De volta à pista: como é voltar a ser solteiro em tempos de Tinder
Alguns meses atrás, terminei um relacionamento de longa duração: entre namoro e casamento, foram quase onze anos juntos. Passado aquele período onde só queria lamber as próprias feridas, chegou o dia em que abri a porta e me vi de volta à pista, em um mundo bastante diferente do que eu conhecia na última vez em que estive solteiro.
Veja bem: em 2006, smartphones e internet móvel eram praticamente ficção científica. O mais parecido com apps de paquera eram algumas salas do Bate-Papo UOL e sites como Par Perfeito e similares. O Orkut era a rede social que dominava o mundo. Nada que se compare ao cenário atual, onde vários aplicativos usam a rede de contatos das pessoas no Facebook para facilitar a azaração e, quem sabe, te aproximar de um crush que você nem sabia que existia.
O Tinder é o mais popular dos apps de paquera e foi por ele que comecei, seguindo as dicas e conselhos dos amigos. Criar um perfil foi até rápido: o aplicativo usa seus dados do Facebook, você seleciona algumas fotos bacanas para parecer mais atraente para as garotas que vão passar por ali, escreve uma boa descrição e começa a olhar os perfis. Tudo muito rápido e intuitivo: gostou? Passa para a direita. Não gostou? Passa para a esquerda. Gostou muito? Joga pra cima, no tal do Super Like.
- Casal tatua logotipo do Tinder para marcar namoro iniciado pelo aplicativo
- Encontrar um "crush" por aplicativo depende de sua intenção; saiba escolher
- Homem bomba em Tinder após deixar mulher assumir perfil
Depois de um tempo, percebi que usava o Tinder como um joguinho de celular: abria o app e tentava adivinhar se a garota que recebesse meu Like também iria curtir o meu perfil. O aviso de "match", quando ambos os usuários se curtem, é tão satisfatório quanto desbloquear uma Conquista no Xbox.
Como todo bom jogo mobile, o Tinder tem lá suas restrições de uso: a quantidade diária de Likes é limitada, assim como o Super Like. Quer curtir os perfis das usuárias infinitamente e aumentar as suas chances? Dar vários Super Likes por dia ou voltar naquele perfil que você jogou para a esquerda por engano? Quer saber quem curtiu o seu perfil? Pague por isso e não pague pouco.
Nunca paguei pelo Tinder Plus, tanto por achar caro (os pacotes chegam a custar R$ 60) quanto por acreditar que o uso limitado me ajudava a selecionar melhor para quem eu mandava Likes. Acabei definindo certas estratégias: não dar Like em perfil sem descrição ou em perfil com foto em Machu Picchu ou beijando golfinhos. Parar, mesmo ainda tendo "créditos", depois de mandar o Super Like do dia. Parece bobo, mas acredite, você precisa definir algum método para se organizar.
Mas e aí, funciona?
A sensação de ser um cara novo no Tinder, no primeiro dia, é meio desapontadora. Ao contrário das meninas, pode levar um tempo para os primeiros "matches" aparecerem. Isso não quer dizer que ninguém gosta de você ou que você é feio. Apenas que seu perfil precisa de um tempo para circular. Notei também que certos dias da semana eram mais propícios para rolarem combinações - quanto mais perto do fim de semana, melhores eram os resultados.
Em duas semanas, tinha acumulado uma média de 10 combinações, ou seja, quase um match por dia. Nada mal para quem não é exatamente um garotão de academia, não posta fotos sem camisa e tentava ser bastante criterioso nos Likes. Dessas dez, a conversa foi para além do bate-papo do próprio Tinder com pelo menos seis e daí para um encontro no mundo real, com três. E no mundo real, as coisas não mudaram tanto assim de 2006 para cá.
Testando outras opções
Além do Tinder, experimentei outros apps: o Happn foi o mais interessante deles, pelo uso inteligente da geolocalização do celular. Meu perfil era idêntico ao do Tinder, mas as pessoas que apareciam eram as que estavam por perto. Por um lado, descobri muita gente que eu nem sabia que passava pelo mesmo trajeto que eu todos os dias, entre minha casa e a redação do UOL. Por outro, era bem divertido ver a quantidade de pessoas que usam o app em barzinhos e baladas. Assim como "Pokémon GO", o Happn se tornou um bom estímulo para sair de casa e frequentar lugares diferentes.
Diferente do Tinder, o Happn não tem um limite para a quantidade de Likes que você pode dar. Gostou de um usuário? Clique no Coração e torça para rolar uma combinação. Ou, como fazem uns conhecidos meus, clique em todos os perfis para ver quais deles também curtiram você.
Para mim, esse método não é legal pois você acaba não se lembrando quem é aquela pessoa que o app diz ter rolado um "Crush" (nome que o Happn usa para o "Match") e aí puxar papo fica complicado. Além disso, eu sempre acho que é melhor você só curtir as pessoas com quem teria algum interesse real em se encontrar fora da internet.
A brincadeira no Happn parece mais dinâmica do que no Tinder, mas tive menos combinações nesse app do que no primeiro. Virei amigo de uma delas e bati papo com outras apenas no bate-papo do Happn. Foi legal conhecer pessoas novas na vizinhança, mas a mítica "garota da porta ao lado" nunca apareceu.
Um amigo me falou do OKCupid e resolvi experimentar a ferramenta, que existe tanto como site quanto como app para smartphones. O visual é meio datado, mas o app dá um controle maior sobre o seu perfil e que usuários são exibidos. Tudo no OKCupid funciona com base em questionários que você responde sobre temas como seu estilo de vida, o que é importante para você num encontro, política, crenças e gostos sexuais. Com base nisso, antes mesmo de ver as fotos de uma outra pessoa, você já sabe que é 96% compatível com ela, por exemplo.
Apesar de me divertir muito respondendo os questionários do OKCupid e até ter conversado com algumas garotas que conheci no app, as conversas ficaram por ali mesmo. Talvez fosse o estilo meio Orkut da plataforma, mas desencantei rapidamente e deixei pra lá. Talvez fosse a impressão esquisita de saber demais sobre aquelas pessoas - você pode conferir todas as respostas delas sobre os mais variados assuntos e o app compara o que elas disseram com o que você respondeu. O resultado, para mim, foi uma intimidade um tanto inesperada e que não me aproximou de outra pessoa, muito pelo contrário.
Por fim, tive uma relação curta com dois apps menos conhecidos do grande público: o Feeld e o Bumble.
O primeiro foi uma experiência bem diferente: o Feeld é um app para aproximar casais e solteiros que querem se conhecer. Casais moderninhos que buscam mulheres ou homens solteiros para relacionamentos à três... os objetivos e motivações variam de pessoa para pessoa, mas é um app bacana para quem está em busca de uma relação nada convencional e não tem problemas com poliamor. Achei divertido ver os perfis das moças e casais que encontrei por lá, mas após uma semana, ficou claro que caras solteiros não fazem muito sucesso no Feeld.
O Bumble é uma espécie de versão melhorada e mais bonitona do Tinder. Embora tenha mais de 21 milhões de usuários espalhados pelo mundo, o app ainda está dando os primeiros passos no Brasil - ao menos essa foi a impressão que eu tive, pois aparecem menos perfis diferentes do que no Tinder. E isso é bom: um app de paquera novo, onde as suas fotos aparecem melhor e que é frequentado pela turma mais antenada das redes sociais resulta em pessoas mais interessantes para se conhecer.
Diferente do Tinder, no Bumble não há limites de quantos Likes você pode dar por dia. Mas não existe aquele Super Like gratuito. Quer mandar um Super Like e avisar aquela moça que você curtiu o perfil dela? Vai ter que abrir a carteira. Outra diferença é o sistema de conversa: quando rola o match, ambos os usuários são avisados, mas a mulher tem 24h para puxar conversa (eu posso estender esse prazo por mais 24h, uma vez por dia) e só depois dela começar a conversar, eu consigo interagir.
É um sistema que dá um poder maior para as garotas dentro do aplicativo e isso funciona bem. Infelizmente, eu esqueci de configurar a distância da busca no Bumble (função presente em todos os apps de paquera, menos no Happn) e as poucas combinações que rolaram foram com usuárias que estavam algumas centenas de quilômetros longe demais.
Apps facilitam, mas não resolvem
Beirando os 39 anos de idade, eu tenho uma rotina que envolve trabalho, casa e algumas atividades sociais, ir ao bar com os amigos, esse tipo de coisa. Não é todo dia que vou estar no pique de começar um curso de gastronomia ou degustação de vinhos - ou o que quer que seja a moda da vez. Essa rotina acaba dificultando encontrar e conhecer pessoas novas, coisa que é essencial nessa fase de voltar a ser solteiro.
Nesse sentido, apps como Tinder e Happn facilitam bastante as coisas, principalmente se você pensar nos perfis que vê ali como pessoas de verdade, que você pode querer conhecer, fazer amizade, só curtir junto ou quem sabe até começar um novo namoro. Não pense nelas como uma vitrine, um cardápio humano. Todo mundo está ali por algum motivo - eu e você também, então por que não aproveitar para tentar conhecer de verdade essas pessoas?
Os apps de paquera não vão resolver a solidão nem transformar a sua vida amorosa em uma coleção de sucessos. Mas ajudam a conhecer gente nova e se abrir para o mundo numa época em que todo mundo está conectado. O resto é contigo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.