Como startups brasileiras querem melhorar o saneamento básico do país
O saneamento básico do Brasil é historicamente deficiente. Exemplos disso vêm rápido à mente, como a recente crise hídrica que ocorreu em São Paulo, ou a seca que aflige o Nordeste há décadas sem soluções políticas eficazes o bastante para contê-la. Mas a tecnologia poderia ser uma ferramenta importante para melhorar essa situação.
Em um levantamento do Instituto Trata Brasil, que usou dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades), ficamos sabendo mais uma vez como o Brasil tem um saneamento ruim: 35 milhões de brasileiros (17% da população) ainda não são abastecidos com água potável.
VEJA TAMBÉM:
O mesmo estudo diz que mais de 100 milhões (48% da população) não têm coleta de esgotos e somente 45% dos esgotos gerados no país são tratados.
Startups estão à frente de algumas soluções interessantes que usam tecnologia em várias frentes para combater as deficiências do saneamento e abastecimento de água. Na segunda-feira passada (11), em São Paulo, o programa Iguá Lab realizou um evento especificamente para discutir novas ideias eficientes no setor.
O UOL Tecnologia procurou algumas startups que já estão há algum tempo investindo em soluções criativas que vão desde o tratamento hiperbarato e sustentável de água da chuva no semiárido até a limpeza ostensiva de lodo em estações de tratamento com o mínimo de energia.
"Superouvido" e monitor de micróbios
No Brasil, o índice de perdas de água tratada na distribuição é de 36,7%, segundo o SNIS. A Stattus4 é uma startup de Sorocaba (SP) surgida há três anos que trouxe uma solução eficiente para detectar vazamentos na rede hídrica: um "ouvido biônico" chamado Fluid.
A solução usa um sensor móvel que é encostado no hidrômetro de uma residência. Por meio de alteração do ruído da água ao passar pelo hidrômetro, o sensor analisa a chance de haver vazamentos. A prefeitura de Itabirito (MG) já dotou a solução, e há mais de 20 pilotos em empresas públicas e privadas de água como Sabesp (SP), Embasa (BA) e Aegea (MS).
"Em 15 segundos, o sensor analisa se há vazamento entre a rua e a casa. Ele fica conectado via Bluetooth pelo celular, e este manda a informação do vazamento por aplicativo, via internet 3G. Essa informação é enviada ao nosso painel de inteligência, que gera um mapa com todos os possíveis pontos de vazamento da região", explica a executiva-chefe da Stattus4, Marília Lara.
Outra ideia veio da estudante Anna Luísa Beserra, de Salvador. Aos 15 anos --hoje ela tem 19-- Anna criou sua própria startup, a SDW (Safe Drinking Water for All) para tocar seu projeto de limpar água da chuva para consumo no semiárido.
O Aqualuz é um dispositivo que usa um filtro de sisal para limpar as impurezas maiores e depois a água recebe luz solar para matar as bactérias nocivas ao corpo humano --o calor e a radiação ultravioleta cuidam disso em duas a quatro horas de exposição.
O reservatório conta com um monitor eletrônico de 14 litros que conta em tempo real a eliminação de microorganismos e muda de cor para sinalizar o fim do processo.
Além de sustentável, a grande vantagem da iniciativa é seu preço. O custo unitário é de cerca de R$ 400, "quando conseguirmos estrutura para comercialização em escala", diz Anna. Por ora, cinco unidades do protótipo estão ativadas nas cidades de Feira de Santana e Valente, geralmente afetadas por períodos de estiagem.
VEJA TAMBÉM:
- Sabia que a Disney tem um departamento de robótica?
- Carro-robô chinês entrega encomendas sem motorista
Chorume limpo e água simulada
Uma iniciativa mais ambiciosa é da Rewater, de São Paulo, que pretende limpar chorumes e grandes volumes de lodo e convertê-los em água de melhor qualidade para reuso, e geração de energia a partir dos resíduos.
A empresa usa um método chamado hidrocavitação, que é a formação de pequenas bolhas dentro do líquido que implodem e liberam grande quantidade de energia, elevando a pressão e a temperatura para níveis altos.
Isso quebra a molécula de água em duas, gerando um radical OH, oxidante poderoso no tratamento e que torna a água que sai de chorumes 95,4% mais limpa, e 62,77% no caso de lodos. O processo não lida com substâncias químicas e está sendo aplicado em mais de 20 cidades paulistas.
A Rewater diz que seu método é energeticamente mais eficaz que os da concorrência. "A eletrônica é usada para realizar um controle inteligente baseado nas variáveis necessárias para o processo funcionar de forma mais eficiente em consumo de energia elétrica e na remoção de contaminante", diz o fundador da startup, Caius Camargo.
Já a Tauflow, de Curitiba mas incubada na Unicamp, consegue uma boa gestão da água sem sequer molhar as mãos, com simulações em 3D no computador para saber como água e gases se comportam dentro das tubulações. As vantagens? Pouco custo, maior segurança, tomadas de decisão melhores e mais testes de cenários, garantindo melhor performance na execução prática.
O custo da solução depende da aplicação. "Como se trata de um serviço que é capaz de detectar a causa raiz do problema e propor soluções, não existe necessidade de manutenções", destaca Marcílio Caetano, chefe da Tauflow.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.