Trabalho escravo e dívidas: chefe do "novo Instagram" coleciona polêmicas
É bastante provável que você tenha conhecido o Vero nas últimas semanas. Foi nesse período que ele foi de um app obscuro lançado em 2015 para um sucesso que já ultrapassa a marca dos 3 milhões de downloads em versões para Android e iOS.
A razão para isso é que ele faz, basicamente, o que o Instagram fazia há pouco tempo: ele dá acesso a uma rede social para a publicação de fotos e vídeos, sem propagandas e com as postagens organizadas de forma cronológica.
Veja mais
- É Vero, só se fala nisso: rede social tenta desbancar Instagram e Facebook
- Facebook quer eliminar vídeos ofensivos em tempo real com IA
- Reconhecimento facial do Facebook te ajuda a rastrear fotos perdidas por aí
Juntamente com a fama - o Vero foi apelidado de "novo Instagram" - também vieram as polêmicas. Inicialmente pela qualidade do serviço em si, uma vez que o grande volume de usuários se mostrou além do que o servidor do Vero era capaz de aguentar. As maiores controvérsias, no entanto, dizem respeito a Ayman Hariri, fundador e CEO da rede social.
Passado nebuloso
Com 39 anos, Hariri é um bilionário libanês que mora em Riad, na Arábia Saudita, e tem como hobby colecionar gibis, sendo dono de um dos maiores acervos do mundo. Ele é filho de Rafic Hariri, que foi ex-primeiro ministro do Líbano entre 1992 e 1998 e, depois, entre 2000 e 2004. Apesar de ajudar a reconstruir o país após 15 anos de guerra civil, ele esteve envolvido em suspeitas de corrupção e enriquecimento ilícito, além de proibir manifestações populares no país.
Rafic Hariri acabou morto em um atentado terrorista em 2005, cuja responsabilidade recaiu sobre o grupo extremista Hezbollah.
As controvérsias sobre Ayman Hariri vão muito além do histórico de seu pai. Antes de se aventurar na criação de uma rede social, ele foi presidente executivo e diretor executivo da Saudi Oger, uma das maiores construtoras da Arábia Saudita e que havia sido fundada pelo seu pai em 1978.
A empresa, que fechou as portas em 2017 devido a erros administrativos, queda no preço do petróleo e envolvimento em casos de corrupção, também foi acusada de trabalho escravo.
Ao fechar as portas, de acordo com reportagem da Bloomberg em setembro do ano passado, a empresa deixou milhares de funcionários sem pagamento e dívidas de US$ 3,5 milhões. Além disso, parte desses trabalhadores são imigrantes que viviam em alojamentos e dependiam do trabalho para manterem seus vistos de permanência. Com o fechamento da empresa, eles foram deixados sem comida, água e tratamento médico, em alojamentos infestados por baratas.
Ao comentar esse tema, Hariri afirmou ao site The Verge que deixou a empresa antes do seu fechamento, em 2014, e que tudo isso aconteceu após sua saída.
Além das questões envolvendo sua ex-empresa, Hariri também viu outra polêmica envolvendo sua criação: o fato do Vero ter diversos desenvolvedores de origem russa.
O que poderia ser apenas um detalhe acabou por acender um alerta, especialmente após as suspeitas de que a Rússia teria usado redes sociais para manipular o resultado das eleições norte-americanas de 2016.
Sobre esse assunto, Hariri disse à revista Time que a origem de seus funcionários é irrelevante. "O que é importante é o trabalho que eles desenvolvem e seu comprometimento em criar uma rede social online de verdade, sem tirar vantagem do fato de que pessoas gostam de socializar entre si".
Por fim, outras críticas envolvem a presença de apenas uma mulher, Suraya Dodge, na equipe do app - ela é a responsável por atendimento ao cliente - e também os Termos de Serviço do aplicativo, que exigem que os usuários autorizem o Vero a usar todo o conteúdo publicado, incluindo gostos pessoais, sem qualquer permissão ou conhecimento.
Por meio de um perfil na rede social, a equipe do app afirmou que estava ciente de que havia algumas informações duvidosas nos Termos de Uso do aplicativo e que isso seria esclarecido em breve.
Para completar, a hashtag #DeleteVero emergiu no Twitter após pessoas descontentes com esses "detalhes" sobre Hariri e o aplicativo tentarem deletar suas contas e encontrarem dificuldades - é preciso mandar um pedido para os desenvolvedores e não há um prazo definido para que isso aconteça.
Resta agora saber se o aplicativo continuará a fazer sucesso como uma alternativa ao Instagram ou se acabará engolido em meio a tantas polêmicas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.