Chega de espalhar boato! Site te mostra se uma notícia é verdadeira ou não
Já pensou se existisse um jeito rápido e fácil de saber se aquela informação que chegou no grupo de WhatsApp é verdadeira ou falsa? Talvez pouca gente se preocupe com isso, mas você, internauta consciente e responsável, pode conferir uma reportagem usando uma ferramenta chamada FakeCheck.
Ela foi criada por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) que estavam preocupados com o aumento da desinformação, popularmente conhecida como fake news. O sistema usa inteligência artificial para ensinar um computador a identificar traços duvidosos em textos escritos e assim apontar sua confiabilidade.
Por meio de um link na internet ou até dentro do WhatsApp, o usuário pode inserir o texto inteiro de uma notícia e, a partir de padrões linguísticos, a ferramenta detecta se aquela informação tende a ser confiável ou não.
Embora já possa ser testado pelo usuário, o sistema ainda está sendo aprimorado. Sinal disso é que esta notícia, tendo seu texto jogado na ferramenta, foi indicada como possivelmente falsa. Na maioria das vezes, no entanto, ela dá resultados precisos.
Segundo Roney Lira, doutorando do ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação) da USP que integra o projeto, existem expressões na linguagem humana que favorecem a detecção de mentiras em textos, como erros ortográficos, o uso de verbos auxiliares, adjetivos e advérbios:
"Adjetivos muito fortes, quantidade de advérbios que tendem a deixar a notícia muito sentimental, não são comuns em notícias jornalísticas"
É a partir do uso excessivo desses atributos da linguagem que pode indicar a confiabilidade da informação.
O trabalho então foi ensinar o computador a identificar esses desvios jornalísticos. A equipe coletou 3.600 notícias falsas e 3.600 notícias verdadeiras publicadas entre janeiro de 2016 e janeiro de 2018, para que a máquina aprendesse quais os padrões linguísticos então presentes em cada uma.
"Nas notícias falsas, nós vimos que há muito erro ortográfico. [Nessas notícias] não há preocupação com erros, enquanto nas verdadeiras são feitas revisões e, quando publicadas, quase não há erros. O computador então vai treinando isso com base nos vários exemplos das notícias que damos e quando entregamos uma com muito erro ortográfico ele diz que ela provavelmente é falsa."
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O computador também aprendeu a contar a quantidade de adjetivos e advérbios além de analisar verbos auxiliares.
"Dizer que 'pode ter acontecido um acidente' não é comum em uma notícia jornalística verdadeira, já que o fato ocorreu. A presença do verbo 'poder' pode indicar que a notícia não é verdadeira", explicou Roney.
Os cientistas experimentaram diferentes modelos para verificação dos textos, sendo que o mais preciso deles foi o que analisou grupos de palavras. Chamado de "Palavras no texto" pelos criadores do serviço, o sistema teve um índice de acerto de em 89%:
A cada dez notícias falsas, aproximadamente nove ele acerta
A ferramenta ainda traz a opção de detecção por "classes gramaticais", que acertou a veracidade das notícias em 76% dos testes.
"A maior parte desses boatos do WhatsApp é falsa, porque a pessoa que está passando escreve de forma inconsciente. Ela não se preocupa com o modelo da língua. Então o nosso sistema consegue detectar até com uma acurácia [precisão] maior do que com as notícias jornalísticas", afirma Roney.
Resposta via WhatsApp
Além de Roney e do estudante de graduação Rafael Augusto Monteiro, o projeto teve orientação do professor Thiago Pardo e auxílio de Murilo Gazzola, outro doutorando em ciência da computação da USP, que ajudou com a verificação via WhatsApp --que é a plataforma onde as fake news mais se espalham.
Chamado Otwoo, o bot de verificação do WhatsApp chegou a ser derrubado nesta semana pelo próprio aplicativo. Gazzola, no entanto, falou com a empresa e fez ajustes em sua ferramenta, conseguindo a liberação.
O WhatsApp havia considerado spam as respostas automatizadas do bot, que se popularizou nos últimos dias. Mas agora o sistema foi ajustado e está em pleno funcionamento para quem quiser usá-lo para verificação de notícias.
Checagem de fatos
Claro, não disso garante 100% de segurança de que algo é confiável ou não, mas te dá mais indícios e ajuda a eliminar de cara os boatos mais toscos. Seus próprios criadores recomendam que ela seja usada como mais uma fonte de verificação de notícias, não a única.
O sistema apenas aponta que a notícia "pode ser" verdadeira ou falsa, indicando que o usuário faça buscas em outras fontes, para realizar uma verdadeira confirmação factual.
Existem fake news mais elaboradas do que meras correntes de WhatsApp. Estas mesclam informações com embasamento verdadeiro com trechos inverídicos, uma mistura típica da desinformação. Se escritas no estilo jornalístico, estas fake news passariam imunes pelo FakeCheck.
O próximo passo, dizem os pesquisadores, é ensinar o computador a realizar essa verificação. Atualmente a checagem de fatos é feita de forma manual por agências como Boatos.org, Aos Fatos, Lupa, o projeto Comprova e o UOL Confere. Quando uma notícia é enviada para ser checada, o jornalista verifica a informação e ouve todas as partes envolvidas.
Segundo Roney Lira, parte desse trabalho poderia ser feito de forma automática, com um robô verificando se os trechos batem com as informações já disponíveis em outros veículos conhecidos.
"Por exemplo, se tem uma notícia de um acidente numa rodovia, temos que pegar o trecho 'acidente que ocorreu ontem na rodovia X' e ver se essa sentença é verdadeira em outros sites de notícias confiáveis. Se for verdade, então dizemos que é verdadeira, se não, se o acidente ocorreu no mês passado, então podemos dizer que é falsa".
Outro desafio do projeto é conseguir verificar informações difundidas por áudios, vídeos e imagens, muito disseminadas pelas redes sociais.
"O texto é bem mais simples [de verificar]. Já existem ferramentas que fazem a transcrição de áudios e vídeos, a inteligência artificial já consegue verificar imagens, então é algo que pretendemos fazer no futuro".
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