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Cadê o condutor? Entenda a tecnologia por trás do metrô que anda sozinho

Trens da Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo foram os primeiros a operar sem condutor - Diego Padgurschi/Folhapress
Trens da Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo foram os primeiros a operar sem condutor Imagem: Diego Padgurschi/Folhapress

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

07/02/2019 04h00

Um metrô que funciona sem "motorista" ainda causa estranhamento para algumas pessoas. Como garantir que ele não vai bater no trem da frente? Como assegurar que ele vai chegar na próxima estação de um modo seguro? Ele é mais rápido do que o trem conduzido por uma pessoa de carne e osso? Os especialistas dizem que as cidades terão cada vez mais transportes funcionando autonomamente, e o Brasil já entrou na onda e foi o primeiro país da América Latina a ter um exemplo prático desse sistema.

Se você estiver na cidade de São Paulo, vá até a linha 4-Amarela do metrô. Será possível ver de perto como os trens inteligentes funcionam. Todas as composições se deslocam sem a necessidade de um condutor, mas a tecnologia vai além disso.

O sistema driverless

O sistema metroviário de várias cidades, incluindo o de São Paulo, já é inteligente e trabalha com modos automatizados. Em casos assim, o condutor só entra em ação em caso de necessidade, pois os trens andam praticamente sozinhos.

A diferença para o transporte sem condutor é que ele envolve uma tecnologia muito mais avançada e precisa. Conhecido como driverless (sem motorista), o sistema funciona com grande autonomia para tomar decisões.

Segundo Fernando Castro Pinto, engenheiro mecânico e professor da Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os trens possuem sensores de proximidade, transmissores de localização e câmeras -- tudo isso vira dado, que é transmitido em tempo real para um grande sistema de computador capaz de organizar e direcionar automaticamente toda a dinâmica de funcionamento do sistema metroviário.

Outras informações como o consumo de energia e funcionamento do ar condicionado também são enviadas.

"A central de controle sabe onde está todo mundo. O trem B não vai partir se o trem A estiver parado. Cada um tem acesso à localização do outro. Quanto mais informações a central tiver, maior a chance de o sistema tomar decisões certas", explica o professor.

Imagine que o horário de pico começou. A central de controle automaticamente entende que o tempo de deslocamento entre um trem e outro precisa ser reduzido. Com essa informação, cada composição começa a recalcular a sua velocidade média para atender a demanda.

Ao mesmo tempo, os trens sabem que, ao chegar nas estações, será preciso ficar mais tempo com as portas abertas para a entrada dos passageiros. E preveem que terão de acelerar dentro do túnel para compensar.

Caso o trem perca a comunicação com a central de controle, em uma situação anormal, ele consegue manter um nível de segurança. Os sensores da composição são capazes de detectar que existe algo diferente nos trilhos, o computador de bordo analisa os riscos (pode ser um objeto pequeno ou até uma pessoa) e um alerta vai para a central de comando. Dependendo do caso, a viagem é interrompida automaticamente.

"Existem sensores com ultrassom, parecido com o sensor de ré que ajuda na hora de estacionamento o carro, e sensores do tipo radar, que emitem pulsos e conseguem identificar a distância de um objeto", explica o professor. "O sistema de radar é mais parecido como o usado pelos veículos autônomos. As ondas eletromagnéticas são transmitidas e, se existe algum obstáculo, 'batem' e refletem alertando o sistema."

Tudo isso é feito de uma forma autônoma, proativa e considerando os aspectos necessários de segurança, destaca o professor Rafael Castelo, do departamento de engenharia da FEI.

Apesar de toda autonomia dos trens, existem profissionais acompanhando tudo de perto. Eles funcionam como supervisores e ficam em alerta para tomar decisões em caso de necessidade.

"Tudo que é operado pelo computador também tem uma redundância que pode ser controlada pelo ser humano. Se ele percebe que precisa aumentar, reduzir a velocidade ou que há uma aproximação entre as composições, ele tem total autonomia para entrar em ação", explica Castelo.

Trens são mais seguros?

A tecnologia usada é realmente mais precisa e eficaz do ponto de vista estatístico. Ela não depende do estado de saúde do condutor e possíveis distrações, por exemplo. A máquina aprende que é preciso funcionar de determinada forma e vai funcionar assim.

No entanto, o professor da UFRJ lembra que, mesmo com um ótimo nível de segurança, o computador também pode apresentar alguma falha quando o assunto é lidar com emergências e eventos não previstos.

"Quando se tem um maquinista humano, há um pouco mais de flexibilidade para reagir em algumas situações", explica.

E se der pane na rede elétrica?

Segundo os especialistas, os passageiros podem ficar tranquilos quanto a isso. Todo o sistema metroviário - independentemente de ter condutor ou não - possui geradores e baterias para segurar as pontas enquanto o problema na rede elétrica não é solucionado.

No caso dos trens sem condutores, as composições possuem energia suficiente para conseguir se locomover sozinhas e parar em segurança.