequação por parte das operadoras. A LG é uma das empresas que mais se preocupam com atualização do sistema operacional dos smartphones e se preocupa em realizar um processo no qual garanta máxima qualidade de atualização do software para uma experiência premium dos nossos consumidores".
Procuradas, a Samsung e o Google não responderam à reportagem.
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