Google muda Android e cobra por apps após multa recorde na Europa
O Google começa a promover nesta segunda-feira (29) uma das maiores guinadas de rumo já vividas pelo Android em seus 10 anos de existência.
Antes de ficar ansioso, saiba: não se trata de um novo recurso que mudará o jeito de você usar o celular. São novos acordos comerciais para a plataforma ser usada em smartphones e tablets: o sistema operacional continuará a ser gratuito, mas os aplicativos que o acompanham, como a Gmail, Maps e outros, devem começar a ser cobrados. E os valores pagos pela indústria do smartphone podem chegar a US$ 40 por aparelho.
O novo posicionamento vale só na Europa, mas, apesar disso, seus efeitos podem repercutir em outros mercados como Brasil, ainda mais porque ele contém medidas para ampliar a liberdade de fabricantes de celular.
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Multa recorde e bilionária
As alterações foram desenhadas pelo Google em resposta a um processo da Comissão Europeia. O braço executivo da União Europeia concluiu que a empresa norte-americana abusava da posição dominante do Android para promover práticas anticompetitivas. Desta forma, minava a chance de rivais disputarem mercado em áreas em que oferece alguns de seus mais populares serviços.
Além de exigir que as práticas fossem revertidas, a UE aplicou uma multa recorde de 4,34 bilhões euros. O Google já depositou o valor em juízo, porque recorre da decisão da UE.
A inovação rápida, a ampla escolha e a queda dos preços são marcas clássicas da concorrência robusta que o Android permitiu. O Android criou mais opções, não menos
Hiroshi Lockheimer, vice-presidente do Google para ecossistemas e plataformas
O que o Google fará é aplicar um novo sistema de licenciamento de suas ferramentas. Veja abaixo o que muda:
1. Android modificado? Tá liberado
Antes, as fabricantes que queriam rodar o Android em seus celulares e equipá-los com serviços do Google como "item de fábrica" não podiam vender smartphones com versões modificadas do sistema operacional.
Como tem seu código aberto (passível de alteração de toda ordem), o Android pode ser totalmente reestruturado. Essa cláusula do acordo de licenciamento impedia que desenvolvedores desfigurassem tanto o sistema a ponto de ele perder a identidade construída pelo Google.
Agora, a regra cai por terra. Com isso, mais sistemas operacionais criados a partir do Android, como o Fire OS, da Amazon, terão espaço para surgir.
2. Sem exclusividade
A UE identificou ainda que o Google pagava a fabricantes para que seu serviço de busca fosse o único desse tipo a ser embarcado nos celulares. Como era um acordo de exclusividade, as empresas não podia instalar previamente outras ferramentas rivais.
Quanto a isso, o Google vai fazer duas mudanças:
- licenças separadas para a busca e o Chrome: as empresas que quiserem incluir as duas ferramentas terão de contratá-las à parte. Antes, a inclusão dos dois serviços era uma contrapartida à instalação do pacote de aplicativos do Google.
- acordos comerciais sem exclusividade: o Google vai fazer novas propostas financeiras para fabricantes incluírem a busca e o Chrome em seus aparelhos, mas elas não trarão cláusulas que barrem produtos de concorrentes, como o Bing e o Edge, da Microsoft.
3. Aplicativos pagos
Fabricantes poderão licenciar o pacote de aplicativos do Google, do Maps à Play Store, sem ter de levar a reboque o Chrome e a busca. Isso, no entanto, terá um preço. O valor deve variar de US$ 2,50 a US$ 40, segundo apurou a agência Reuters. O que vai influenciar é o país -- o Espaço Econômico Europeu conta com 31 membros -- e o tamanho do aparelho.
"Como a pré-instalação da pesquisa do Google e do Chrome junto com nossos outros aplicativos nos ajudou a financiar o desenvolvimento e a distribuição gratuita do Android, apresentaremos um novo contrato de licenciamento pago para smartphones e tablets enviados", afirmou Lockheimer.
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Celular mais caro?
O Google não revela sequer o valor que cobrará das fabricantes de celular. Também não confirma se o custo de licenciamento será repassado aos compradores, mas informa que essa decisão é das empresas responsáveis pelos aparelhos.
Isso porque o custo para licenciar um sistema operacional, assim como o valor de qualquer outro componente, pode interferir na hora de determinar o preço final do aparelho. A conta é simples: atualmente, as marcas de celulares não pagam pelo Android e uma eventual cobrança do Google poderia ser repassada ao consumidor.
Segundo a Reuters, o Google pode propor que a conta seja paga de forma diferente. As companhias podem compensar a cobrança por apps, como Google Play, Gmail e Maps, ao concordar embarcar em seus celulares a busca e o Chrome. O acordo poderia prever ainda que o Google daria à fabricante uma fatia da receita publicitária gerada a partir destes dois apps.
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