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Machismo? CES 2019 proíbe vibrador premiado feito por mulheres

Osé, novo vibrador da Lora DiCarlo - Divulgação/Lora DiCarlo
Osé, novo vibrador da Lora DiCarlo Imagem: Divulgação/Lora DiCarlo

Helton Simões Gomes

Do UOL, em São Paulo

09/01/2019 12h39

Maior feira de eletrônicos do mundo, a CES (Consumer Electronics Show, de Las Vegas) é ano a ano palco das maiores evoluções eletrônicas, inclusive daquelas voltadas para a hora do sexo. Isso faz com que TVs de última geração e inovações que mudam sua vida doméstica dividam espaço com vibradores conectados e até robôs criados para servirem como brinquedinhos sexuais.

A organização do evento, realizado em Las Vegas, nos Estados Unidos, contrariou sua tradição em 2019 e protagonizou um papelão: deu um prêmio de inovação tecnológica a um "dildo", mas depois voltou atrás e retirou a homenagem. Não contente, proibiu o aparelho de ser exposto, argumentando que não dava espaço a aparelhos "imorais, obscenos, indecentes ou profanos". A fabricante Lora DiCarlo, empresa conduzida apenas por engenheiras, reclamou e classificou a decisão de machista.

Nós firmemente acreditamos que mulheres, pessoas não-binárias [que não se identificam com os gêneros masculino e feminino], não-conformativas e LGBTQI devemos requisitar nosso espaço tanto no prazer quanto na tecnologia"

Lora Haddock, fundadora e CEO do Lora DiCarlo

Primeiro produto da companhia, o Osé é um massageador pessoal. Segundo descreve Haddock, o aparelho promete ser:

uma nova tecnologia microrrobótica que imita as sensações da boca, língua e dedos humanos, para uma experiência que dá a impressão de ser um parceiro real

A empreendedora diz ainda que o vibrador pode "se ajustar à fisiologia única de cada corpo para se encaixar da forma certa, de modo que atinja os pontos certos, deixando as mãos livres para serem melhor usadas".

Nós estamos falando sobre uma verdadeira inovação da robótica

Lora Haddock

A organizadora da CES, a Associação de Tecnologia para Consumo (CTA, na sigla em inglês), concordou com isso. Tanto é que deu ao aparelho o Prêmio Honorário para produtos de robótica ou drones.

"Meu time regozijou e celebrou", disse Haddock. Mas a alegria, que chegou em outubro de 2018, durou pouco:

Um mês depois nossa excitação e preparações foram podadas quando nós fomos inesperadamente informações que os administradores da CES e da CTA estavam rescindindo nosso prêmio e, subsequentemente, que nós não seríamos permitidos para lançar ou exibir o Osé na CES 2019

O argumento dado pela CTA foi o seguinte:

Serão desqualificadas as inscrições consideradas pela CTA, a seu exclusivo critério, como imorais, obscenas, indecentes, profanas ou não, de acordo com a imagem da CTA. A CTA reserva-se o direito, a seu exclusivo critério, de desqualificar qualquer inscrição a qualquer momento que, na opinião da CTA, coloque em risco a segurança ou o bem-estar de qualquer pessoa, ou não cumpra estas regras oficiais.

A justificativa vaga dá a entender que o vibrador pode se enquadrar como um produto "imoral, obsceno, indecente ou profano". Uma porta-voz da CTA ainda tentou explicar, mas não convenceu.

CTA comunicou sua posição à Lora DiCarlo. Nós nos desculpamos com a companhia pelo nosso erro

Sarah Brown, gerente de comunicações de eventos da CTA

Faltava ainda explicar por que o vibrador não foi nem liberado para ser exposto.

Ele não se encaixa em uma categoria de produto

A declaração, no entanto, é contraditória ao que a organização da CES já admitiu em seus salões no passado. Em 2017, a organização liberou a exibição de realidade virtual para a indústria pornográfica. No ano passado, um robô sexual direcionado a homens foi outra novidade a ser apresentada na feira.

Há uma óbvia situação de dois pesos e duas medidas quando o assunto é sexualidade e saúde sexual

Lora Haddock

Parece que a administração da CES/CTA aplica as regras para companhias e produtos com base no gênero de seus consumidores. A sexualidade de homens é permitida e pode ser explicitada com um robô sexual na forma de uma mulher com proporções não realistas e realidade virtual pornô. A sexualidade feminina, por outro lado, é pesadamente silenciada, quando não banida

Haddock não está totalmente correta, já que a CES permitiu a exposição de outros brinquedinhos sexuais voltados ao público feminino.

O OhMiBod, um vibrador que vibrava no ritmo da música tocada no iPod da usuária, foi premiado na CES de 2016 na categoria saúde digital e fitness. Remodelado, o aparelho está de volta à edição da feira deste ano. Ainda assim, isso mostra que a CES considera os vibradores, sim, como uma categoria de produto.

Com ou sem CES, a Lora DiCarlo pretende lançar o Osé no terceiro trimestre deste ano. Outra incoerência é que a CTA anunciou um fundo de US$ 10 milhões voltado a promover a diversidade na indústria de tecnologia.

A CTA está comprometida com o esse investimento e irá trabalhar fundos estabelecidos e gerentes de fundos que foquem em mulheres, pessoas de cor e outros grupos subrepresentados

Tiffany Moore, vice-presidente da CTA para assuntos políticos e industriais