Snapchat já era? O que houve com a rede social que ia desbancar o Facebook
"Entããão, alguém mais parou de abrir o Snapchat? Ou fui só eu…? Ai, que triste." Um inocente tuíte de 21/2 postado por Kylie Jenner, estrela do reality show "Keeping Up with the Kardashians", foi vinculado na semana retrasada por alguns sites a uma queda das ações do Snapchat na bolsa de valores.
Ninguém se dedicou a provar a correlação entre o tuíte e o comportamento da bolsa, e houve quem desmentisse essa teoria, mas, de qualquer forma, a insinuação de Kylie Jenner tem muito fundamento: o Snapchat, rede social que parecia correr a passos largos para alcançar a popularidade do Twitter ou até a do Facebook, perdeu mesmo um pouco do fôlego nos últimos meses.
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Não é só especulação. Uma comparação estatística publicada em fevereiro pelo portal Statista, especializado em apontar tendências a partir de dados registrados na internet, sugere que o app de Evan Spiegel tem aumentado sua base de usuários ativos de forma um pouco mais lenta que o Twitter e muito mais lenta que o Facebook quando essas duas redes estavam em estágios semelhantes de evolução.
No terceiro trimestre de 2015, o Snapchat tinha 94 milhões de usuários ativos. O Facebook tinha um público semelhante no segundo trimestre de 2011: 92 milhões de usuários. Dois anos depois, o Facebook chegou a quase 400 milhões de usuários ativos (e, atualmente, já tem mais de 2 bilhões). O Snapchat, até hoje, não passou de 200 milhões de usuários.
Até a conclusão deste texto, a Snap (empresa dona do Snapchat) não havia se pronunciado oficialmente. Porém, informalmente, uma pessoa ligada à companhia disse ao UOL Tecnologia que considera injustas as comparação com Twitter e Facebook. O Snapchat não divulga o número de usuários mensais, enquanto os números usados pelo Statista incluem dados históricos mensais do Twitter. No caso do Facebook, essa pessoa acredita que o fato de o número de usuários de desktop da rede social não ser excluída da comparação também seria um problema, pois o Snapchat se apresenta como uma empresa totalmente voltada para o mundo dos celulares.
Porém, a ameaça vinda do Instagram, outro serviço voltado para os smartphones, não foi citada por essa fonte. O Statista também trata dessa concorrência.
Eu acho que o uso do Snapchat tende a decair no futuro. A razão disso é que começou a haver uma competição muito forte de outras plataformas, especialmente do Instagram
Felix Richter, jornalista de dados do Statista
Segundo Richter, com só um ano de vida, o Instagram Stories tem praticamente o dobro de usuários do Snapchat. São 300 milhões de usuários ativos, contra 187 milhões do Snapchat. Um crescimento tão rápido se deve, é claro, ao fato de que o Instagram já tinha uma grande base de usuários antes do Stories. E vale lembrar: o Instagram pertence ao Facebook.
O impacto do recurso para o Instagram é claro: um mês antes de lançar o Stories, o Instagram sozinho tinha 300 milhões de usuários ativos por dia. Com o Stories, o número de usuários diariamente ativos subiu para 500 milhões, segundo informações divulgadas pela rede em setembro de 2017, um ano depois do lançamento do Stories.
Novo design e debandada
Uma reformulação do design do aplicativo lançada em fevereiro -cuja maior mudança é separar os posts de círculos mais privados dos feeds de celebridades e empresas- também trouxe à tona o tema da decadência do Snapchat. A novidade foi criticada por usuários e meios digitais, e uma petição no site change.org para revogar a atualização recebeu mais de 1 milhão de assinaturas.
A intenção da empresa ao mudar o design do aplicativo foi facilitar o seu uso, segundo o jornal britânico Independent. Em novembro de 2017, Evan Spiegel, fundador da Snap, afirmou que uma das críticas mais comuns que a empresa recebia era sobre a dificuldade de uso do app. Na época, o executivo já reconhecia a chance de que velhos usuários ficassem contrariados, mas apostava em um bom efeito a longo prazo. Ainda é cedo para saber se a aposta foi boa.
O jornalista David Pierce, do Wall Street Journal, considera que a mudança foi boa para aqueles que gostam de acompanhar de perto grupos pequenos de amigos. Porém, o redesign teria criado dificuldades para quem planeja ter muitos seguidores. Essa é uma sensação compartilhada também pelas celebridades brasileiras na rede social, que acabaram a deixando de lado.
No Brasil, celebridades das redes sociais como Ney Lima, Tirullipa, Carlinhos Maia e a cantora Luísa Sonza dizem que não usam mais o Snapchat. Todas alegam a mesma razão para isso: migraram para o Instagram Stories.
O público parou de se interessar e acabou que começamos todos a usar o Stories, do Instagram, por ter a mesma função
Luísa Sonza, cantora e ex-usuário do Snapchat
Tirullipa, que usa o Stories para mostrar o seu dia a dia, afirma que dá prioridade ao Instagram "porque ele gera mais visualizações".
É importante lembrar: O Snapchat não deixou de crescer e tem 187 milhões de usuários diariamente ativos em todo o mundo. Ele já conta com mais gente do que algumas grandes redes sociais mais velhas, como o Pinterest e o Reddit, mas o papo de que ele representaria uma ameaça à hegemonia do Facebook, comum por volta de 2013 ou 2014, parece hoje um delírio.
A força do Face
Mark Zuckerberg se mostrou obstinado em deter a sua ascensão e, nos últimos dois anos, atacou o Snapchat por todos os lados. Três produtos do Facebook lançaram funcionalidades claramente desenvolvidas como alternativas ao Snapchat.
Em 2016, o Instagram criou o Stories, plataforma onde as postagens de foto e vídeo nascem com as horas contadas e podem ser editadas com várias camadas e efeitos. O Facebook também ganhou um Stories no começo de 2017, mais ou menos na mesma época em que o WhatsApp começou a habilitar a função Status.
A estratégia de Zuckerberg deu certo, especialmente no caso do Instagram. Não foram poucas as celebridades e as pessoas comuns que passaram a postar os seus vídeos e fotos perecíveis mais no Instagram Stories que no Snapchat.
Uma das atuais tábuas de salvação do Snapchat é a fidelidade dos adolescentes norte-americanos. Algumas pesquisas de 2017, entre elas uma de dezembro último, apontam que o aplicativo ainda é a rede social preferida desse público, superando Facebook, Instagram e Twitter.
No Brasil, também é um pessoal mais jovem que costuma dominar o Snapchat, mas a popularidade do aplicativo é, em geral, bem menor que nos EUA. O Instagram Stories já ultrapassou o Snapchat na preferência do público brasileiro, como mostra uma pesquisa.
Este é mais um sinal da resiliência do Facebook. A rede tem superado prognósticos de decadência desde pelo menos 2011, passando por 2012, 2013 e até por uma profecia furada feita em 2014 por pesquisadores da Universidade de Princeton de que o site perderia 80% de sua base de usuários até o fim de 2017.
Pouca diversificação
Embora ainda apresente números positivos, a progressão lenta Snapchat parece ecoar risadas de satisfação de Zuckerberg.
Em 2013, quando o Snapchat começava a virar moda, Zuckerberg ofertou US$ 3 bilhões para comprar o aplicativo. A oferta foi recusada, e os dois anos seguintes foram muito positivos para o Snapchat. Desde então, o valor de mercado da Snap foi quase multiplicado por sete e vale US$ 22,1 bilhões. Em maio do ano passado, era de mais de US$ 27 bilhões, e esteve em queda quase constante até janeiro de 2018, chegando a cerca de US$ 18 bilhões.
Foi só em 2016 que o Facebook começou a copiar o que havia tentado comprar e, parece, conseguiu conter os avanços da companhia rival.
O que agrava a tendência a desaceleração da Snap é a falta de diversificação de seus negócios. Ao contrário de gigantes, como Facebook e Google, que contam com muitos braços relevantes além de seus carros-chefes, a Snap não tem um produto muito importante além do Snapchat.
Outros dois produtos da empresa são o Bitmoji, um app de personalização de emojis, e o Zenly -aplicativo criado na França que monitora a localização geográfica da rede de amigos do usuário, para facilitar encontros no mundo físico. Uma terceira iniciativa da companhia foram os óculos inteligentes que a empresa lançou no fim de 2016 para gravação de vídeos, batizados de Spectacles.
Até outubro de 2017, 150 mil unidades tinham sido vendidas, segundo Spiegel. No mesmo mês, durante o anúncio do seu terceiro trimestre fiscal, a Snap admitiu ter tido um prejuízo de US$ 39,9 milhões por conta de estoques não vendidos do acessório. O Gear VR, óculos de realidade virtual da Samsung, vendeu 5 milhões de unidades entre novembro de 2015 e janeiro de 2017, segundo a própria empesa coreana.
Mas esse também não é o fim dos Spectacles: a companhia pode estar trabalhando numa segunda versão do acessório. De acordo com o TechCrunch, os novos óculos teriam realidade aumentada. Além disso, uma outra versão, com duas câmeras acopladas, estaria prevista para 2019. Faz sentido para uma companhia que se vende como uma "empresa de câmeras", mas será suficiente para retomar o ritmo como rede social?
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