Em risco, web completa 30 anos
Há 30 anos, Tim Berners-Lee apresentou a proposta de criação das funcionalidades que se tornariam a World Wide Web, uma tecnologia concebida para facilitar a interconexão entre documentos e que permitiu o compartilhamento e troca de informações, aberta a qualquer pessoa que tivesse acesso a um computador e conexão à Internet. Desde a sua invenção, o livre fluxo de informações ao redor do planeta atingiu proporções inimagináveis.
A web colocou o ser humano, em toda sua complexidade, na Internet. Foi a web que alavancou o poder e alcance da Internet e permitiu que bilhões de pessoas ao redor do mundo se conectassem, interagissem, fizessem compras e trocassem conhecimento, não só pelo computador, mas pelos mais diversos dispositivos computacionais, como smartphones, tablets e até relógios. Só no Brasil são 120,7 milhões de usuários de internet, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios, do Comitê Gestor da Internet (CGI.br).
No entanto, nem tudo é motivo de comemoração. A web vive hoje um momento crucial, na avaliação do próprio Tim Berners-Lee, que tem convocado empresas, governos e a sociedade civil a engajar-se por uma web aberta, universal e descentralizada. A experiência de bilhões de pessoas com a World Wide Web tem sido intermediada por um pequeno e seleto grupo de empresas.
Ao mesmo tempo, decisões online com graves consequências na vida real estão cada vez mais sendo tomadas por algoritmos e máquinas que podem replicar preconceitos e reforçar desigualdades encontradas no mundo off-line. As pessoas que se encontram, conversam, compram, aprendem, se atualizam, se divertem pela web, infelizmente também brigam, se ofendem, mentem e praticam atos ilícitos, muitas vezes dentro desses ambientes restritos.
Outra preocupação permanente se refere à privacidade online. A web deve ser um espaço que todos podem acessar, interagir e se beneficiar de forma segura e sem receios. Mas, enquanto o usuário não estiver no controle do uso dos seus próprios dados, esse espaço democrático vai sendo tomado por quem detém o controle desses dados.
Questões como a re-descentralização da web, disponibilização e consumo de dados abertos e o uso ético e responsável da inteligência artificial, entre outras, que buscam exatamente dar esse controle dos dados para o usuário, são amplamente discutidas no Brasil pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que por meio do Centro de Estudos sobre Tecnologias Web (Ceweb.br), com o apoio do W3C Brasil, realiza anualmente a Conferência Web.br, um evento que reúne especialistas de renome nacional e internacional para discutir os desafios, tendências e boas práticas do desenvolvimento web.
Ao falar dos desafios da web neste aniversário de 30 anos, também é fundamental ressaltar que existe uma parcela significativa da população que está desconectada -- no Brasil, mais de 46 milhões de pessoas com 10 anos ou mais nunca acessaram a internet, também de acordo com a TIC Domicílios. E ainda em pleno 2019, pessoas com deficiência encontram barreiras para navegar em sítios e aplicações web que são codificados sem cuidados com padrões internacionais de acessibilidade que eliminem essas barreiras. A defesa de ideias como a re-descentralização, acessibilidade, universalidade e consenso na elaboração de padrões é marca do W3C, fundado por Tim Berners-Lee, do W3C Brasil e do Ceweb.br.
Assim como a web só evoluiu graças à colaboração dos mais diversos atores, uma web aberta, universal e descentralizada será possível apenas com a união de esforços. Berners-Lee lançou um manifesto que convoca todos a preservar os princípios originais da web. Queremos contar com a sua ajuda, na defesa de uma web para todos!
*Reinaldo Ferraz trabalha com desenvolvimento web desde 1998. Coordena as iniciativas de acessibilidade na Web do NIC.br e projetos relacionados a Open Web Platform, Digital Publishing e Web das Coisas. É representante do NIC.br em grupos de trabalho do W3C internacional em Acessibilidade na Web, Digital Publishing e Web das Coisas.
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