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Facebook pressionado por falta de regras em guerras cibernéticas

Jonathan Tirone

Da Bloomberg

19/02/2018 15h29

Uma guerra digital foi deflagrada na ponta de nossos dedos, e o mundo corre o risco de entrar em um conflito maior sem novas regras de combate.

Essa foi a principal mensagem enviada ao Facebook, ao Google e à Microsoft neste fim de semana por representantes internacionais na Conferência de Segurança de Munique. O apelo para estabelecer padrões, como os que orientam conflitos armados segundo as Convenções de Genebra, reflete uma maior conscientização da ameaça representada pelos ataques cibernéticos, enquanto os EUA continuam investigando iniciativas russas para interferir na política americana.

"Estamos testemunhando, de forma mais ou menos disfarçada, guerras cibernéticas entre estados", disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na sexta-feira. Governos e empresas precisam "estabelecer pelo menos alguns protocolos básicos" para não correr o risco de "uma ameaça existencial para a humanidade" à medida que as armas tecnológicas se tornam mais poderosas, disse ele.

A revolução digital criou uma riqueza enorme em todo o mundo, mas a internet se infiltrou de modo praticamente descontrolado em todos os aspectos da vida moderna, e isso abre um flanco para os atacantes. As plataformas de redes sociais estão sendo manipuladas para influenciar a opinião pública. Os hackers embrenharam-se profundamente na arquitetura digital dos setores, potencialmente perturbando inovações.

"Nosso campo precisa amadurecer", afirmou o diretor de segurança do Facebook, Alex Stamos, em um painel em Munique. "Segurança deixou de ser apenas resolver falhas tecnológicas. Precisamos ter um papel ativo."

Novas vulnerabilidades

"A internet criou novas vulnerabilidades para as democracias", disse Brad Smith, presidente e diretor jurídico da Microsoft. "Precisamos que os governos se posicionem. Precisamos de leis claras, precisamos de princípios jurídicos internacionais."

A propaganda política paga deve estar sujeita a leis de transparência, e normas internacionais precisam ser estabelecidas para dissuadir os países de realizar ataques hacker uns contra os outros, disse Smith. No admirável mundo novo da guerra cibernética, as empresas precisam mudar o foco, de atender aos acionistas para evitar que os clientes "compartilhem seus dados mais preciosos", disse ele.

Agir com cautela

Em meio aos pedidos de ação, algumas vozes alertaram para o risco de sufocar a inovação em nome da segurança. Eric Schmidt, ex-presidente da Alphabet, matriz do Google, pediu que os governos ajam com cautela nas iniciativas para impor regulamentações. Novas tecnologias de inteligência artificial e a internet das coisas renderão enormes benefícios ao reduzir o consumo global de energia, disse ele.

"Entendo o apelo da regulamentação", disse Schmidt, que ainda é assessor técnico do Google. No entanto, "seria melhor deixarmos que o setor enfrente esses desafios", embora "o setor precise se empenhar mais", disse ele.

Mas o setor digital está ciente de que a regulamentação vem por aí. O rádio e a televisão foram submetidos à regulamentação governamental depois que a tecnologia foi desenvolvida, e isso também deveria acontecer com a internet, de acordo com o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan.

"Não sei se concordo com Eric em que as empresas devem se autorregular", disse Annan em um painel, ao lado de Schmidt. "Não tenho certeza de que a transparência seja suficiente. As pessoas estão começando a se perguntar se estamos entrando em um mundo orwelliano."