Por que a IBM, que inventou o PC mas sumiu na era online, voltou a ser sexy
A IBM surgiu como uma modesta fabricantes de máquinas de cortar carne há mais de 100 anos, mas virou a maior processadora de dados do mundo ao iniciar a revolução do computador. Enquanto a briga era para colocar esses eletrônicos na sua casa, até era possível ver produtos dela nas prateleiras das lojas, mas, quando o jogo passou a ser pelo espaço online, a empresa submergiu.
A atuação nos bastidores, fornecendo tecnologia para outras corporações, deu aos negócios da IBM um ar apagado, mesmo com a receita bilionária e a liderança mundial em registro de patentes mantida por mais de 25 anos.
Só que, agora, o jogo virou: a onda não é apenas estar online, mas adotar também sistemas de inteligência artificial -- e essa é a linha de negócio que mais cresce na IBM. Além disso, o que a fez voltar mesmo a ser sexy foi ter sido a primeira a possuir uma operação comercial de computação quântica, apontada como a próxima revolução da informática por poder solucionar problemas tidos como impossíveis.
A IBM sabe que inteligência artificial não é tão chamativa quanto um produto de massa, como os aplicativos do Google, as redes sociais do Facebook ou os smartphones de Samsung e Apple. Durante o congresso voltado a seus clientes em 2019, a diretora-executiva da empresa fez um comentário durante sua apresentação que deixou isso bastante claro.
Eu vi as filas lá fora e elas dobravam o quarteirão. Eu sei com certeza que isso é o mais próximo que eu vou chegar de um lançamento do iPhone
Ginni Romerty, CEO e presidente do conselho da IBM
Revolução do passado
Era brincadeira, mas resumiu bem como mudou o sentimento dentro da IBM nos últimos anos -- assim como seus negócios.
A empresa passou a primeira metade do século 20 na dianteira da tecnologia. Transformou a análise automatizada de dados em um negócio bilionário que culminou na primeira revolução dos computadores. Esses servidores, chamados na época de main frames, ocupavam salas inteiras, mas faziam cálculos que tomariam muito tempo de uma pessoa.
Quando pequenas empresas começaram a criar máquinas para uso doméstico, a IBM desenvolveu em 1981 o computador pessoal que fez você usar até hoje as letrinhas PC para se referir a esse aparelho. A decisão abriu espaço para o surgimento de empresas como a Microsoft, que nasceu criando programas para o PC, e fortaleceu outras, como a Intel, que até então fabricava chips para calculadoras.
Além disso, o investimento em pesquisa fez com que saíssem dos laboratórios da empresa inovações como o código de barras, o laser usados em cirurgias e a primeira linguagem de computador.
A presença da IBM nas vitrines das lojas durou até 2004, quando a empresa vendeu sua divisão de computadores para a Lenovo por considerar que itens de informática viraram commodity. A ascensão da internet havia transformado essas máquinas em meros canais de acesso à rede.
"A gente optou por focar no mercado corporativo", explicou Marcelo Braga, vice-presidente de soluções na nuvem da IBM:
Quando vendemos esse negócio, a gente saiu do contato direto com o consumidor e escolheu focar esforços para fazermos com que nossos clientes fossem protagonistas
Como? Consultoria em processos de tecnologia, serviços de computação em nuvem e outros segmentos de negócio essenciais às transações de cartão de crédito, reserva de passagens aérea e até para missões espaciais.
Toque de inteligência
A nova leva de empresas de tecnologia, como Google, Amazon e Microsoft, passou a enfrentar gigantescos volumes de dados extraídos dos consumidores que usavam suas diversas plataformas. Para processar isso, apostou na criação de algoritmos capazes de processar essas torrentes de informação sem intervenção humana.
Em outra frente, passaram a desenvolver programas que não só entendiam o que uma pessoa precisava como também executavam tarefas.
Cada uma delas lançou a sua versão: a Apple apresentou a Siri, em 2011; a Microsoft criou a Cortana em 2014, mesmo ano em que surgiu a Alexa, da Amazon; o Assistente, do Google, surgiu em 2016. Todas essas iniciativas mostraram o poder dessas empresas, mas serviram para fixar a ideia de que a inteligência artificial era o novo campo de batalha.
A insistência de algumas das maiores empresas do mundo nesse novo segmento serviu quase como propaganda gratuita para a IBM, que já possuía sua própria plataforma de inteligência artificial, o Watson. A diferença, no entanto, é que ele era voltado para empresas.
"Não queremos estar no front do consumidor como pessoa física. Não vai ter Watson rodando em alto-falante inteligente. O Watson vai estar atrás dos processos de atendimento aos clientes, atrás dos assistentes pessoais das maiorias das empresas", diz Braga.
Ainda que não seja o responsável por atender pedidos como para traçar a melhor rota até sua casa ou para tocar a música do momento, todas atividades que Alexa ou o Assistente executam bem, o Watson já faz coisas como mandar prender ou soltar suspeitos de crimes ou vender apólices de seguro. No Brasil, o exemplo mais evidente de sua atuação é a assistente pessoal do Bradesco, a BIA.
Quem participa da propaganda é a BIA, mas ela usa a tecnologia do Watson como seu centro de conhecimento
Marcelo Braga
A aposta vem dando certo, tanto que a divisão de serviços cognitivos, que compreende o Watson, já é a segunda maior fonte de receita da IBM (23% dos US$ 79,5 bilhões faturados no ano passado).
Futuro quântico
A outra faceta do retorno da IBM aos holofotes é a computação quântica. IBM, Microsoft, Google e Intel disputam uma corrida para liderar nessa área, cobiçada por países como Estados Unidos e China.
Ao serem criados com a lógica da física quântica, esses computadores podem fazer cálculos dificílimos mais rapidamente e solucionam problemas impossíveis de serem resolvidos hoje em dia, como a reprodução digital de moléculas complexas ou a simulação de reações bioquímicas.
A IBM já permite que computadores quânticos sejam acessados de graça pela internet. Você escreve os códigos no seu notebook e o computador quântico armazenado em um data center da empresa faz os cálculos para você.
No começo deste ano, porém, a empresa deu um salto: lançou uma operação comercial de computação quântica na nuvem. As empresas interessadas pagam para usar um microprocessador mais robusto do que aquele colocado à disposição na versão gratuita do serviço.
"Vem agora pela frente um marco que é a computação quântica, algo difícil de ser feito por ter questões físicas bastante complexas, como a de ter que chegar perto do zero absoluto. Mas quando você vê algo que era uma teoria virando o primeiro computador quântico comercial, sabe que isso deixou de ser um futuro e começou a ser uma próxima grande ruptura", diz Braga.
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