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iPhone X: o celular do futuro com preço além da imaginação

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

13/12/2017 04h00Atualizada em 04/07/2020 16h34

Em 2008, o Brasil começava a sua complicada relação de amor e ódio com a linha iPhone. Caso você não lembre, um iPhone 3G (o original não foi vendido oficialmente aqui) era obtido no plano pré-pago - ou seja, seu preço "cheio" - por R$ 1.899 (8 GB) e R$ 2.199 (16 GB). Se hoje em dia esses valores ainda são considerados altos para um celular, imagine há nove anos. Mas assim como o modelo original, o iPhone X veio para redefinir esse patamar... para muito pior.

Por uma mala de resgate, digo, por R$ 6.999, você recebe em troca um dos primeiros celulares a adotar o reconhecimento de rosto e o controle por gestos como as interações mais comuns para o usuário, além da tela ocupando quase 100% da parte frontal.

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O iPhone X é a carta de valores do futuro da telefonia para a Apple. Sem botões, sem senhas numéricas, sem bordas. E milhares de reais a menos para quem tentar, pois ninguém disse que a passagem para o futuro seria barata.

Mas falaremos do custo-benefício depois. Após o "test-drive" de um iPhone X nos últimos dias, posso falar que a Apple mandou muito, muito bem. O X - lembre-se de ler "dez", como um número romano, e não "xis" - terá seus poréns, como tudo na vida, mas é mais um gol de placa da fabricante da maçã; fãs vão amar, "haters" odiarão, mas em comum todos vão estranhar algumas novidades, como eu estranhei.

iPhone X é o celular mais caro já feito pela Apple - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL
iPhone X é o celular mais caro já feito pela Apple
Imagem: Gabriel Francisco Ribeiro/UOL

Uma tela imensa e confortável

Sobre a "tela quase infinita" OLED de 5,8 polegadas, entendi a lógica do entalhe em questões práticas. As duas pontas no alto são reservadas para mostrar a hora, à esquerda, e os dados de telefone, Wi-Fi e bateria à direita. Com o entalhe, perde-se outros dados vistos nos iPhones antigos: o nome da operadora, o cadeado da tela bloqueada e Bluetooth (se estiver ligado).

A Apple foi inteligente na seleção: esses dados "perdidos" não são tão importantes assim para estarem expostos em qualquer situação. E podem ser visualizados facilmente ainda, se você puxar a central de controle. Dito isso, a maior perda causada pelo entalhe é outra: o recorte de imagem em apps e games de imagem horizontal cheia. Isso ocorreu em "Angry Birds 2" e nos apps nativos de Vídeos e de Fotos.

Nesse caso, ou você se acostuma ou vai ficar prestando atenção nisso sempre. Ou instale um app que vai remover o entalhe para qualquer ocasião. Do lado das desenvolvedoras de apps, elas terão que decidir se "abraçam o entalhe" ou não.

No Netflix, a imagem é centralizada e não chega à borda esquerda, deixando o "furo" longe, enquanto no YouTube há o furo em vídeos widescreen. Este último, porém, incluiu há pouco o recurso de pinça para ajustar zoom, mas só funcionou com um vídeo testado (um clipe do Blink 182). Vai ser interessante acompanhar como será com cada aplicativo.

"Buraco" à parte, a tela é sim ótima, mas não achei que a coloração OLED fez grandes diferenças em relação à boa média das telas da linha iPhone. Comparamos o X com um iPhone 8 Plus e na prática, o branco do X é mais intenso se você puser ambas no nível máximo. Mas só um pouco. Ah, e desliguei o recurso True Tone, que adapta o brilho à luz ambiente, por achá-lo amarelado demais para meu gosto.

Novo iPhone X é badalado - e caríssimo - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL
Novo iPhone X é badalado - e caríssimo
Imagem: Gabriel Francisco Ribeiro/UOL

O corpo do iPhone X voltou às raízes da linha: vidro na traseira, deixando o aço inoxidável apenas para as laterais. Há um motivo: tornar o celular compatível com o carregamento sem fio, que ficaria complicado se o metal fosse predominante na carcaça. Mas carregadores sem fio serão vendidos separadamente e na caixa só vem o comum, então a ideia parece que ficou pela metade aqui.

Com tamanho razoável, o iPhone é confortável na proporção corpo-tela. A Apple defende que seu vidro é resistente, mas sempre confiaremos mais no metal nesse sentido. Preciso dizer que após gravarmos o vídeo que abre esta análise, joguei o iPhone no chão duas vezes, com a tela para baixo, e aguentou sem arranhões. Mas o celular é caro e você preza pelo seu dinheiro, certo? Na dúvida, olhe testes de resistência mais rígidos e vá de capinha protetora (ou não).

Seu rosto é sua senha. Nem tente usar fotos

Outro recurso-chave do X, o Face ID, é mais impressionante do que imaginei. Após o cadastro, que dura poucos segundos, está pronto. Você pressiona o botão liga/desliga para acender a tela, um cadeado na tela abre e é só deslizar o dedo para entrar nos apps. Funciona no escuro, com ou sem óculos de grau, sem problemas. Não senti falta do extinto sensor de digitais.

Combinando a câmera frontal com infravermelho e um projetor de 30 mil pontos invisíveis no rosto do dono para criar um mapa facial, o Face ID foi projetado para "não ser enganado por fotos e máscaras". E funcionou. Repeti na redação do UOL o teste que fizemos no Galaxy S8 para tentar desbloquear o celular com uma foto grande do meu rosto e não rolou. Boa, Apple.

O truque até deu certo duas vezes, até descobrir que meu rosto real estava muito perto da foto impressa. Quando fiz mais tentativas com meu rosto longe e apenas a foto de frente, o cadeadinho tremeu sem abrir, indicando a leitura negativa. Já com meu rosto real, até em um ângulo meio de lado dá certo. Com óculos escuros não funciona, mas há uma opção nos Ajustes para permitir dessa forma (mas claro, a segurança fica menos rígida).

No quesito desempenho, não tenho muito a acrescentar em relação ao que já dissemos sobre os iPhones 8 e 8 Plus. O X traz o mesmo poder de fogo deste último; o chip A11 Bionic e 3 GB de memória RAM, mas na prática é o bom desempenho do iPhone em todos eles. Sem travamentos, agilidade em todas as tarefas e games pesados rodando suave.

O celular que te obriga a adivinhar comandos

O que é bem diferente no X em relação a todos os smartphones até hoje é incutir uma nova necessidade no usuário: aprender a fazer tudo por toques e gestos. Por sua parte frontal ser ser quase toda tela, ele não traz mais o botão home na frente e você será obrigado a descobrir como ativar interações básicas, como voltar à tela principal e abrir o multijanelas. Até coisas que não dependiam tanto do home, como instalar apps e abrir a central de controle, mudaram sua forma de acesso.

Foi uma experiência ao mesmo tempo fascinante e irritante. Alguns gestos foram mais fáceis de chutar do que outros. Em um deles em particular, o de instalar apps, tive que recorrer a um vídeo no YouTube explicando. A tela diz para "pressionar duas vezes" para instalar o app, mas não indica direito onde. Você é levado a crer que é para clicar na tela, mas é no botão liga/desliga físico na lateral. Ué, não era para abolirmos os botões?

Depois que você pega a manha, tudo fica mais tranquilo. Mas se a tendência da Apple vingar, prevejo multidões de pessoas bem irritadas com isso. Algumas pessoas lá fora tiveram a mesma sensação e tem gente até devolvendo o celular às lojas.

Modo retrato onipresente e emoji de cocô com sua voz

Sobre câmera, novamente é o que dissemos sobre o iPhone 8 Plus. Na traseira é a mesma câmera traseira dupla de 12 MP em ambos, que garante o modo retrato com efeitos novos - o recorte sobre fundo preto é chinfroso, admito.

Foto tirada com câmera traseira do iPhone X - Márcio Padrão/UOL - Márcio Padrão/UOL
Imagem: Márcio Padrão/UOL

Foto tirada com câmera traseira do iPhone X - Márcio Padrão/UOL - Márcio Padrão/UOL
Imagem: Márcio Padrão/UOL

A novidade é que a câmera frontal TrueDepth, exclusiva do X, garante o modo retrato em selfies também. O resultado é bom, mas como sempre, o recorte pode não ser 100% fiel ao que você quer. Ainda assim melhor que o que vimos na concorrência, vide o Zenfone 4 e Moto Z2 Force. Em modo normal, a qualidade do conjunto de câmeras é o alto padrão Apple de sempre.

Foto tirada com câmera frontal do iPhone X - Márcio Padrão/UOL - Márcio Padrão/UOL
Imagem: Márcio Padrão/UOL

Foto tirada com câmera frontal do iPhone X - Márcio Padrão/UOL - Márcio Padrão/UOL
Imagem: Márcio Padrão/UOL

Vale destacar que a câmera frontal é responsável pelos Animojis. Falamos do funcionamento deles aqui; eles são criados no iMessage e há 12 opções de carinhas que reagem ao seu rosto: robô, unicórnio, cachorro, galinha, ET e cocô, entre outros. O Animoji grava por dez segundos, com som, e com o Touch 3D (sim, ele ainda existe), você acha a opção de salvar como vídeo para postar na rede social que quiser. Uma bobeira interessante.

Mas novamente a bateria será um ponto mais ou menos fraco em um iPhone X. Com uma tela maior e mais brilhosa, os 2.716 mAh não são suficientes para você usar o aparelho de forma intensa - câmera e games pesados - em um dia inteiro. A Apple fala em reprodução de vídeo com fones de ouvido sem fio por até 13 horas, para se ter uma ideia. A boa notícia é que o modo de espera é bem eficiente e descarrega muito lentamente, conservando a carga para o que importa.

Vale essa fortuna?

Existem atualmente celulares baratos, moderadamente caros, caros, caríssimos e o iPhone X. É talvez o primeiro celular que testei que evitei mesmo usá-lo na rua, mesmo sabendo que não foi comprado com meu dinheiro, mas cedido pela Apple para o teste. É como carregar um diamante e torcer para não ser assaltado no primeiro minuto em que tirá-lo do bolso.

Muito se falou sobre o absurdo preço do modelo comemorativo dos 10 anos do iPhone, tanto lá fora - começando em US$ 1.000 - quanto no Brasil - a partir de R$ 6.999. Mas a Apple nunca foram conhecidos por seus preços camaradas e tem lá seus motivos, goste deles ou não (taxas no Brasil, ser uma nova categoria de telefone etc). No caso do iPhone X, eles pretendiam subverter muitas das regras que norteavam o smartphone enquanto produto. E em parte conseguiram.

Ainda que para a maioria dos americanos seja compensador comprar iPhones, visto o alto índice de satisfação e a vida longa deles, no Brasil faz menos sentido. No caso do X, os preços a partir de R$ 7 mil parecem coisa do seriado "Além da Imaginação". Neste universo paralelo, apenas as pessoas para quem ganhar dinheiro é algo tão simples quanto respirar - menos de 1% da população, talvez - podem pagar por isso sem dor alguma na consciência. Mesmo que seja o "iPhone do futuro".

Ficha técnica: Apple iPhone X

Tela: 5,8 polegadas OLED
Sistema operacional: iOS 11
Processador: Apple A11 Bionic
Memória: 64 / 256 GB de armazenamento; 3 GB de RAM
Câmeras: 12 MP dupla (principal) e 7 MP (frontal)
Bateria: 2.716 mAh
Dimensões e peso: 143,6 x 70,9 x 7,7 mm e 174 g
Pontos positivos: tela iluminada, belo visual. ótimo desempenho, câmeras com modo retrato e emojis animados
Pontos negativos: custo-benefício horrível, tela com entalhe, bateria aquém do esperado
Preço: R$ 6.999 (64 GB) e R$ 7.799 (256 GB)