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Celular, hoverboard e fone: devemos temer mais explosões de eletrônicos?

Rosto e mão de passageira foram queimados por fone de ouvido -
Rosto e mão de passageira foram queimados por fone de ouvido

Gabriel Francisco Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

17/03/2017 04h00

Já tivemos vários casos de celulares, notebooks hoverboards (espécie de skate elétrico) explosivos. Agora foi a vez de um fone de ouvido pegar fogo e queimar uma passageira que dormia durante um voo entre Pequim (China) e Melbourne (Austrália). O que nos leva a perguntar: estamos todos expostos ao risco de nossos equipamentos explodirem?

Não sabemos muitos detalhes sobre o caso do fone, ocorrido no dia 19 de fevereiro e divulgado agora, o que dificulta o entendimento do problema. Não foi revelada a marca e o tipo de fone, por exemplo. Mesmo assim, é possível tirar algumas conclusões.

Segundo o professor Antonio Carlos Gianoto, do departamento de engenharia elétrica da FEI, podemos afirmar que era um aparelho sem fio, carregado com bateria de ion-lítio. "Provavelmente era um fone de segunda linha, com bateria de segunda linha", diz ele. "Deve ter sido ela que explodiu." 

A chance de uma bateria de qualidade inferior explodir é grande, avalia o professor. "Ela explode por superaquecimento, embora o consumo para fazer um fone funcionar seja pequeno. A segunda hipótese é de que a australiana teve azar, pegou uma bateria com defeito e que entrou em degradação", conta Gianoto. 

Celular Galaxy Note 7, da Samsung, pega fogo mesmo após reparos - Brian Green - Brian Green
Galaxy Note 7, da Samsung, foi caso mais célebre de explosão de eletrônicos
Imagem: Brian Green

O problema na bateria também é apontado por outro especialista. João Carlos Lopes Fernandes, professor de engenharia elétrica do Instituto Mauá de Tecnologia, vê uma possibilidade grande de um curto-circuito no equipamento. 

A bateria deve ter fundido ou entrado em curto. Tem um circuito eletrônico que faz a conexão com outro aparelho e ali tem os componentes eletrônicos, a única coisa que poderia explodir é a bateria." 

Baterias perigosas ou paranoia?

Embora haja um componente em comum em parte dos casos - a bateria de íon-lítio -, Gianoto defende que são exceções. "A exposição para o fabricante é muito grande e negativa, não vejo como uma tendência os produtos eletrônicos darem defeito. Acredito que a garota teve azar", disse. 

Esse tipo de bateria, constituída por uma única célula de íon-lítio, que é recarregável, é usada em smartphones, laptops e muitos outros eletrônicos de nosso cotidiano. Ela começou a ser vendida comercialmente em 1991 pela Sony e, ao longo dos anos, tornou-se a mais utilizada para dispositivos eletrônicos portáteis.

Além do aumento da vida útil se comparada às pilhas de níquel (pode durar mais de 20 anos), se destaca pela baixa condutividade elétrica e pela redução drástica de tamanho e peso em relação aos antigos modelos.

Por tudo isso, o professor Lopes Fernandes avalia ser "normal" a existência de casos como os recentes. "O que está acontecendo é o aumento da quantidade de equipamentos [com este modelo de bateria]", diz.

"Como aumentou bastante, o controle de qualidade falha. Estes casos que aparecem podem ser também de desgaste de equipamentos. Vejo como normal, como acontece com carro que faz recall", afirma. "É necessário utilizar com cuidado, mas eu conheço pouquíssimas pessoas que tiveram problema."

A palavra é cuidado especialmente porque, no curto prazo, não há uma alternativa para as baterias de íon-lítio. Atualmente existem outros materiais sendo testados, mas os dois especialistas dizem que a tecnologia das atuais baterias é antiga e segura. Problemas podem acontecer com qualquer tipo de eletrônico, mas são pontos fora da curva, defendem.

"O aquecimento ocorre quando o usuário está jogando ou falando ao telefone por longos espaços de tempo, pois para suprir está demanda a bateria começa a aquecer para fornecer a energia necessária. O fato de o celular esquentar não é razão para preocupação; eles são projetados para trabalhar dessa maneira. Mas se o aquecimento é excessivo, fique atento. Uma bateria aquece aproximadamente até 135 ºC, mais do que isso ela pode explodir", explica Lopes Fernandes.

Proibição em aviões

Embora os hoverboards tinham sido proibidos em voos, a chance de as companhias aéreas estenderem a proibição a mais tipos de eletrônicos é mínima. Os dispositivos com baterias estão presentes na vida de todos.

"A maioria das pessoas que fazem voos longos precisa usar o celular no modo avião ou conectar fone para ver os filmes que a companhia oferece. Muitas pessoas trabalham durante o voo. Pode acontecer, mas acho difícil as companhias fazerem isso. Isso pode levar a pessoa optar por outra companhia que deixe levar o notebook", opinou Lopes Fernandes. 

Dá para reduzir o risco?

Depois do escândalo do ano passado, quando celulares da linha Galaxy Note 7 explodiram de forma recorrente e fizeram a Samsung recolher todos os aparelhos, um relatório informou que a causa das explosões era um problema na bateria. A Apple, grande rival da Samsung, também conviveu com relatos de explosões do iPhone 6 Plus

Claro, problemas podem acontecer também com marcas renomadas. Por isso, além dos cuidados com aparelhos e acessórios de segunda linha, os consumidores devem prestar atenção no uso correto de produtos originais.

Segundo os especialistas, é responsabilidade do usuário utilizar os produtos de acordo com as normas – e com acessórios originais ou homologados.

O professor da Mauá, no entanto, reforça que os problemas mais recorrentes são com aparelhos que tenham acessórios (como carregadores e fios) que não têm aval técnico. 

Há entidades internacionais de certificação de produtos, como a UL e IEEE, que estabelecem exaustivos requisitos de segurança para as baterias de íon-lítio.

No Brasil, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) regulamentou a Resolução 481, que define os procedimentos de ensaios e os requisitos de segurança e desempenho elétrico que as baterias de celulares devem atender. São avaliados a retenção de carga (auto-descarga); a recuperação da capacidade após estocagem em estado parcial de carga; o desempenho frente a ciclos de carga e descarga (durabilidade); e a carga prolongada. Todas as baterias utilizadas nos celulares no Brasil, sem exceção, devem ser submetidas a esse processo.

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