Ex-dono de gravadora quer te levar para dar um rolê no espaço
Você deve conhecer alguns dos principais nerds bilionários do mundo tecnológico que estão por aí: Jeff Bezos, conquista o mundo com uma empresa que "não dá lucro". Bill Gates faz a linha "bom moço e filantropo". Mark Zuckerberg, explora nossos dados enquanto mantém a aparência de homem simples. Elon Musk é o visionário problemático. Nenhum deles, porém, é como Richard Branson.
O dono do grupo Virgin veio a Terra para causar - e, se der, levar você ao espaço!
Vá lá que seus bilhões são humildes em comparação com os colegas da lista - são só US$ 5 bilhões frente aos mais de US$ 150 bilhões de Bezos. Mas é quase certo que Branson se diverte mais do que os outros acima.
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Ele já se vestiu de noiva, astronauta, guerreiro Zulu e aeromoça. Também já apareceu seminu em lançamento de produtos, tentou atravessar o Canal da Mancha em um carro anfíbio, tentou quebrar o recorde de velocidade na travessia do Atlântico num Iate meia dúzia de vezes e tentou voar ao redor do mundo num balão duas dúzias de vezes. (O verbo tentar é importante: quase sempre dá "meio errado").
Excentricidades à parte, o inglês é um homem de negócios de sucesso. A Virgin, fundada por ele em 1972 ao lado de Nik Powell, é uma multinacional com mais de 70 mil funcionários e que atua em áreas que vão da saúde ao entretenimento, do mercado financeiro a exploração espacial. Claro, como não raro entre seu seleto grupo de iguais, Richard Branson quer chegar às estrelas.
Em 2004 (quatro anos depois de Bezos lançar a Blue Origin, e dois anos depois de Musk criar a SpaceX), Richard abriu a Virgin Galactic. Só que, ao contrário dos concorrentes, a Virgin Galactic trabalha com um foco bastante específico: voos espaciais de turismo.
Desde que a empresa surgiu, Branson estabelece metas ambiciosas para quando isso vai acontecer. Primeiro em 2009, depois em 2010 e em 2011. O desenvolvimento tecnológico ainda não deu conta de transformar os planos em realidade, por mais que um dos engenheiros responsáveis pelas aeronaves seja Burt Rutan, pioneiro que criou o primeiro avião a voar ao redor do mundo sem parar para reabastecer, em 1986. A promessa atual é de que até o final de 2018 a viagem aconteça.
Em 2014, os planos da Virgin Galatic sofreram um baque quando o USS Enterprise (referência a Star Trek) caiu durante um voo de teste - um piloto morreu e outro ficou muito ferido. Depois de quatro anos em banho-maria, o projeto voltou ao ar em abril, quando o USS Unity, aeronave semelhante ao Enterprise, foi testada com sucesso.
Embora sem data, o voo já tem preço: US$ 250 mil. E o plano de Branson é fazer voos suborbitais. Ou seja, é quando a aeronave não realiza uma volta completa ao redor da Terra, a uma altura de 110 km. Se a tecnologia é um entrave, o empresário tem ao seu lado experiência nos ares e tino comercial de sobra.
Companhia aérea
Em 1984, quando já era um homem de sucesso no meio da música, Branson fez uma viagem ao Caribe com a então namorada Joan Templemen (com quem se casou em 1989 e está junto até hoje). Os dois estavam em Porto Rico e planejavam ir às Ilhas Virgens Britânicas, mas o voo que os levaria foi cancelado.
Frustrado e na mesma situação que dezenas de outros passageiros, Branson decidiu fretar um avião e cobrar US$ 39 das pessoas que quisessem pegar uma carona. Meses depois, nascia a Virgin Atlantic, com base na Inglaterra. Nos anos seguintes, a Virgin abriu subsidiárias no ramo da aviação ao redor do mundo.
A empresa chegou até a flertar com a abertura de uma companhia de voos domésticos no Brasil, mas o negócio não foi para frente. Foi por pouco que Branson não abriu asas no Brasil. Em 2007, quando o empresário brasileiro de origem americana David Neeleman abriu a Azul, ele convidou Richard para ser seu sócio.
O dono da Virgin não aceitou, mas em uma entrevista para a "Istoé Brasil" em 2011 mostrou uma pontinha de arrependimento. “Reconheço que fomos um pouco lentos em relação ao Brasil”, disse.
Tira o pé do chão
Antes de decolar, Richard Branson ficou rico vendendo discos. E desde então ele já tinha um jeitinho especial.
Em 1980, quando a banda inglesa de new wave XTC se preparava para lançar seu quarto disco, "Black Sea", o dono da gravadora deles insistia em participar do clipe do single "General and Majors". Insistiu tanto que os membros do XTC foram até a mansão dele gravar um vídeo tosco e meio sem pé na cabeça.
O tal dono da gravadora? Richard Branson. Ele é o loirinho de cavanhaque vestido de militar. Anos depois, o vocalista do XTC Andy Partridge disse que o clipe “era o pior vídeo já feito pela humanidade”.
Nessa altura do campeonato, a Virgin Records já era uma gravadora gigante e havia lançado discos desde nomes importantes do punk e pós-punk inglês, como Sex Pistols e Public Image Ltda, a bandas de rock experimental alemão, como Faust e Tangerine Dream. Isso sem contar cantores mais famosos, como o Gene Simmons, do Kiss.
Tudo começou, no entanto, mais de uma década antes. Nascido em 1950 em Londres, Richard Branson era um jovem disléxico e ruim de escola, sobre quem um professor chegou a dizer que acabaria na prisão ou se tornaria rico. Em 1968, ele enveredou pela segunda opção com a "Student", uma revista para o público jovem que logo chamou atenção de marcas interessadas em parecer "descoladex".
A "Student" pegou - um dos temas centrais era música. Logo, Branson percebeu que uma das seções mais movimentadas era de anúncio de discos. Assim, no fim dos anos 1960, criou um negócio de venda deles por correio junto ao amigo Nik Powell. Com o dinheiro dessa empreitada, os dois lançaram a Virgin Records em 1972.
Foi a estreia da marca Virgin - uma referência, segundo a lenda, ao fato de ambos serem inexperientes no mundo do dinheiro. Vinte anos depois, em 1992, a necessidade de fazer caixa para Virgin Atlantic (a companhia aérea) falou mais alto e a gravadora foi vendida para a EMI por US$ 300 milhões.
Quando a venda aconteceu, Branson chorou pelo fim do começo do império. Mas esquecido o passado, era hora de fazer mais dinheiro.
Midiático?
Pode parecer contraditório, mas apesar de ser mais extrovertido que seus pares, Richard Branson é muito menos personalista nos negócios. Com exceção de Bill Gates - que se afastou da Microsoft viver de filantropia -, Bezos, Zuckerberg e Musk são sinônimos das empresas que comandam. Estão lá no dia a dia, tem voz forte nas decisões e fazem ou perdem bilhões na pessoa jurídica conforme os vacilos e acertos da pessoa física.
Branson não. Nesse ponto, ele é bastante tradicional. Empreendimento de pé, um executivo-chefe no lugar, e o cara parte para o próximo negócio. A Virgin opera no mesmo modelo labiríntico de grandes conglomerados, com subsidiárias em sociedade com outras companhias e uma organização empresarial complexa de muitas faces.
Uma das maiores e de mais sucesso delas é a Mobile, de telefonia móvel - que também já ensaiou vir para o Brasil. Em um crossover dos bilionários, em outubro do ano passado, Branson investiu uma grana não divulgada no Hyperloop One (Novo nome: Virgin Hyperloop One), uma das startups que desenvolve as cápsulas de alta velocidade imaginadas por Elon Musk.
Na mesma medida que acertou, Richard Branson também teve fracassos monumentais. Empreendimentos nos setores de aluguel de carros, vestuário, publicação de livros não deram certo, assim como a ideia meio esdrúxula de uma empresa de casamentos (Virgin Brides) e outra de refrigerantes (Virgin Cola).
De qualquer forma, ninguém pode acusá-lo de fazer corpo mole para divulgar suas marcas. No lançamento da Virgin Brides, Branson desfilou vestido de noiva. No da Cola, dirigiu um tanque pelo meio de Nova York para mostrar que ia entrar em guerra com Coca e Pepsi.
Por mais que esse personagem midiático excessivo pudesse resultar em um cara antipático, a verdade é que é difícil resistir ao sorriso sempre aberto de Richard Branson. Como se não bastasse, ele ainda encontra tempo para se envolver em iniciativas contra poluição, aquecimento global e outras questões humanitárias.
De quebra, Richard é Cavaleiro da coroa britânica. Sir Richard Branson.
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