"Google monitora e seleciona o que você vê, mas porque você deixa", diz CEO
Sabatinado no Congresso dos Estados Unidos nesta terça-feira (11), o executivo-chefe do Google, Sundar Pichai, deixou claro que a empresa monitora o que você vê e até por onde você anda, se você é um usuário de celulares com o sistema operacional Android. Pichai deixou claro, ao ser confrontado por políticos americanos, que tudo isso só é feito com o consentimento de quem usa os serviços providenciados pela empresa.
"Para todos serviços que oferecemos, oferecemos transparência e as oportunidades de escolha e controle. Android é uma plataforma poderosa, usada em smartphones de 2 bilhões de pessoas. Como parte disso, depende das aplicações que você escolhe usar. Se você usa um app de fitness, que conta quantos passos você dá, você espera que ele envie essa informação. Quando é uma escolha que o usuário faz, deixamos claro e depende nos casos de uso", afirmou o executivo.
Pichai foi pressionado a respeito da coleta de dados pessoais e "passou a conta" para os usuários. Além de mencionar que os serviços do Google sempre pedem o consentimento, o executivo disse que a empresa envia alertas periódicos para que os usuários revisem as questões de privacidade e termos de uso dos diferentes produtos da empresa - milhões o fizeram recentemente, segundo ele.
Insatisfeitos, congressistas perguntaram se Pichai acreditava que o "usuário médio" tinha conhecimento destas questões. O executivo desconversou.
Resultados de busca tendenciosos?
Um assunto recorrente na conversa de Pichai com os congressistas foi a suposição de que os algoritmos que determinam o que a busca do Google exibe em seus resultados seriam tendenciosos e mais favoráveis a certos grupos políticos. Tanto políticos do partido democrata quanto os do partido republicano insistiram nessa questão, que foi refutada pelo executivo desde seu discurso de abertura.
"Eu lidero essa empresa sem vieses políticos e trabalho para garantir que nossos produtos sejam operados dessa maneira. Fazer o oposto seria contra nossos princípios fundamentais e nossos interesses de negócios. Somos uma empresa que providencia plataformas para perspectivas e opiniões diversas e não há escassez disso entre nossos empregados", afirmou.
Um congressista democrata questionou por que, ao buscar seu próprio nome após dar entrevistas a um canal de TV, os resultados do Google indicavam artigos de sites com viés conservador. Outro, republicano, confrontou o executivo sobre a suposição de que a plataforma censuraria conteúdo conservador.
Ao ouvir os dois lados do espectro político, Pichai reforçou que o Google não trabalha de forma partidária e até deu risada, pois as reclamações vieram tanto de republicanos quanto de democratas.
Nem todos os congressistas presentes aderiam a essa ideia de manipulação. O democrata Jerrold Nadler, de Nova York, disse que "nenhuma evidência crível banca essa teoria da conspiração de direita, de um viés anti-conservador" e chamou essa suposição de "propaganda livre de fatos".
Retorno ao mercado chinês
Em agosto, o site "The Intercept" descobriu que um projeto de retorno ao mercado chinês era planejado internamente no Google. Em curso desde 2017, o chamado projeto Dragonfly seria uma versão adaptada do buscador às restrições do regime autoritário chinês. Nele, palavras-chave como "direitos humanos" e "prêmio Nobel" seriam bloqueadas.
A congressista Sheila Jackson Lee, democrata de Washington, expressou preocupação com o projeto e questionou se havia o interesse da empresa retornar à China. A política mencionou que o Google tinha sido elogiado em 2010 quando deixou a China, "uma posição poderosa de princípios e valores democráticos acima de lucros". Em resposta, Pichai negou que exista um plano para o Google voltar ao país asiático.
"No momento não temos planos para lançar na China. Não temos um produto de busca. Nossa missão é providenciar aos usuários o acesso à informação e o acesso à informação é um direito humano importante", declarou o executivo, que reiterou esse ponto posteriormente, após fala do republicano Tom Marino.
Além de dizer que não existem planos para o mercado chinês, Pichai disse que o Google tem evidências que, ao chegar a um país e dar o acesso a informações a usuários, os serviços da empresa têm um impacto positivo. O democrata David Cicilline também pressionou o executivo sobre este tema e obteve a resposta de que o projeto Dragonfly é um apenas "esforço interno limitado" e descartou qualquer versão da busca para o público chinês.
Perguntas de qualidade
O depoimento de Pichai não foi o primeiro de um executivo de uma gigante de tecnologia neste ano. Em abril deste ano, Mark Zuckerberg foi colocado na mesma posição, em uma situação de maior pressão do que o chefão do Google. Apesar da situação menos crítica, Pichai foi confrontado por políticos mais bem preparados, se comparada a audiência a que Zuckerberg foi submetido.
Os congressistas americanos vieram munidos de perguntas mais elaboradas sobre temas como proteção e uso de dados, termos de uso, funcionamento de algoritmos e possíveis novas regulações nos Estados Unidos, aos moldes do GDPR (legislação europeia de proteção de dados).
Mesmo as manifestações de parte dos congressistas que acreditam que os serviços como a busca do Google são enviesados politicamente foram mais embasadas do que ocorreu na sabatina de Zuckerberg. O semblante de Pichai ao rebater os questionamentos também foi mais seguro que o do chefão do Facebook, robótico e nem sempre transparente em sua audiência no Congresso.
Quem é Sundar Pichai?
No Google desde 2004, Pichai tem 46 anos e é um indiano formado em engenharia metalúrgica em seu país natal. Como funcionário da gigante de buscas, ele trabalhou no desenvolvimento do navegador Chrome, do Gmail e do Google Maps, assumindo novas responsabilidades dentro da empresa com o passar do tempo. Em 2013, ele ficou responsável pelo Android, o maior sistema operacional móvel do mundo. Dois anos depois, foi escolhido como sucessor de Larry Page para o cargo de executivo-chefe da empresa.
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