Qualquer estudante pode criar um inseto-robô, como em "Black Mirror"
O neurocientista americano Greg Gage tem uma missão: tornar a neurociência mais acessível para o público geral, em especial crianças e adolescentes. Para isso, ensina uma série de "gambiarras" neurotecnológicas que impressionam qualquer espectador. Por exemplo, em sua palestra na Campus Party 2018, mostrou ao vivo como o cérebro de uma pessoa pode controlar o braço de outra -- experiência que já foi vista por mais de 2 milhões num dos mais populares vídeos do TED, organização da qual é membro sênior.
Antes limitada a grandes laboratórios e centros de pesquisa universitários com equipamento extremamente complexo e caro, a neurociência agora pode ser replicada em salas de aula ou por entusiastas amadores. E, em grande parte, graças a Gage e sua empresa, a Backyard Brains, que inventa dispositivos simples, mas efetivos, em experimentos neurológicos (veja o canal no YouTube).
Uma das invenções mais populares do grupo, que faz o coração dos fãs de ficção científica bater mais forte e levou o público ao delírio na Campus Party, é o RoboRoach.
A barata ciborgue pode ser considerada uma precursora das abelhas-robô, que aparecem no episódio "Odiados pela nação", da terceira temporada do seriado "Black Mirror" --na ficção, os insetos são programados para entrar pelas narinas de celebridades que aparecem no trending topic #DeathTo.
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Ficção?
Chamado pela Backyard Brains de "o primeiro ciborgue vendido comercialmente no mundo", o RoboRoach é uma barata que, após uma pequena "cirurgia" em que sua antena recebe sinais do mecanismo eletrônico colocado em suas costas, passa a ser controlada qualquer pessoa com smartphone e Bluetooth.
Após algum tempo, a barata percebe que os sinais são artificiais, e se adapta a eles. Veja no vídeo abaixo:
Qualquer um pode criar este protótipo de inseto-robô, basta ter US$ 150 (cerca de R$ 500) e comprar o pacote do RoboRoach à venda no site da empresa. As baratas em si são vendidas separadamente.
Mas quem estiver na Campus Party, em São Paulo, poderá participar do workshop ministrado por Gage e outros membros da Backyard Brains. Além disso, quem quiser tentar montar sua própria versão deste dispositivo pode acessar os arquivos do projeto pelo GitHub e pelo próprio site do grupo.
Ciência pop pode curar Alzheimer
As experiências mirabolantes e os dispositivos simplificados, porém, visam algo mais sério. Gage quer formar uma nova geração de neurocientistas capazes de resolver um dos grandes problemas da humanidade: as doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson, que afetam milhões de pessoas todo o mundo e que, até o momento, não têm cura.
Isto é o que ele chama de "revolução neural", uma comparação com a revolução feita pelos computadores décadas atrás. Ou seja, tornar sistemas caros e limitados em máquinas simples e acessíveis.
"O que temos feito nos últimos anos é treinar a próxima geração para pensar como um cientista", explicou ele ao UOL Tecnologia.
Já temos ferramentas acessíveis. Agora é saber como usar estas ferramentas para entender como estas doenças funcionam
"Não existe motivo para uma tese científica não ser feita com nosso equipamento. Então por que as pessoas não fazem isto? Porque o difícil via 'open source' e 'crowdfunding' é fazer as perguntas certas", disse.
Segundo ele, embora os experimentos possam ser feitos por pessoas sem treinamento avançado em neurociência, a análise dos dados precisa ser feita corretamente. Por isso, a BackyardBrains pretende lançar um novo show nos próximos meses, para ensinar os jovens estudantes a usar o método científico, “sendo bem cético, bem crítico em relação a seus próprios dados”, nas palavras de Gage.
Usem a tecnologia, mas não abusem
Embora seja um grande entusiasta do acesso à tecnologia, Gage se mostrou um tanto receoso quanto ao constante uso de aparelhos, como celulares e tablets, por pessoas desde sua infância.
"Ainda há muita incerteza sobre os efeitos destas tecnologias", declarou. "Estamos começando a ver pessoas mostrarem irritação com Android e Apple por causarem tanta dependência, e não sabemos o que acontecerá com a próxima geração, que está grudada a estes dispositivos o tempo inteiro."
Os efeitos da tecnologia no sistema nervoso ainda hão de ser determinados. É possível que haja o crescimento no número de casos de Transtorno de Déficit de Atenção ou doenças neurológicas por causa da dependência que temos a estes dispositivos
Por outro lado, o neurocientista ressalta os benefícios que certos aparelhos podem ter ao cérebro e sistema nervoso humano, como o implante coclear para quem perdeu a audição poder ouvir novamente, ou as máquinas que estimulam o fim dos tremores em quem sofre do Mal de Parkinson.
"Fora as ferramentas de edição do genoma humano combinadas com o que é chamado de ‘channelrhodopsin’, a habilidade de usar luz para controlar neurônios. Se você editar neurônios que tenham um gene em específico, então é possível que, no futuro, façamos coisas com doenças consideradas hoje incuráveis", prevê.
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