Netflix e afins podem ficar tão caros quanto TV a cabo?
Provavelmente você ou algum conhecido seu já mergulhou na tendência atual: cancelou a TV a cabo para assistir a conteúdos apenas em serviços como Netflix. A transição é mundial e forte principalmente entre jovens, o que mostra que a tradicional televisão com canais e grade de horários pode ficar no passado. Mas e se os próprios serviços como Netflix virarem uma espécie de "TV a cabo sob demanda", cada um com seu pacote, conteúdos e preços?
Não entendeu o perigo para o seu bolso? Calma. Tudo faz parte do mercado e das donas de conteúdo perceberem o aumento do consumo de conteúdos sob demanda. E isso é tão forte – e vantajoso para as empresas – que cada uma quer ganhar dinheiro com isso. Aí quem pode perder, novamente, é o consumidor – você e muita gente.
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Streaming vai virar uma TV a cabo?
A popularização do streaming tem um efeito colateral: a proliferação de serviços do tipo, com cada um podendo monopolizar seu próprio conteúdo. Já temos ativos no mundo serviços da Netflix, da Amazon Prime, da HBO Go, do Hulu, Fox e outros. Agora, Disney, DC, Apple e outras companhias também preparam suas plataformas.
Você provavelmente paga atualmente cerca de R$ 30 pela sua Netflix (e, talvez, outros R$ 30 extras pela sua HBO). Agora imagine se cada estúdio de cinema ou produtor de conteúdo criar sua própria plataforma e retirar material da Netflix, restando a ela somente os seus originais. Caso todas as plataformas façam isso, a conta poderá chegar facilmente a R$ 150 por quatro ou cinco serviços caso você queira ver tudo o que estiver disponível no mercado.
Atualmente, contratar TV a cabo envolve algo semelhante - você precisa escolher "pacotes" com determinados canais, que vão elevando cada vez mais o custo. O problema é que provavelmente cada canal que você realmente quer fica junto a outros vários que você não tem interesse - e por isso a conta pode passar facilmente dos R$ 200.
“Quando vamos para mercados mais maduros, como nos EUA, já vemos essa divisão. Vai virar (uma espécie de TV a cabo), mas o valor unitário pago para o streaming com certeza é menor que o pago pela TV a cabo. Hoje se convive com as duas coisas. A partir do momento que a oferta de plataformas de streaming aumentar, isso vai deixar a TV a cabo de lado. O modelo será semelhante ao de TV a cabo, então é escolher o limite e gastar”, aponta Ricardo Moura, diretor de produtos na América Latina da GfK.
Segundo pesquisa da Ericsson, o uso médio de serviços de vídeos sob demanda cresceu de 1,6 plataforma por usuário em 2013 para 3,8 em 2017. Os principais fatores ao escolher um novo serviço são preço e conteúdo disponível. A tendência, para especialistas, é que empresas apostem em modelos híbridos – ao mesmo tempo em que tenham seus serviços de streaming, podem vender conteúdos para outros e também ter seu canal mantido na TV a cabo.
“Nesse momento todo mundo quer experimentar e ver se dá lucro. Tenho certeza que não vai durar para todo o mundo. Alguns depois vão licenciar, podem trabalhar com modelo híbrido como a HBO. Acho que muita gente terá modelo hibrido com serviço próprio e vendendo conteúdo”, opina Fernando Paiva, coordenador do site Mobile Time, que faz pesquisas sobre serviços de streaming em celulares.
Até por isso que as grandes empresas de streaming, como Netflix e Amazon, cada vez mais investem em conteúdos próprios e originais: com suas próprias séries e filmes, fideliza o consumidor e evita que ele abandone o serviço se, por exemplo, a Disney decidir retirar todos os seus filmes da plataforma – algo semelhante já aconteceu com os conteúdos da Fox na Netflix.
Mudança de paradigma
Virando uma nova TV a cabo ou não, o modelo de streaming ao menos deu ao consumidor um novo paradigma com a possibilidade de assistir ao conteúdo na hora que quiser, no dispositivo que tiver. Isso, por si só, representa uma grande mudança no setor.
“O pessoal que assiste à Netflix, HBO, YouTube e tudo mais chega à conclusão de que não precisa ter TV a cabo porque nela tem que ver no horário que os canais querem, tem um cardápio de filmes limitado. Enquanto no streaming tem mais ofertas, é mais confortável, vê na hora que quiser, pode ver um pedaço e voltar se tiver dúvida. O on-demand chegou pra dominar tudo”, crava Francisco Camargo, presidente da Abes (Associação Brasileira de Empresas de Software).
TV a cabo já era?
Segundo estudo da GfK nos Estados Unidos, 72% da geração millenial (nascidos de 80 a 95) define TV como algo que vai além do tradicional. Para eles, assistir à TV significa ver conteúdo em qualquer dispositivo e em qualquer lugar, não apenas no televisor em algum cômodo da casa. Já a “now generation” (pós-millenial) tem um número ainda mais chocante: 71% afirma que o streaming substituiu a TV linear.
Existem dados da Ericsson, compilados em 40 países, que ressaltam ainda mais essa tendência: pesquisa da companhia publicada no ano passado diz que em 2020 apenas uma em 100 pessoas ficará presa ao sofá assistindo à TV tradicional.
Isso, claro, se reflete nos números. A TV a cabo, nos últimos anos, enfrenta um recuo em sua base de assinantes. Em 2017, por exemplo, houve queda de 5% no número de usuários no setor, segundo a Anatel. Já a Netflix anunciou no início do ano que sua base global de assinantes aumentou em 25% - de 2016 para 2017, o número de assinantes dobrou no Brasil,
“Nos Estados Unidos já é tendência: as novas gerações têm o streaming como plataforma principal de conteúdo. No Brasil vemos que a geração mais nova consome mais streaming do que a mais velha. Aqui tem barreiras como tecnologia, penetração de internet, questões tecnológicas e questões de grana que acabam postergando, mas é o futuro”, afirma Moura.
Nem tão rápido assim
Por enquanto, parece que o maior diferencial das TVs a cabo são os eventos ao vivo, principalmente os jornalísticos e esportivos. Mas até isso vem mudando: o Facebook comprou direitos para passar jogos da Libertadores 2019 na sua plataforma, enquanto o YouTube vai passar jogos do Brasileirão em alguns países do exterior ao vivo. Mas há quem vislumbre dificuldades técnicas para isso, por enquanto.
“Se muita gente decidir ver um jogo da Copa por streaming, a rede ficará sobrecarregada e muitas telas acabarão 'em espera', sem vídeo algum. Para garantir a audiência de eventos ao vivo, tem que passar em meios lineares - radiodifusão ou TV por assinatura, a cabo ou via satélite. Basta verificar as estatísticas de grandes eventos mundiais para ver a diferença de grandeza entre as audiências pelas mídias lineares e por streaming”, afirma Olímpio José Franco, engenheiro e superintendente da SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão).
As operadoras de TV a cabo, contudo, já se armam para o futuro com seus próprios serviços de streaming. A Net, por exemplo, tem o Net Now, que conta com lançamentos de filmes mais rapidamente do que as plataformas de streaming. Já a Vivo fechou recentemente parceria com a Netflix.
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