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Este estudo quer enviar o perfume de nossos amigos pela web; queremos isso?

Pesquisadores do Instituto Imagineering, na Malásia, aplicam eletricidade no nariz por meio de eletrodos para estimular nervos receptores olfativos - Divulgação/Imagineering Institute
Pesquisadores do Instituto Imagineering, na Malásia, aplicam eletricidade no nariz por meio de eletrodos para estimular nervos receptores olfativos Imagem: Divulgação/Imagineering Institute

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

27/11/2018 11h34

Os principais sentidos envolvidos em uma conversa pela internet são atualmente a visão e a audição, mas uma pesquisa realizada no Instituto Imagineering, na Malásia, quer estender essa interação ao olfato. O estudo afirma ter criado uma tecnologia de "cheiro elétrico" capaz de transmitir odores a longas distâncias.

No experimento, realizado em 31 participantes, os pesquisadores usaram eletrodos nas narinas para fornecer correntes elétricas fracas acima e atrás das narinas, onde ficam os neurônios olfativos.

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A maioria dos voluntários relatou odores perfumados ou químicos, embora um quarto deles também tenha relatado odores frutados, doces, tostados e arborizados.

"Não é apenas sobre o cheiro", disse Adrian Cheok, um dos cientistas por trás dos experimentos. "É parte de toda uma realidade virtual integrada ou realidade aumentada. Então, por exemplo, você poderia ter um jantar virtual com seu amigo através da internet. Você pode vê-los em 3D e também compartilhar uma taça de vinho juntos."

Pesquisadores do Instituto Imagineering, na Malásia, aplicam eletricidade no nariz por meio de eletrodos para estimular nervos receptores olfativos - Divulgação/Imagineering Institute - Divulgação/Imagineering Institute
Imagem: Divulgação/Imagineering Institute

Cheok, que também é diretor do instituto e professor da Universidade da Cidade de Londres, prevê um dia em que os odores podem ser percebidos por um nariz eletrônico, digitalizados, enviados pela internet e entregues ao destinatário não através de fios no nariz, mas via óculos especiais.

"Esta fase foi mais exploratória", disse Cheok sobre a pesquisa. "O próximo passo é produzi-lo de maneira mais controlada, e isso permitirá que as pessoas desenvolvam software e produtos para gerar cheiro elétrico."

A "NBC" ouviu alguns especialistas, que se mostraram ainda céticos sobre essa possibilidade. Joel Mainland, neurocientista olfativo do Monell Chemical Senses Center, na Filadélfia, diz que a tecnologia de cheiro elétrico pode ser usada para restaurar o olfato em pessoas que o perderam como resultado de doença, lesão ou anormalidade congênita.

Mas Mainland criticou o estudo malaio, dizendo que é possível que os cheiros relatados pelos participantes podem não ter sido produzidos pela eletricidade emitida pelos eletrodos.

"Eu posso dar-lhe um frasco vazio para cheirar quando você não tem nada no nariz, e você pode relatar um leve odor. Se você está perguntando a alguém se algo cheira, eles têm um forte viés para dizer sim, mesmo quando não há odor." O estudo não conseguiu se explicar sobre essa possibilidade, disse ele.

Charles Spence, professor de psicologia experimental na Universidade de Oxford, na Inglaterra, concordou e disse que o sentido do olfato é muito complexo e pouco compreendido para sabermos como estimulá-lo artificialmente.

"Qualquer cheiro diário provavelmente ativará dezenas ou centenas de receptores. Se você tem apenas um eletrodo no nariz, não importa qual taxa de freqüência ou intensidade (de corrente elétrica que você usa), você não será capaz de estimular receptores suficientes para transmitir uma (percepção)".

Um dos colaboradores de Cheok nos experimentos, Kasun Karunanayaka, disse que estava ciente das limitações da nova pesquisa. "Espero que possamos melhorar ainda mais os resultados", disse ele.