Em 10 anos, App Store foi de teimosia de Steve Jobs a negócio bilionário
Uber, Netflix, Waze, Spotify, Instagram e WhatsApp provavelmente não existiriam se Steve Jobs fosse mais teimoso. Há dez anos, o então chefão da Apple deu o braço a torcer, permitiu que desenvolvedores de fora da empresa criassem ferramentas para o iPhone e inaugurou uma vitrine para esses serviços.
Nascia a App Store e, de quebra, o bilionário negócio dos aplicativos para smartphones, que tornaram esses aparelhos mais sexy que computadores, a ponto de virarem o centro da experiência digital.
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Hoje, a Apple é só sorrisos para a App Store.
"Nessa primeira década, a App Store superou todas as nossas expectativas mais malucas – desde apps inovadores com que desenvolvedores sonharam até o jeito com que consumidores fizeram apps parte de suas vidas cotidianas. E isso está apenas começando. Nós não poderíamos estar mais orgulhosos do que desenvolvedores criaram”, vibra Phil Schiller, vice-presidente de marketing global da Apple.
Steve Jobs contrariado
Mas não foi fácil chegar até aqui – muito por culpa da própria Apple. Ao lançar o iPhone em 2007, Jobs queria fazer do aparelho um computador de bolso destinado a abrigar somente aplicativos da Apple. A ideia era evitar que o smartphone virasse alvo de vírus como os PCs.
Tão logo Jobs anunciou que o iPhone só funcionaria nos Estados Unidos e com uma operadora de celular só, nerds se uniram para criar “jailbreaks” que o permitissem ser usado em outros lugares do mundo e atendido por outras empresas. Só que eles não pararam por aí.
Logo, a criatividade desses desenvolvedores atropelou a estratégia da Apple. Com pouco mais de 15 aplicativos que vinham instalados de fábrica, o iPhone até podia rodar outras aplicações. Desde que fossem feitas para o navegador Safari. Sim, o plano era apostar que os criadores fariam os chamados “webapps”.
Não pegou. Tanto é que um ano e dois meses depois de o iPhone revolucionar o mundo, a Apple dava um passo atrás: liberou um kit de desenvolvimento para criadores de apps, o mesmo conjunto de ferramentas que seus engenheiros usavam para criar recursos para o aparelho. Em 10 de julho de 2008, a App Store foi aberta com 500 aplicativos, como os do “New York Times”, do eBay e da liga de baseball MLB.
Houve uma empolgação e um incrível senso de antecipação no dia em que a App Store foi lançada, mas nós não achávamos que qualquer um tinha noção do imenso impacto que esses apps teriam sobre o jeito que os fãs assistem esportes
Chad Evans, vice-presidente da MLB para desenvolvimento de produto.
Talvez o frisson com a loja tenha sido obliterado porque ela foi anunciada juntamente com o iPhone 3G, o primeiro com GPS e que podia acessar a rede de celular 3G. Mas os desenvolvedores adoraram: no dia seguinte, quando o novo celular começou a ser vendido, já havia 300 aplicativos a mais na loja.
Alguns apps, aliás, ensinaram a própria Apple como é que as pessoas queriam usar o iPhone. A empresa só incluiu uma câmera que gravasse vídeos na terceira versão do celular, lançado em 2009, após a App Store já abrigar vários aplicativos destinados a isso.
Em 10 anos, a App Store cresceu. Foi de algumas centenas para milhões de aplicativos. A divisão da Apple que cuida desses serviços já é que mais rende dinheiro para a empresa depois da responsável pelos iPhones. Ou seja, deixa para trás Macs e iPads. Só no primeiro trimestre de 2018, faturou US$ 9,1 bilhões.
Grande negócio
A App Store não é apenas um grande negócio para Apple. Ela também fomentou a distribuição de outros serviços. Com ela, os desenvolvedores só têm de se preocupar em criar um sistema para viabilizar seu plano de negócio. Ficam a cargo da dona da maçã duas partes importantes do processo: garantir que a conta vai ser paga no fim do mês e atrair visibilidade para o aplicativo.
Em 2009, a Apple liberou as compras dentro de aplicativos. Isso é o que permite comprar itens em um jogo como “Clash Royale”. No ano seguinte, o sistema melhorou para abrigar aplicativos que ofereciam assinaturas, como a Netflix. Parece que tem dado certo. Desde o surgimento da App Store, a Apple distribuiu US$ 100 bilhões aos criadores de aplicativos.
Impérios comerciais foram fundados com base em seus aplicativos. Os exemplos vão da Uber, que desafiou o status quo do transporte público, ao Netflix, que quebrou paradigmas do consumo de mídia, e passa pelo Spotify, que, além de ser um dos carros-chefe da nova era da música digital, sambou na cara dos grandes bancos ao adotar uma forma diferente – e bem sucedida-- para chegar à Bolsa de Valores.
Nem sempre, porém, aplicativos foram essa fonte de dinheiro toda. Uma viagem no tempo para o primeiro ano da App Store mostraria tempos mais pueris, em que a lista dos apps pagos mais baixados abrigava serviços como “Koi Pond” e “iBeer”. O primeiro, que ocupou o topo em 2008, mostrava peixes nadando na tela do celular. A graça é que, conforme os dedos tocavam em algum ponto, os bichinhos reagiam. Já o segundo app transformava o celular em um copo de cerveja que era esvaziado à medida que o aparelho era inclinado.
Vitrine para recursos
Okay, não eram lá os serviços mais surpreendentes já criados, mas sinalizavam uma mudança fundamental.
“Antes de 2008, a indústria do software era dominada por poucas grandes companhias. A App Store abriu a porta para qualquer desenvolvedor, de lojas mantidas por uma pessoa até grandes estúdios”, afirmou Evans, da MLB.
Além disso, esses apps faziam algo que a Apple passou a adorar. Eles colocavam em primeiro plano alguns trunfos do iPhone: a tela sensível ao toque no caso do “Koi Pond” e o giroscópio e outros sensores de movimento, no caso do “iBeer”. Hoje em dia, não basta ser o mais popular, para ocupar posições de destaque na App Store, tem que explorar as novidades que a empresa introduz no iOS e no iPhone.
Para a Apple, dar esse empurrãozinho é parte da estratégia de continuar viva no mercado. Em documento distribuído a investidores e a entidades reguladoras, a empresa admite que parte de seu sucesso é garantido pelo trabalho de outras companhias.
“Com respeito aos dispositivos iOS, a companhia depende da oferta e do desenvolvimento de aplicações atraentes e inovadoras, incluindo aqueles distribuídos pela App Store."
E a indústria sabe disso. “Startups como Instagram, Calm, Uber e Instacart abraçaram recursos como a câmera, Apple Pay, GPS e os serviços de localização para entregar experiências personalizadas e sob demanda, com muitas criando negócios bilionários que começaram com apps na App Store”, contam os fundadores da Imangi Studios.
“Tanto companhias tradicionais quanto aquelas que começaram como sites, como Twitter, Facebook, eBay, Yelp e Airbnb e Amazon, começaram a construir apps que endereçaram a mudança do comportamento do consumidor”, comentam os fundadores da Imangi.
“Como resultado, os apps se tornaram um dos mais importantes jeitos de consumidores interagirem com negócios e dar conta das tarefas do dia a dia.”
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