O que aconteceu com a revolucionária lente de contato para medir diabetes?
A ideia era bastante promissora: criar uma lente de contato inteligente que, em contato com as lágrimas do usuário, era capaz de medir o nível de glicose no sangue. Para quem tem diabetes, seria o fim do furo no dedo
O dispositivo estava previsto para chegar ao mercado em 2020 e contava com investidores de peso: a gigante do setor farmacêutico Novartis e a Google — por meio do seu braço de ciências médicas, hoje chamado Verily.
A parceria começou em 2014 e seria bem conveniente: por meio de uma microantena, a lente enviaria um relatório para um app de celular de tempos em tempos, contendo informações sobre os níveis de glicose no sangue. Rápido, simples, indolor e... ineficiente.
Em novembro, a Verily anunciou que o projeto seria suspenso e que a empresa se concentraria no desenvolvimento de lentes de contato voltadas para quem tem presbiopia —a famosa "vista cansada"— e também de um outro tipo de lente intraocular pensada para melhorar os resultados das cirurgias de catarata.
A razão para isso é que estudos mostraram que analisar o nível de glicose por meio de lágrimas não era um processo tão preciso quanto fazer a medição diretamente pelo sangue. Considerando uma condição médica sensível como diabetes, uma falha nesse tipo de teste poderia se provar fatal.
Nem tudo está perdido
Apesar de a pesquisa envolvendo Novartis e Verity ter sido suspensa, a ideia de criar um procedimento não invasivo para medir os níveis de glicose no sangue ainda persiste. E uma empresa holandesa ocupa um lugar promissor nessa empreitada. Trata-se da Noviosense, que pesquisa um dispositivo que seria alocado na pálpebra inferior do usuário.
Em princípio, a ideia de medir o nível de glicose por meio da análise de lágrimas parece uma abordagem bastante similar à adotada por Novartis e Verity - e, portanto, fadada ao fracasso. No caso da empresa holandesa, no entanto, o fato de o dispositivo ficar alocado próximo da "fonte" de lágrimas dos olhos permite que ele analise amostras mais "puras" do fluido.
O pequeno aparelho tem cerca de dois centímetros e se parece com uma mola, cujos eletrodos são cobertos de um biopolímero que contém uma enzima que reage à presença de glicose. Essa reação química, então, é detectada pelos eletrodos do aparelho.
De acordo com seus criadores, ele é confortável para ser usado e não oferece risco de cair ao se coçar o olho ou, ainda, machucar o usuário.
O que torna esse método promissor são os resultados práticos. Um estudo publicado em outubro e que envolveu testes em seis pessoas diferentes mostrou que 95% das informações obtidas pelo dispositivo dispositivo eram similares às relatadas por um teste convencional.
Até então, testes com outros métodos apresentaram resultados com similaridade entre 60 e 70%.
Vale apontar que esse resultado 95% similar ao de uma avaliação convencional é a mesma taxa de precisão de um teste de fluido intersticial —líquido que fica entre a pele e os outros órgãos, músculos e sistema circulatório. Esse teste, por sua vez, é considerado confiável, o que é um ponto positivo para o dispositivo da empresa holandesa.
Agora, a meta da Noviosense é realizar testes com um grupo maior de pessoas —24 indivíduos com diabetes do Tipo 1. E também desenvolver um sistema de transmissão de dados sem fio, uma vez que os primeiros testes utilizaram sensores conectados a fios.
Com esse tipo de tecnologia, seria possível obter resultados ao se aproximar o smartphone do olho, um procedimento muito mais confortável do que obter uma gota de sangue.
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