Descolado ou deslocado? Nokia 8110 é nostálgico, mas sem recursos atuais
Revivida pela empresa finlandesa HMD, a nova Nokia tem usado a nostalgia da sua grande base de fãs como seu maior gancho para gerar barulho. Foi assim com o 3310 no ano passado e de novo na MWC deste ano, com o 8110, celular muito popular pelo formato "flip" e por ter feito uma ponta nas mãos de Keanu Reeves no filme "Matrix", de 1999.
Mas após ter nas mãos o novo 8110, que parece apenas ter ganho um redesenho mais cool, uma estridente cor amarelo banana e suporte a 4G, fiquei com a mesma pergunta que me fiz no ano passado. Depois de lerem as notícias do lançamento e ficarem emocionados, os fãs vão mesmo aderir de boa a um celular completamente deslocado do momento atual da tecnologia?
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Não que o celular seja super caro: na verdade, seu preço é uma das maiores vantagens. Estará à venda em alguns países ainda não definidos por apenas 79 euros, o que dá uns R$ 329. Isso é praticamente um terço do preço de um smartphone intermediário de uma grande fabricante.
Ok, é bem barato. Mas em compensação, não tem um décimo dos recursos desse mesmo smartphone. Ele tem agenda de contatos, mensagens de texto, lanterna, calculadora e registro de ligações. O maior charme é mesmo sua aura kitsch.
Não sabe o que é kitsch? É uma nostalgia sentimentalista que curte não ter um navegador de internet decente, uma tela pequena e uma câmera que de tão básica me surpreende por ter a opção de fazer vídeos. Mas cara, o que você vai fazer com uma resolução de 2 MP?
E ainda não cheguei no que achei pior no 8110: o "Snake", o jogo da cobrinha, é muito ruim.
Claro, a lógica de comer frutas e crescer é a mesma, mas agora é em cores, tem umas frutinhas vermelhas, umas paredes no meio, é arrastado... É como você ter sua memória afetiva da simplicidade do Pac-Man arruinada, porque alguém teve a ideia de fazer uma versão gourmet para Playstation 4.
Dito tudo isso, tomara que a Nokia consiga surfar bem na onda, venda muitos exemplares para pais e avôs neste ano e, com isso, consiga bancar seus novos celulares Android, que é o caminho que ela deveria ter feito desde a era do Windows Phone. A nostalgia é divertida, mas só te alegra por uns cinco minutos.
*O jornalista viajou a convite da Motorola.
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