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Apps que devolvem dinheiro funcionam? Tem gente ganhando mais de R$ 200

Você pode estar perdendo a chance de recuperar dinheiro com suas compras - Getty Images/iStockphoto
Você pode estar perdendo a chance de recuperar dinheiro com suas compras Imagem: Getty Images/iStockphoto

Gabriel Francisco Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

21/07/2017 04h00Atualizada em 19/05/2021 23h02

Em tempos de crise, qualquer centavo a mais é um belo lucro. Talvez seja por causa desse pensamento, aliado a iniciativas interessantes de empresas brasileiras, que aplicativos que promovem "cashback" se difundem cada vez mais pelo Brasil. A moda já atinge tanto comerciantes quanto consumidores - alguns já chegaram a ganhar mais de R$ 200.

O "cashback" funciona basicamente da seguinte forma: a cada compra que o usuário faz em um parceiro do sistema, recebe uma porcentagem do dinheiro de volta. Por exemplo: se você comprar uma geladeira de R$ 1.000 em um varejista parceiro que ofereça 5% de cashback, terá de volta R$ 50. No Brasil, os dois aplicativos que mais têm feito sucesso são o Méliuz e o BeBlue.

Dinheiro na sua conta

O Méliuz surgiu de experiências frustrantes dos seus fundadores com programas de pontos, comumente realizados por operadoras de cartão de crédito. Entre os aplicativos, se destaca para os consumidores por uma simples razão: deixa o usuário fazer o que quiser com o dinheiro que recebe de volta, com o depósito em conta do valor. E de onde vem esse dinheiro?

"O dinheiro vem do parceiro como se fosse uma verba de marketing. A diferença é que quando ele paga uma empresa de outdoor, fica só com a empresa. Quando vem para o Méliuz, pagam a divulgação e também o usuário. O Méliuz ganha uma porcentagem da venda realizada, o parceiro ganha a venda e o usuário ganha um retorno,", explica Lucas Marques, diretor de operações da companhia.

Em seu site, o Méliuz conta com uma grande lista de lojas e algumas poderosas como Casas Bahia, Riachuelo, Submarino, Americanas, Amazon e Walmart, cada uma com uma porcentagem de "cashback". Basta o usuário fazer um cadastro na página e, quando for fazer uma compra, ir para o site varejista clicando em um link no site do Méliuz. O dinheiro retornado volta após um tempo e o usuário pode sacar a partir de R$ 20.

Tudo isso parece bonito para o usuário, mas e para a empresa? Segundo Othon Vela, diretor de marketing da Via Varejo (que comanda a Casas Bahia e o Pontofrio), a plataforma traz um novo modelo de vendas para o mercado. E as empresas ainda ganham com dados de hábitos de consumo dos usuários - o Méliuz diz repassar apenas informações gerais sobre os usuários, mantendo o anonimato.

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Apps de cashback começam a ganhar mais popularidade
Imagem: Getty Images/iStockphoto

"Conseguimos dados muito pontuais e necessários para as nossas estratégias, tais como número de cliques, taxas de conversão, perfil demográfico, lojas mais acessadas e mapa geográfico, entre outras informações", relata Othon.

Inicialmente, o Méliuz servia apenas nos meios digitais. Agora já funciona também em lojas físicas, nas quais o usuário tem que solicitar o pagamento pela máquina da companhia para o desconto ser ativado. A experiência em lojas físicas começou no ano passado e já atinge 50 cidades, segundo a companhia. Ao todo, o Méliuz diz já ter devolvido R$ 29,5 milhões aos usuários e gerado R$ 1,4 bilhão em vendas.

Dinheiro no app

Outro app de "cashback", o Beblue funciona de maneira que pode ser menos atrativa para os consumidores, mas que ganha pontos com comerciantes. Ao contrário do seu concorrente, a plataforma não permite o saque do dinheiro retornado. Os valores permanecem dentro do aplicativo como créditos para o usuário utilizar em qualquer loja parceira.

O Beblue ainda funciona também somente em lojas físicas. De resto, o sistema é parecido. O usuário baixa o aplicativo, faz o cadastro e, na hora da compra, informa seu CPF e paga com a máquina específica da empresa. Depois, a porcentagem do cashback é disponibilizada dentro do app e o usuário pode pagar outros consumos com esses créditos. E por que o usuário não pode sacar a grana?

"É aí que está a sustentabilidade do negócio. Ele só se sustenta se for bom para o usuário, para o BeBlue e para os estabelecimentos. Se você não limita a esse ecossistema, não gera valor para o comércio. O dinheiro tem que voltar para o comerciante", alega Daniel Abbud, CEO e sócio-fundador do BeBlue. O Méliuz discorda e diz que o modelo mais popular fora do Brasil é o que fornece a liberdade ao usuário.

A estratégia do Beblue funciona, claro, se há uma gama grande de lojas em que o usuário possa voltar para utilizar os créditos. Segundo Abbud, a plataforma ganha 2.500 novos estabelecimentos comerciais por mês e está presente em 17 cidades - recentemente, passou a operar no Rio de Janeiro e São Paulo.

Na capital paulista, já ganha adeptos. A publicitária Camilla Mikui relata que descobriu o Beblue por causa de um frentista de um posto de gasolina que sempre frequenta - no dia, o estabelecimento oferecia promoção de 50% de cashback. Agora, até mudou seu hábito de consumo e passou a ter ganhos expressivos.

"Agora procuro estabelecimentos do Beblue para economizar, principalmente em almoço no fim de semana. Pesquiso para ver se tem desconto. Já consegui mais de R$ 200, gasolina é o que mais dá. Normalmente vou acumulando e escolho um lugar que valha a pena gastar o saldo", conta.

O Beblue diz fazer mais de 2,5 milhões de transações por mês pela plataforma. Os apps funcionam com opção de débito e crédito e há negociações para aceitar bandeiras de refeições. Assim como o Méliuz, o app também passa informações de hábitos de consumo dos usuários.

"A gente consegue fazer análise preditiva de consumo, trabalhamos com inteligência artificial para entender qual o tipo de consumo do usuário. Todas essas informações são disponibilizadas para o comerciante por meio de um portal. A gente não revela informações cadastrais dos clientes, agrupamos no portal. Você é só um número na plataforma", afirma Abbud.

Medo de virar "Black Fraude"

Para Lucas Marques, do Méliuz, o cashback surgiu como uma resposta à perda de valor de descontos em lojas. A ideia do desconto, em sua análise, está fatigada e não atrai mais consumidores. Um caso citado é o da Black Friday.

"O desconto está desvalorizado. É uma tendência lá fora e que deve seguir no Brasil de menos descontos e mais cashbacks. Também temos medo de que banalize os cashbacks. A própria Black Friday é um exemplo para que não aconteça. Quando a gente negocia com parceiros um cashback especial já definimos o preço com ele. Vemos que o preço está 80 e o preço tem que ser esse. Se isso não é cumprido, tiramos do ar a ação", conta.

Já para Abud, do BeBlue, há um claro desejo do consumidor ser recompensado de alguma forma por seus gastos. Isso já era notado com consumos exclusivamente no cartão de crédito para juntar pontos.

"Hoje o consumidor é muito ávido por recompensa. As pessoas costumam deixar o consumo no cartão para buscar recompensa. Quando uma marca se vincula ao BeBlue para devolver recompensa ao usuário, se torna um benefício. Por exemplo, eu vou no posto A que tem recompensa ou no posto B que não me dá nada? Isso pesa", opina.