Como médicos gaúchos usaram impressora 3D para reconstruir crânio por R$ 45
Não é novidade que a impressão 3D anda revolucionando diversos setores, inclusive o da medicina. Ela já foi usada, por exemplo, para criar olho biônico e córneas, joelhos artificiais, cartilagem de orelha e nariz, substitutos ósseos, órteses para coluna vertebral, pele para feridas... Agora, médicos do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), no Rio Grande do Sul, usaram a tecnologia para moldar um implante ósseo e reconstituir um crânio.
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O homem, de 40 anos, sofreu um acidente automobilístico em março deste ano e perdeu quase a metade do osso da cabeça. Chegou ao hospital em estado gravíssimo e em coma profundo.
"Nos exames, vi que ele tinha um hematoma e estava com o cérebro bem inchado devido ao traumatismo. Fizemos uma craniotomia, que é um procedimento cirúrgico em que um retalho ósseo do crânio é temporariamente removido e colocado na parte (subcutâneo) do abdome para depois reaproveita-lo", disse o médico cirurgião Diogo Trevisan Silveira.
Mas, devido à complexidade do caso e ao tamanho da fratura, o osso do crânio que havia sido removido provisoriamente precisou ser descartado.
Segundo Silveira, na maioria dos casos que envolvem traumatismo craniano se usa um tipo de cimento ósseo, que geralmente é moldado na hora pela própria mão do médico que conduz a cirurgia. Esse "cimento" serve para proteger o cérebro e cobrir pequenos defeitos.
É um trabalho bem artesanal e funciona como uma massinha de modelar, que em alguns minutos endurece e você não consegue dar o contorno. Quando a falha óssea é pequena, funciona. Mas, nesse caso, era grande demais e não conseguiríamos reproduzir o contorno do osso do paciente rapidamente
Foi aí que a equipe optou pela impressora 3D. Ela foi usada para criar um molde perfeito, chamado biomodelo, feito com as exatas medidas do paciente, obtidas a partir dos exames de tomografia feitos antes e depois da primeira cirurgia de remoção de parte do crânio. Dentro desse molde, foi colocado o cimento ósseo, a base de PMMA (polimetilmetacrilato).
"O implante já chegou pronto no bloco cirúrgico" contou Gustavo Dotto, médico da equipe e professor na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Isso reduziu o tempo do procedimento e da anestesia, diminuindo também o risco de infecção.
Antes de colocar a peça no paciente, o médico passa um selante, para que ela não grude, e depois leva-a até uma máquina que esteriliza em baixa temperatura, chamada V-pro.
Após uma semana do primeiro procedimento cirúrgico, realizado com sucesso, o paciente recebeu o implante ósseo totalmente customizado.
Esta foi a primeira vez que um procedimento cirúrgico assim foi feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), usando biomodelos para planejamento pré-cirúrgico com matéria-prima (filamento de PLA, o poliácido láctico) compostável, biodegradável, reciclável e bioabsorvível e apelando para bons computadores e softwares de uso livre e/ou código aberto para impressão de baixo custo.
Gastamos com o material incluso, R$ 45 apenas
Dotto
"Estes procedimentos existem no setor privado, só que o custo é muito alto, mais de R$ 50 mil. Inclusive os planos de saúde não cobrem o preço da impressão 3D. Já pelo SUS o custo é bem baixo", afirmou.
Entre as vantagens do uso da impressora 3D, Dotto destaca o baixo custo na manutenção dos equipamentos e a qualidade:
Optamos por impressoras de fabricação nacional, que são produzidas em Porto Alegre (RS) e custam em média R$ 10 mil cada
O Hospital Universitário de Santa Maria, que atende somente pelo SUS, agora conta com duas impressoras.
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