"Digite no Google": como a busca virou arma para convencer eleitores
Um dos comportamentos mais automáticos do nosso cotidiano é buscar no Google sobre qualquer assunto. Mas com as eleições chegando à reta final do primeiro turno, eleitores estão sendo orientados a buscar termos específicos para endossar pontos de vista de certos candidatos.
A coluna "Painel" da Folha de S. Paulo divulgou a informação, no domingo (30) e na segunda-feira (1), de que a equipe da campanha digital do candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) teria espalhado em redes sociais um "desafio do Google", sugerindo que internautas pesquisem a frase "o pior prefeito do Brasil" no site de buscas.
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O objetivo da campanha era usar os resultados como arma de convencimento para desgastar a imagem do candidato rival, Fernando Haddad (PT). Na ocasião, o primeiro resultado da busca apresentava um link sobre Haddad com o nome do site "Folha Política", que não tem vinculação com o Grupo Folha e é associado à disseminação de boatos.
O contexto usado no título é de uma pesquisa da Vox Populi de 2014, em que Haddad atingiu tal posição.
O UOL repetiu a busca ao longo desta semana. Na segunda-feira, um link com o nome da Folha Política levava ao site "JusBrasil", plataforma de conteúdo sobre Justiça no qual é possível qualquer pessoa se cadastrar e escrever textos.
Ao longo da semana, o link deixou de aparecer na primeira página de resultados do buscador. Atualmente, ao clicar no link, a página dá erro e não mostrava o seu conteúdo. Além disso, resultados de outros sites de notícias já aparecem nos resultados, principalmente repercutindo as notas da Folha de S. Paulo.
Contra-ataques
O caso acima não foi o único do gênero. Na verdade, eleitores de Haddad, Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT) também mobilizaram as pessoas nas redes sociais com seus próprios "desafios do Google".
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As mensagens pedem para que se busque os termos "432%" e "o pior político", e os resultados retornam notícias envolvendo a porcentagem do aumento de patrimônio do filho de Jair, Eduardo Bolsonaro (PSL), nos últimos quatro anos; e a repercussão de um artigo sobre Bolsonaro em um site australiano, em 2017.
A militância de Bolsonaro veio com outra sugestão de busca, "852%", em referência ao aumento de patrimônio de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre 2006 e 2018.
Já os eleitores de Ciro Gomes propuseram um desafio para beneficiar o candidato, pedindo para se buscar "governador mais popular" no Google. O primeiro resultado encaminha à "Veja", que menciona reportagem de 1992 sobre o então governador do Ceará --na época, Gomes tinha aprovação de 63% da população do estado.
De fato, segundo a ferramenta de tendências de busca Google Trends, houve um aumento na procura por esses termos nos últimos dias, com destaque para o "432%".
Procurados pelo UOL, as campanhas de Bolsonaro, Haddad e Ciro Gomes negaram ter qualquer envolvimento com todas essas mobilizações de buscas no Google.
A lei eleitoral diz que "a livre manifestação do pensamento do eleitor identificado ou identificável na internet somente é passível de limitação quando ocorrer ofensa à honra de terceiros ou divulgação de fatos sabidamente inverídicos".
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) disse que a Justiça Eleitoral não notifica campanhas sem que haja um processo em tramitação. Até o momento, nenhuma das campanhas abriu ações neste tema, nem no TSE nem no Ministério Público Federal, responsável pelo MP Eleitoral.
Mas essas buscas fazem sentido?
O UOL procurou o Google para entender a questão tanto o funcionamento do algoritmo de buscas --e de seus possíveis usos com viés eleitoreiro-- quanto a disseminação de prováveis boatos e imprecisões nos resultados de busca.
As táticas também suscitaram dúvidas sobre aumentar o ranqueamento de páginas nos resultados por meio de "bots" (robôs de comportamento na internet), com diferentes IPs de acesso, um tipo de "endereço digital" de cada computador com acesso à web. O aumento artificial de acessos poderia, assim, melhorar o ranqueamento?
A empresa informou, por sua assessoria de imprensa, que diversos fatores influenciam nos resultados da busca, como análise ortográfica e semântica das palavras, classificação de páginas úteis e contexto com base em dados e metadados das páginas e dos usuários. Por isso, os resultados são dinâmicos, o que dificulta viralizá-los da maneira que se quer.
Segundo a empresa, buscas por palavras mais específicas --como as porcentagens de aumento de patrimônio nos exemplos aqui citados-- terão maior chance de retornar resultados de sites que tenham esses termos em seu conteúdo. Assim, sites contendo palavras específicas associadas positivamente ou negativamente a um candidato aparecerão melhor.
O Google também diz realizar práticas para detectar e evitar spam --como picos de acesso por bots. Se comprovado o spam, a página terá seu fluxo de tráfego reduzido nos produtos do Google e perderá a monetização pela plataforma de anúncios da empresa (Google Ads).
Usuários também podem denunciar suspeitas do tipo, no link "Enviar feedback", encontrado no final da tela do resultado de busca do Google. Nele, é solicitado ao usuário uma descrição de texto do problema, e se necessário, uma captura de tela.
Sobre notícias falsas, a empresa diz financiar pesquisas e parcerias com iniciativas de checagem de fatos, como First Draft e Projeto Comprova, do qual o UOL faz parte, para ajudar a combater desinformação.
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