Novos cabos submarinos melhoram sua internet, mas você dificilmente nota
É bastante provável que você tenha ouvido falar sobre os cabos submarinos de dados. Eles fazem parte de uma rede de cabos de fibra óptica, que interligam cidades, países e até continentes, como o nome deixa claro, passando pelo fundo do mar.
Nos últimos anos, houve diversas notícias de ligações do tipo envolvendo o Brasil. A mais recente foi inaugurada no início de 2018: trata-se do South Atlantic Cables System (SACS), que liga Fortaleza (CE) a Sangano, em Angola. Para os próximos meses também está previsto o BRUSA, um cabo que liga Fortaleza a Virgínia Beach, nos Estados Unidos, passando por San Juan, em Porto Rico.
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Mas como essas novas ligações podem melhorar a internet que você utiliza no dia a dia?
Caminho mais curto, velocidade maior
O uso de cabos de fibra óptica e não de satélites permite que as informações trafeguem em altíssimas velocidades, da ordem de terabits - o que, arredondando, daria um milhão de megabits, a unidade de velocidade usada em conexões domésticas.
"O volume de informações é muito maior do que o permitido por satélites. E um dos resultados disso é que a conexão entre pontos distantes fica mais ágil", explica o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da FEI, Antonio Gianoto. O caminho da conexão cabeada também é mais curto, uma vez que os dados não precisam "subir" até satélites e retornar ao solo - e mais tranquilo, já que condições climáticas quase não afetam esse tipo transmissão.
Só que isso não quer dizer que a conexão na sua casa terá uma melhoria imediata à medida que mais cabos desse tipo são instalados.
Gianoto ressalta que essas novas conexões não são destinadas ao consumidor final. "Esses cabos desafogam rotas de informações já existentes e conectam operadoras, que passam a ter uma banda de conexão maior para explorar. A partir daí, elas é que decidem como isso irá afetar o consumidor final".
Ou seja: não é porque uma operadora comprou uma determinada banda em um novo cabo submarino que ela, necessariamente, passará a oferecer novas velocidades para os seus clientes. Por outro lado, essas conexões são fundamentais para que essas operadoras tenham a possibilidade de oferecer novos pacotes de serviços aos consumidores.
Benefício quase "invisível"
Ainda assim, mesmo que não seja a ênfase dessas novas instalações, os consumidores finais poderão se beneficiar delas de uma forma mais sutil.
"Essas novas rotas de informações criam caminhos mais rápidos entre pontos de trocas de dados. Isso otimiza as conexões e ajuda a diminuir a latência", diz o diretor comercial da Angola Cables, André Martins. A empresa é a responsável pela instalação do SACS.
A latência nada mais é do que o tempo necessário para um pacote de informações ir até um servidor e voltar ao remetente. Quanto maior o trajeto percorrido, mais tempo é necessário para essas informações irem e voltarem.
Um exemplo prático da latência é o famoso "ping" dos jogos online. Quanto maior ele for, mais tempo uma ação comandada pelo jogador demorará para ser refletida no game. Quem joga games de tiro como "Call of Duty" ou "Battlefield", por exemplo, provavelmente já experimentou uma situação na qual, mesmo você tendo a sensação de ter atirado antes, na verdade sua ação ocorreu depois da do inimigo e você acabou morrendo.
Além da redução da latência, uma infraestrutura de internet mais eficaz também tende a melhorar a velocidade de downloads, já que há mais opções de caminhos para os dados percorrerem, e, consequentemente, aumenta a eficiência de serviços de streaming.
Uma latência menor beneficia usuários de serviços de streaming descentralizados, como a Netflix e o Spotify, melhorando a velocidade de conexão com esses sites
André Martins, diretor comercial da Angola Cables
O executivo afirma que o SACS reduz em até 30% a latência na conexão com a Ásia, por exemplo.
Rede menos saturada
Mesmo que, em um primeiro momento, os benefícios ao consumidor pareçam "escondidos", a instalação de novas conexões submarinas - e também a atualização de cabos mais antigos - é fundamental para permitir uma melhoria contínua da internet como um todo. Isso não apenas permite que possíveis gargalos atuais na largura de banda sejam eliminados, mas também agiliza a troca de informações pelo mundo.
Isso é especialmente crítico considerando que o perfil de consumo de internet em todo o mundo cada vez mais é direcionado a vídeos. Para se ter uma ideia, de acordo com um levantamento da agência asiática de marketing Syndacast, em 2018 os vídeos serão responsáveis por 79% de todo o tráfego de internet do mundo. Outro dado impressionante vem do Facebook: em 2016, a plataforma marcava 8 bilhões de visualizações de vídeos por dia.
E esses conteúdos se tornam cada vez mais "pesados", seja com duração maior ou, ainda, devido a popularização da resolução 4K. Isso acaba exigindo mais da infraestrutura da internet, o que faz com que a instalação de novos cabos venha a atender essa demanda.
Essas instalações também têm o potencial de promover determinadas regiões a pólos de telecomunicações. Tomando como exemplo o Brasil, Fortaleza é um dos lugares com o maior número de conexões com outros continentes.
A cidade tem potencial para ser um hub de telecomunicações mundial, se beneficiar disso e também ajudar a desafogar as conexões concentradas em São Paulo
André Martins
Ele ainda salienta que isso pode levar mais empresas de tecnologia para a cidade e, por consequência, enriquecer a região. E desafogar o tráfego numa cidade ou região também ajuda a melhorar a internet dessa área.
Ou seja, com os novos cabos, sua internet pode não voar, mas sem eles ela pode piorar bastante por ficar saturada.
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