Ao completar 50 anos, Intel "esquece" os PCs para se manter gigante
Apesar de não ser tão falada quanto Microsoft, Apple e Samsung, a Intel é uma daquelas gigantes de tecnologia que certamente passaram por sua vida. Em algum momento você usou - e ainda deve estar usando!
Ao chegar aos 50 anos, comemorados neste mês, a empresa encara agora a necessidade de nos próximos anos deixar de ser "PC-cêntrica" e superar o fato de não ter se dado tão bem no mercado de celulares - desafio similar ao da Microsoft. Para isso, ela tenta expandir seu foco para além dos PCs, como internet das coisas, drones e carros autônomos e o mundo da big data.
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O futuro está nas coisas?
Equipar as CPUs de computadores e servidores ainda permanece como principal negócio da Intel - metade da receita de US$ 16,1 bilhões ainda vem da venda de chips para computadores. Porém, a companhia passou a olhar para outros segmentos.
Um deles é o de internet das coisas - segmento que permite conectividade a diferentes objetos, de torradeiras a turbinas de avião. Segundo a Juniper Research, 50 bilhões de aparelhos estarão conectados à rede em 2022, o que vai exigir sensores, chips e sistemas de comunicação para todos eles. A consultoria MarketsandMarkets estima que será um mercado de US$ 561 bilhões.
Para isso, ela saiu às compras. Entre elas está uma empresa alemã especializada em chips para objetos conectados, adquirida em 2014. A mais recente aquisição foi no mês passado da eASIC, especialista em aplicações para circuito integrado que será importante neste plano de equipar objetos inteligentes.
Assim, nos últimos anos, a Intel vem apresentando diversos experimentos no segmento, incluindo muitos em vestíveis: relógio inteligente, fones de ouvido com recursos biométricos, serviço de conteúdo de TV pela internet e óculos inteligentes.
Nenhum deles ainda emplacou como as famílias de chips para PCs já fizeram no passado, mas a companhia enxerga possibilidades. Hoje, o setor de IoT representa US$ 840 milhões da receita atual da Intel, e vem apresentando crescimentos seguidos a cada trimestre.
Carro e drones
Em 2016, a Intel passou a trabalhar com a BMW, e no ano passado, com a Waymo, unidade da Alphabet (controladora do Google) no desenvolvimento de tecnologias para carros autônomos.
Seu maior pulo nesse nicho foi ter comprado por US$ 15,3 bilhões a MobileEye, empresa israelense que fabrica sensores que ajudam a detectar obstáculos nas ruas. Uma demonstração dessa tecnologia aconteceu no palco da CES deste ano, além de um protótipo de "carro voador" não tripulado chamado Volocopter.
Falando em voo, a Intel também está desde 2015 de olho nos drones, ao pesquisar e testar um ecossistema forte para eles, com sensores, comunicações e integração na nuvem. Como prova de fé, bateu o recorde mundial com 1.218 drones voando simultaneamente durante a cerimônia de abertura Jogos Olímpicos de Inverno, na Coreia do Sul, no começo deste ano.
Pelo retrospecto recente, a Intel acredita que "coisas", carros e drones espertos e automáticos serão "o novo computador" - isto é, a grande evolução tecnológica para a próxima década. Por isso a empresa já se assume menos uma fabricante de chips e mais de dados.
Dados na nuvem: a prometida mina de ouro
Seguindo o movimento de outras grandes, como Amazon, Microsoft, IBM e Google, a Intel também aposta em dados e inteligência artificial.
Um dos produtos recentes da empresa é uma tecnologia chamada FPGA (sigla para "matriz de portas programáveis em campo") para alimentar plataformas de inteligência artificial. “A transformação da Intel em uma empresa centrada em dados está bem encaminhada e nossa equipe está produzindo excelentes produtos", disse Bob Swan, executivo-chefe interino da empresa.
A inteligência artificial está transformando indústrias e mudando a forma como os dados são gerenciados, interpretados e, o mais importante, usados para resolver problemas reais para pessoas e empresas mais rapidamente do que nunca Reynette Au, vice-presidente de marketing do Grupo de Soluções Programáveis da Intel
Para Gabriel Aleixo, pesquisador sênior do ITS-Rio (Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio de Janeiro), essa mudança de foco não chega a ser uma guinada completa, deixando de olhar apenas para o hardware (processadores) para o software (infraestrutura e soluções em servidores).
"A Petrobras não trabalha com petróleo, mas com energia. Se o petróleo acabar, ela vai ter que trabalhar com outras. Isso vale para a Intel: o 'business' dela e processamento, e com soluções de IA pode-se economizar um turbilhão em processamento. O negócio deles apenas vai deixar de ser tão tradicional para se adaptar à nova era", explica Aleixo.
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Os desafios recentes
Para que esse plano de futuro dê certo, a Intel demonstra uma tentativa de aprender com os erros recentes para não repeti-los e perder terreno em mercados potenciais.
Na última década, enquanto o uso do computador pessoal caía à medida que o segmento móvel cresceu, a Intel sofreu um grande baque ao não conseguir reproduzir a liderança nos PCs. Chips da Qualcomm, Apple e Samsung se tornaram predominantes.
Em 2013, o ex-CEO Paul Otellini admitiu que Steve Jobs pediu que a Intel construísse o microprocessador do iPhone, e o pedido foi recusado. Algo que poderia ter sido fundamental para a Intel vingar nos celulares.
Mike Bell, chefe da Intel na área móvel, dizia em 2012 que "não via futuro na ARM", empresa que licencia sua arquitetura para chips de celulares de todo o mundo. A empresa até tentou compensar o erro, com seus processadores Atom em poucos aparelhos da Motorola, Asus e Acer, mas o estrago estava feito. Em 2016, a empresa praticamente desistiu do segmento móvel.
No ano passado, o reinado da Intel sofria outro revés: a Samsung a ultrapassou como maior fabricante de semicondutores em receita pela primeira vez, algo inédito desde 1993. Já entre os fabricantes de processadores para celulares, a Intel é carta fora do baralho. O mercado é dividido entre Qualcomm (41% de fatia de mercado), Apple (21%), Mediatek (18%) e Samsung (8%) sendo os principais nomes.
Com tudo isso, os próximos 50 anos da empresa prometem.
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