Homens e mulheres agem no Tinder como na vida real?
João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João teve 5 mil matches no Tinder, Teresa já teve sete encontros, Raimundo desistiu dos aplicativos de paquera, Maria já saiu e voltou deles umas dez vezes, Joaquim está namorando alguém que conheceu online.
A paródia da famosa poesia “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade, mostra o amor nos tempos de Tinder e outros aplicativos de paquera. Afinal, eles são a solução? Uma pesquisa do Reino Unido indica que nem tanto. De acordo com especialistas, falta reciprocidade e sobra frustração nesses apps.
Na pesquisa que envolveu universidades da Inglaterra, Itália e Canadá, foram criados 14 perfis falsos, masculinos e femininos, que automaticamente gostavam de todo mundo dentro de uma distância delimitada de Londres. Em seguida, eles mensuraram a porcentagem de matches (quando a outra pessoa também gosta do perfil do pretendente) e de mensagens recebidas (a valiosa quebra do gelo).
Constatou-se que os perfis masculinos recebem pouca atenção (cerca de 0,6% de combinações). Já os perfis femininos se mostraram mais populares (com 10% de reciprocidade). O estudo também identificou que perfis de mulheres enviam mais mensagens (21% dos casos matches) que os de homens (7%).
Comportamento diferente entre homens e mulheres
Os números mostram um comportamento diferente de homens e mulheres. Ao que parece, os homens curtem os perfis indiscriminadamente. Enquanto as mulheres são mais seletivas - e talvez por isso, partam logo para a conversa quando há reciprocidade. No geral, parece que os comportamentos se reforçam: sobrecarregadas, as mulheres tendem a selecionar mais, e os homens, angustiados pela falta de reciprocidade, tendem a ser menos criteriosos.
Para Andréa Jotta, psicóloga do NPPI (Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática) da PUC-SP, a diferença de comportamento entre homens e mulheres está relacionada a questões culturais, tanto online quanto offline. Mas ela concorda que os relacionamentos virtuais levam a uma mudança no comportamento. “O desafio é conseguir filtrar, desse mar, alguém com quem dar um passo à frente, separar o joio do trigo”.
A psicóloga diz que os adolescentes estão mais habituados aos relacionamentos virtuais, por isso podem demonstrar maior maturidade no uso dos aplicativos do que pessoas mais velhas. “Os mais novos testam mais antes de se envolver. Acabam entendendo que o papo reto é que funciona. ‘Minha expectativa é essa. Combina? Então ok. Não combina? Bola para frente'", afirma.
Excesso de opções gera frustração?
Jotta acredita que as pessoas se frustram mais nesses apps porque criam expectativas grandes que não se verificam na prática. “Ficamos presos às fantasias. Se a realidade é contrária, vem a frustração”, diz. O fato de só visualizarmos imagens e uma curta descrição dos pretendentes não ajuda. “Não há cheiro, não vemos o jeito da pessoa, acabamos criando imaginativamente. É inerente à ferramenta”, afirma a psicóloga.
O sentimento de fracasso, que também existe nos ambientes presenciais de paquera, pode ser mais frequente, já que os aplicativos invariavelmente nos colocam em contato com muito mais pessoas” Jotta
A realidade parece distorcida ainda por vermos apenas quem estamos paquerando, não os concorrentes. Paulo Silvestre, especialista em mídias sociais, lembra que essas ferramentas aumentam o número de pretendentes, mas também aumentam a concorrência. Assim, o grande volume de pessoas também faz diminuir a chance de se conseguir um match ou se receber uma mensagem.
O Tinder tem mais de 10 milhões de usuários no Brasil. O concorrente Happn alcança cerca de 1 milhão de usuários só em São Paulo.
Chave do sucesso
A melhor estratégia parece ser mesmo aquela em que se arrisca para todos os lados, até encontrar um match que queira ir além de um “oi”. Assim, seria inteligente tentar primeiro o máximo número de matches para depois ir refinando as apostas e contatos.
Mas por que alguns se dão tão melhor do que outros? Para os especialistas, esses usuários “winners” (vencedores, em inglês) existem, mas são a minoria na rede. O sucesso na rede depende de uma conjugação de fatores, como aparência, linguagem e a forma como a pessoa interage -- o que não necessariamente se repete fora dela.
Há uma sabedoria de uso desses aplicativos, do mesmo jeito que há com jogos. O winner é aquele que sabe decifrar melhor a ferramenta. Ele fala melhor, sabe tirar as fotos certas, sabe o que responder. Gosta das interações virtuais e já treinou muito” Jotta
Um risco para quem lida com pessoas do tipo é estar diante de um “catfisher” (fisgador, em inglês). São pessoas que criam perfis falsos com objetivo de seduzir. Na internet, elas conseguem manter dezenas de relacionamentos ao mesmo tempo, às vezes por longo período. “O fisgado, contudo, acaba se apaixonando e se decepcionando no final”, adverte Jotta.
Mas vamos lembrar que mesmo aqueles que não são sucesso no aplicativo também podem se dar bem. “Não necessariamente os populares é que são felizes. Às vezes, é aquele que interage com 1% que vai ser mais correspondido”, diz Jotta.
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