Pulseira da Olimpíada paga ao encostar na máquina, mas rede é restrita
A Visa e o Bradesco estão aproveitando os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em agosto, para lançar uma pulseira que usa a tecnologia Near Field Communication (NFC) como meio de compras em terminais em cartão de crédito. Basta aproximá-la de uma maquininha compatível e o pagamento é efetivado. Segundo o Bradesco, serão distribuídas 3 mil pulseiras para "influenciadores", funcionários das empresas envolvidas e atletas brasileiros.
A pulseira foi anunciada pelas duas empresas como um wearable (vestível), segmento que ainda está em fase inicial e que tem nos relógios inteligentes seus principais representantes atuais. O conceito é que os vestíveis facilitem mais nossas vidas ao incorporar funções hoje realizadas pelo celular, computador ou outras tecnologias.
Mas os próprios smartwatches ainda são caros demais e dependem excessivamente da conectividade do smartphone. Por não trazer muitos benefícios para o cotidiano além dos recursos fitness, eles são um supérfluo de luxo até o momento.
Em paralelo, outra tendência em crescimento é a dos sistemas de pagamentos móveis, que consistem do usuário usar como "carteira" um smartphone ou smartwatch dotado da tecnologia NFC. Consiste em encostar o aparelho perto de um terminal de compras e pronto: conta paga. Estão investindo nessa a Samsung, Apple e Google, com os respectivos Apple Pay, Android Pay e Samsung Pay --este último foi anunciado para o Brasil neste mês.
A pulseira parece ser um experimento para sentir a aceitação do público sobre essa nova forma de pagamentos, pois muitas dúvidas ainda pairam sobre esses conceitos. Será fácil pagar dessa forma? E a segurança? O produto é resistente? E o preço?
Rede limitada
A Pulseira Bradesco Visa é feita de borracha e possui um bolsinho na parte traseira para colocar uma pequena placa de plástico que contém o chip NFC. É ele que contém o crédito usado nas compras do usuário. Pagamentos com valor abaixo de R$ 50 não necessitam do uso da senha; para os acima de R$ 50, é só digitar a senha na maquininha, como em um cartão convencional.
Para liberar o uso da pulseira e colocar mais créditos, é preciso se cadastrar no site ou no app dedicado ao vestível, que pode ser baixado em dispositivos com iOS ou Android. Percival Jatobá, vice-presidente de produtos da Visa do Brasil, afirma que pelo menos 2,3 milhões de terminais de cartão aceitam NFC no Brasil, sendo principalmente das empresas Cielo ou Rede.
Pode parecer muito, mas por enquanto não é. No teste do UOL, as duas primeiras tentativas para se pagar almoços com a pulseira não foram concretizadas. Os estabelecimentos estavam na região da avenida Brigadeiro Faria Lima, uma das mais ativas comercialmente de São Paulo. E eram da Cielo; ou seja, nem todas as máquinas dessa empresa possuem compatibilidade com o NFC.
A compra foi bem sucedida na terceira tentativa em uma máquina Cielo na praça de alimentação em um shopping na avenida Paulista. Desta vez, funcionou sem problemas. "Temos um pequeno número que está usando ainda, se comparado com quem usa cartão de plástico", justifica Jatobá.
A pulseira se mostrou confortável no pulso e teoricamente não enfrentará problemas relacionados à ação do tempo, pois segundo a Visa, ela é resistente ao suor e à água doce e salgada.
Como as primeiras pulseiras serão distribuídas, o preço final e datas de lançamento oficial desse produto no Brasil ainda são incógnitas. A Visa e a Bradesco esperam receber os resultados dessa experiência no Rio para avaliar quando, ou se, lançarão a pulseira no país. Mas provavelmente não sairia barato para o usuário, pois implementar essa tecnologia "contacless" (sem contato) em larga escala ainda é proibitivo para os bancos e operadoras de cartão.
Já o fato de exigir senha em compras acima de R$ 50 é uma espécie de trava para impedir grandes prejuízos ao usuário em caso de perda ou roubo. No entanto, cria um paradoxo: dessa forma, um dispositivo feito para facilitar compras acaba ficando com uso tão "difícil" quanto um cartão de crédito comum.
"Não é a melhor experiência possível [usar senha em compras grandes], mas é a mais segura. A gente tem que dosar entre a experiência do usuário e as melhores práticas do ponto de vista da segurança. Com mais experiências nesse tipo de pagamento, a indústria vai refinar esses produtos", acredita Jatobá.
Técnica é segura, dizem analistas
Especialistas em segurança digital creem que as tecnologias que funcionam por aproximação são uma tendência inevitável. Em janeiro deste ano, Evgeny Chereshnev, vice-presidente de marketing da Kaspersky Lab, ministrou uma palestra na Campus Party, em São Paulo, na qual explicou os motivos de ter implantado um chip NFC nas costas da mão direita para estudar melhor o tema.
"Vai substituir todas as senhas, pois 99% delas não são seguras porque foram inventadas para máquinas. E para estas é mais seguro haver números e letras aleatórias. No estado atual, você precisa de senhas com 16 caracteres ou mais. Acho que o chip é uma forma de não precisarmos mais disso, mas não a única", afirmou Chereshnev, favorável à ideia.
Honza Zika, Analista de Malware da Avast, concorda com o executivo da Kaspersky. "Sistemas de pagamento 'contactless' já estão no mercado há algum tempo, e não tem havido relatos de um hack bem sucedido que poderia indicar uma vulnerabilidade ou modo de clonar, fraudar ou desabilitar o chip. Também é bastante improvável que um hacker invada o aplicativo. Para isso, ele terá de conseguir a pulseira, e também as credenciais de login do usuário para o app".
Marco DeMello, CEO da empresa brasileira de segurança PSafe, ressalta que ainda há culturalmente um receio dos brasileiros para usar esse recurso.
"Muitas pessoas vieram ter o primeiro contato com o mundo virtual por meio do celular e ainda há um certo desconhecimento do que é seguro ou não. Mas as regras que valiam para a web valem também para o mundo mobile, ou seja, celulares e tablets são seguros para realizar qualquer transação desde que o usuário tenha um antivírus instalado no celular", afirma Marco.
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