A estratégia que fez o Facebook colocar o Snapchat no bolso
A duradoura batalha entre Snapchat e Facebook ganhou mais um capítulo recentemente, quando o Instagram (empresa ligada ao Facebook) anunciou a marca de 250 milhões de usuários usando a ferramenta Stories. Em comparação, o app do fantasminha registrou 166 milhões no 1º trimestre deste ano.
São quase 100 milhões a mais de diferença entre o app que sedimentou o formato de conteúdo instantâneo contra seu mais bem sucedido clone. Isso levou também a uma perda financeira para a empresa do fantasminha de US$ 2,2 bilhões no mesmo trimestre, em relação ao mesmo período em 2016.
Em 2013, Mark Zuckerberg, dono do Facebook, ofereceu US$ 3 bilhões para adquirir o Snapchat, na época em franca ascensão. Mas seus donos recusaram a oferta. Desde então, "Zuck" adotou uma estratégia agressiva para subjugar o sucesso do concorrente, que dura até hoje.
Primeiro copiou os recursos do "Snap" em aplicativos novos e que logo morreram, como Poke, Slingshot e Bolt; depois passou a incorporar esses mesmos recursos nos apps mais importantes: Instagram, Messenger e WhatsApp, além do próprio aplicativo do Facebook. Foi aí que o jogo virou.
De todos, o Instagram Stories -- vídeos e fotos curtos postados em uma linha do tempo à parte no Instagram-- foi sem dúvida o tiro mais certeiro. Já os clones WhatsApp Status, Messenger Day e Facebook Stories até que estão bem, pelo menos nos números --o Status tem 250 milhões de usuários diários ativos.
Mas provavelmente esses números sejam efeito da grande base de usuários que os apps já tinham, e não necessariamente que as pessoas tenham se entusiasmado; tanto é que uma atualização do Facebook Stories passou a marcar os seus amigos que não estavam usando a ferramenta como "fantasmas", para que o usuário note e estimule o uso entre os amigos.
Facebook Stories now come with ghosts of your friends who don't post facebook stories pic.twitter.com/
— Alex Kantrowitz (@Kantrowitz) 4 de abril de 2017
"O Facebook Stories agora vem com fantasmas dos seus amigos que não postam Stories no Facebook"
Snapchat contra-ataca; Instagram não mexe no que ganha
Procurado pelo UOL, o Facebook não quis comentar o assunto. Mas a julgar pelos movimentos recentes, a empresa tirou o pé do acelerador um pouco no acréscimo de recursos e se preocupa mais em manter a estabilidade da ferramenta.
O último recurso diferenciado do Instagram Stories foi a liberação de vídeo ao vivo após sua transmissão, recurso não muito novo e já consolidado no Facebook. Outro recente foi responder diretamente às histórias com fotos e vídeos que se apagam após serem vistos, algo que o Snapchat faz há muito tempo. As máscaras de rosto, recurso antigo do Snapchat, foram parar recenemente no Stories e também no Messenger Day.
Já o Snapchat vai ainda pela via que o fez famoso: investir ainda mais em ferramentas malucas para "tunar" as fotos e vídeos. Se você atualizar o app e voltar lá, vai perceber um monte de novidades.
São elas: as World Lenses, que criam filtros coloridos em 3D nos vídeos; o backdrop, que permite adicionar padrões e texturas ao fundo da foto; o "Snap Map", que mostra snaps pelo mundo por região; e os filtros de voz, que alteram sua voz para timbres de bichos, de robô, etc. Outra recente novidade é a possibilidade de colocar um hot-dog dançante em vídeos.
Em entrevista ao UOL, Ben Schwerin, vice-presidente de parcerias da Snap Inc. minimizou o crescimento dos clones do Facebook:
Nossa comunidade já é muito grande e continua a crescer. É difícil de acreditar, mas o Snapchat tem apenas cinco anos de vida e sempre foi menor que o Facebook e o Instagram
Ele também acredita que a estratégia de copiar faz parte do jogo das empresas de tecnologia, mas se gaba do seu pioneirismo. "Esperamos que os outros sempre tentem copiar recursos populares em nosso aplicativo. É muito difícil inovar e criar coisas originais novas e divertidas. Acreditamos que somos os melhores nisso!".
Temos um vencedor?
Quem utilizava o Snapchat diariamente percebeu a queda de frequência de conteúdo por lá. Essa percepção pode variar conforme seu grupo social, mas para se ter um termômetro, celebridades que aderiram ao "Snap" em outros anos, como Neymar, Bruna Marquezine e Ivete Sangalo atualmente postam no Instagram Stories, mas suas contas no Snapchat estão sem atualizações.
A modelo Geisy Arruda é uma das que confirmam essa tendência. Ela parou de usar o Snapchat para se dedicar apenas ao Instagram. "Tenho todas as contas ativas. Muitas pessoas usaram o Snapchat, é um otimo app, mas é complicado administrar tantas redes porque acaba tendo que fazer o mesmo conteúdo pra todas, o que fica muito cansativo. A concorrência [do Instagram] acabou vencendo".
Uma das primeiras celebridades do Snapchat no Brasil, Thaynara OG afirmou em entrevista que se mantém nas duas redes sociais, pois são públicos diferentes. “Os seguidores do snap exigem que eu poste muito. Digamos, com overdose de postagem. Acho importante fazer o conteúdo diferente. Até para dar um sentido essa coexistência”, disse.
Sobre o que difere as redes, Thaynara ressaltou que o Instagram Stories “é ótimo para quem trabalha com mídias sociais”, pois reúne “tudo numa rede social”. No entanto, diz, alguns seguidores reclamam que às vezes os vídeos travam na plataforma do Facebook. Já o Snapchat é caracterizado pela simplicidade: abriu o app e os vídeo estão lá para serem vistos.
Para Patricia Moura, professora do curso de redes sociais da ESPM, a estratégia "agressiva" do Facebook de clonar o Snapchat em todos os flancos deu certo.
A estratégia desacelerou o crescimento repentino do Snapchat. O Instagram tem mais de 200 milhões de usuários ativos apenas na função Stories com ampla oportunidade de crescimento, já que o total de usuários da rede social é três vezes maior que isso [nota: 700 milhões]. Mas há público para as duas plataformas e, possivelmente, uma intersecção de pessoas que alimentam os dois todos os dias
Leonardo Carbonel, diretor de operações da agência de publicidade e de mídias sociais Espalhe, discorda que o público geral cansou do Snapchat.
Não mesmo! Prova disso é que os últimos lançamentos do Snapchat, como o Snap Map e os Spectacles, tiveram grande aderência dos usuários e da indústria --na última Vidcon (convenção de conteúdo audiovisual online) foram uma sensação. A empresa Snap [criadora do app] está muito capitalizada. Acusou o golpe mas tem forças e criatividade para buscar seu espaço
Agora vamos aguardar os próximos passos dessa batalha de Davi contra Golias.
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