Musk deve se dedicar cada vez mais ao espaço e menos aos carros elétricos
Resumo da notícia
- Enquanto a Tesla atravessa lombadas, SpaceX tem futuro promissor
- Fabricantes de carros estão alcançando a empresa de Musk, menos produtiva
- SpaceX tem menos rivais em um mercado ascendente, mas também apresenta riscos
Elon Musk talvez seja o maior popstar da atualidade na tecnologia - Mark Zuckerberg e Jeff Bezos que nos desculpem. É dele que partem as iniciativas mais cool, sugestões mirabolantes e potencialmente revolucionárias, como as viagens para Marte e o conceito Hyperloop, as cápsulas de transporte em alta velocidade.
À parte da imagem, existe o empresário que dá dor de cabeça a investidores. 2018 não foi um bom ano: Musk se envolveu em confusões oriundas do Twitter.
O executivo-chefe da Tesla e da SpaceX soltou na rede social que tinha os fundos para comprar as ações da montadora de carros e tirar a empresa da Bolsa (acabou processado e perdendo o posto de presidente-executivo da Tesla).
Isso sem falar da briga com mergulhadores que resgataram os meninos presos em uma caverna na Tailândia e do vídeo em que aparece fumando maconha no meio de uma entrevista. Na ocasião, as ações da Tesla despencaram e a Nasa, cliente da SpaceX, não ficou nada satisfeita, tanto é que o executivo prometeu não fumar mais em público.
Problemas com a Tesla
Musk continua bem de grana - é o 40º mais rico do mundo -, mas a Tesla, pioneira na produção de carros elétricos, vive uma encruzilhada. Desde o tuíte polêmico, tiveram batalhas públicas com os órgãos reguladores, ações judiciais por problemas de segurança, demissões e a ameaça de fechar a maioria das lojas para reduzir o preço dos carros.
"Os carros elétricos da Tesla eram o ponto original de diferenciação da empresa, mas isso foi quase completamente corroído pelas fabricantes de carros consagradas", afirma Bill Ray, diretor e analista sênior de pesquisas do Gartner.
A empresa chefiada por Musk tem produtos altamente tecnológicos e seu Model 3 é o carro elétrico mais vendido do mundo, mas ela vem tendo dificuldades para atender metas de produção e a demanda de seus consumidores. O risco é que a concorrência, outrora defasada em recursos, está cada vez mais próxima e tem uma diferença crucial: a comprovada capacidade de produção em massa.
"As montadoras tradicionais têm a capacidade de recuperar o atraso graças à capacidade de investir e ao seu sólido histórico em gerenciamento de produtos", destacou a empresa de classificação de risco Fitch quando o Model Y foi apresentado.
Lançado em meados de março, o SUV Model Y é o modelo da Tesla na faixa dos US$ 30 mil (US$ 39 mil na verdade), que vem para enfrentar a concorrência de montadoras europeias, mas só deve chegar em 2021. Musk prometeu uma produção mais barata e eficiente do Model Y. A empresa tem desfrutado de pouca concorrência até o momento para seus sedãs, mas a competição por SUVs elétricos está esquentando. E o carro da Tesla deve chegar depois de seus concorrentes.
É a segunda vez que a Tesla frustra as expectativas ao anunciar um carro de menor preço que ainda não está pronto para ser produzido em grande escala. O primeiro foi o sedã Model 3, cuja versão de US$ 35 mil (R$ 134,2 mil) só chegou às concessionárias em fevereiro.
Além disso, sua estimativa de produção é menor do que a dos concorrentes. Para tentar resolver essa limitação produtiva, a empresa planeja sua primeira fábrica fora dos Estados Unidos. Adivinha onde? Na China, onde serão fabricadas as versões mais baratas do Model 3 e Model Y apenas para o mercado local - os carros mais caros seguirão em produção somente nos EUA. O anúncio foi feito em um momento complicado, logo após o mercado de carros chinês ter sua primeira regressão em pelo menos 20 décadas, segundo registro da Bloomberg.
Mesmo assim a estimativa é de comercialização de 200 mil unidades do Model Y por ano. O volume não é suficiente para fazer a Tesla ter boa margem de lucro, ainda mais após a redução de incentivos fiscais do governo americano. A quantidade de carros vendidos foi mais uma das polêmicas recentes de Musk.
Ele disse no Twitter que a Tesla fabricaria 500 mil veículos em 2019, mas quatro horas depois esclareceu que seriam 400 mil. A correção veio porque o número maior do que o esperado poderia elevar o valor das ações da empresa na bolsa com base em dados errados.
Outro fator que diminui a vantagem da Tesla é a direção autônoma dos carros, a empresa saiu na frente, mas acabou alcançada por outros concorrentes.
Sem um salto para direção completamente autônoma, haverá pouco para diferenciar a Tesla de marcas mais consagradas
Bill Ray, do Gartner
Espaço, a fronteira pouco explorada
A concorrência está ficando pesada nas ruas e rodovias, mas Musk tem na SpaceX uma alternativa espacial aos seus carros modernos. Ao contrário de um mercado cheio de empresas enormes estabelecidas, onde a Tesla era a estranha tentando cavar um espaço no meio, existem poucas companhias privadas ou até públicas no ramo aeroespacial.
Em vez de Audi, Jaguar, Ford, Toyota, Hyundai e muitas outras, a briga para lançamentos de foguetes "pesados" é restrita entre a United Launch Alliance, uma joint venture da Boeing com a Lockheed Martin, e a estatal russa Roscosmos State Corporation. A produção de equipamentos capazes levar cargas pesadas, que vão desde pessoas e suprimentos até estações espaciais, é um filão específico desse mercado de clientes bem seletos, como o governo dos Estados Unidos.
A SpaceX está bem posicionada nesse ramo, tendo completado com sucesso a missão teste da cápsula Crew Dragon, que se acoplou na Estação Espacial Internacional (ISS) no último dia 3 de março.
"O governo dos EUA dividiu seus contratos entre a SpaceX e a United Launch Alliance, e certamente tentará evitar a Roscosmos", explica Ray. Com um cliente desse tamanho, a empresa de Musk tem uma graninha garantida com seus serviços, mas só se mantiver padrões elevadíssimos de qualidade.
Isso se aplica tanto a essas operações consideradas como "pesadas" quando às "leves", que envolvem o lançamento de satélites para a órbita terrestre baixa - de 80 a 2 mil quilômetros de distância da Terra. Este é o outro setor do mercado aeroespacial em que a SpaceX atua, dessa vez com mais concorrentes.
Você pode até pensar que a Blue Origin, de Jeff Bezos, e a Virgin Galactic, de Richard Branson, são adversários no ramo, mas as ambições das empresas da dupla de bilionários não chegam a tudo isso. Por enquanto, ambas não buscaram atingir a chamada velocidade orbital, cerca de 7,8 km/s, o que significa que seus veículos não podem chegar às mesmas distâncias que os da SpaceX e outras concorrentes.
Neste setor "leve", a SpaceX tem um projeto elaborado em curso chamado StarLink. Ele constitui na formação de uma "constelação de satélites", que implicará no lançamento de 12 mil dispositivos à órbita até meados dos anos 2020. Os equipamentos na órbita da Terra servirão como uma rede de banda larga global.
"Nos lançamentos 'leves', a SpaceX está mirando um mercado que está em desenvolvimento e ainda precisa se provar viável comercialmente, mas tem a si mesma, sob a marca StarLink como um cliente garantido", diz Ray.
Em ambos os subsetores, a empresa de Elon Musk tem um posicionamento firme que tende a não ser contestado, afinal não é qualquer empresa que vai começar a fabricar foguetes e mandar humanos para a ISS. Mesmo no ramo do lançamento de satélites, onde há mais disputas, a situação é muito mais confortável do que a da Tesla em meio a diversas grandes empresas do mercado automobilístico.
Se a SpaceX mantiver a confiabilidade e baixos preços, haverá pouca oportunidade para competidores ganharem parcelas do mercado
Bill Ray, do Gartner
E é aí que está a diferença que mostra que o futuro dos negócios de Musk está mais para fora do planeta do que no chão dele. Isso, se não houver nenhum acidente. Como qualquer um pode imaginar, a explosão de um foguete com um satélite acoplado seria um desastre em todos os sentidos, desde a reputação da empresa até os cofres dela.
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