Por que a nova decolagem do foguete de Musk pode mudar a corrida espacial
Resumo da notícia
- Falcon Heavy, foguete da SpaceX, vai fazer sua segunda decolagem
- O lançamento de um satélite de telecomunicação é sua 1ª operação comercial
- No primeiro voo, ele levou o carro de Elon Musk para o espaço
- Se a missão der certo, pode inaugurar um novo capítulo da corrida espacial
Você deve se lembrar de quando a SpaceX, empresa espacial de Elon Musk, mandou o carro do executivo para o espaço, certo? Aquilo era apenas uma demonstração de que os foguetes Falcon Heavy funcionavam. A primeira decolagem comercial para valer ocorre nesta quarta-feira (10) e, se tudo der certo, pode mudar a corrida espacial.
Os foguetes vão transportar um satélite de telecomunicações que atenderá África, Europa e Oriente Médio. Mas não é isso que o torna tão notável. Eles podem transportar equipamentos bastante pesados, como estações espaciais inteiras, a um custo que chega a um quinto do que é gasto atualmente. Parte da economia ocorre porque os propulsores não são totalmente descartados durante o voo, como ocorre geralmente: eles pousam para serem usados em novas decolagens.
Como é o foguete?
Para entender qual o impacto do lançamento desta quarta, é preciso antes conhecer a estrela do dia: o Falcon Heavy. O foguete carrega cargas "pesadas" como poucos no mundo.
- Com 70 metros de altura, é composto por três partes. Na ponta, há o compartimento que abriga a carga a ser levada para o espaço.
- Logo abaixo, no segundo estágio, há um motor que impulsionará o restante da nave para a órbita desejada. Esse motor é importante porque todo o primeiro estágio do foguete é descartado pouco tempo após a decolagem.
- O primeiro estágio é composto por três núcleos, cada um formado por nove motores propulsores - são 27 ao todo. Juntos, eles são bastante poderosos: geram 22,8 milhões de Newtons como força de impulso. Como geralmente ocorre em lançamentos espaciais, esses três núcleos se desprendem do restante do foguete. Mas, diferentemente dos outros, eles não se perdem. Pousam usando os próprios motores. Com isso, a SpaceX economiza milhões de dólares a cada voo.
O que ele vai levar?
Esta é apenas a segunda missão do Falcon Heavy. Quando comparada a ela, a primeira decolagem, realizada em fevereiro do ano passado, foi só um aquecimento. Isso porque todos os elementos envolvidos neste lançamento exigem maior cuidado. A começar pela carga.
Pouco mais de um ano atrás, o Falcon Heavy chamou mais atenção pela excentricidade do que estava sendo levado para o espaço do que para a importância da carga. Musk foi mais Musk do que nunca e jogou para a torcida: mandou para as alturas seu carro Tesla Roadster, pilotado por um manequim apelidado de Starman.
Desta vez, há muito mais em risco. Os foguetes irão transportar o satélite Arabsat 6A, feito pela Lockheed Martin, para a Arabsat, uma empresa da Arábia Saudita. O equipamento de telecomunicação vai ser usado para levar internet, telefonia celular e TV por assinatura a três continentes. Talvez por isso, o poder de propulsão envolvido neste lançamento será consideravelmente maior. "O impulso máximo de 2.550 toneladas será quase 10% maior do que a missão teste do Falcon Heavy no ano passado", afirmou Elon Musk.
Por que o lançamento pode mudar a corrida espacial?
Mandar qualquer coisa para o espaço é uma tarefa difícil. A complexidade cresce significantemente conforme aumenta o peso da carga. A lógica desses voos é mesma daquela usada para transportar cargas menores, mas o poder de propulsão exigido aumenta exponencialmente.
Ao passo que enviar grandes equipamentos ao espaço é um desafio gigantesco, o transporte de cargas pequenas e médias passou a ser uma empreitada cada vez menos complicada e mais barata devido ao surgimento de novas tecnologias. Uma delas é o Electron. Desenvolvido pela empresa Rocket Lab, ele é um sistema de lançamento descartável a um custo de US$ 6 milhões - uma pechincha em se tratando de voos espaciais.
A própria SpaceX inovou ao criar os foguetes reaproveitáveis. Até agora, a empresa de Musk usou a estratégia de usar motores novamente só para lançamentos menores, com o Falcon 9, que equivale a apenas um dos núcleos do Falcon Heavy.
Essa onda de inovação espacial fez com que colocar em órbita equipamentos leves ficasse tão acessível a ponto de até startups se aventurarem nesse segmento. Quando a história é levar carregamentos pesados, porém, somente empresas gigantes estão aptas para a missão. Uma delas é a SpaceX, que disputa mercado com outras duas, a United Launch Alliance (ULA), uma joint venture entre Boeing e Lockheed Martin, e a estatal russa Roscosmos State Corporation.
O governo dos EUA dividiu seus contratos entre a SpaceX e a ULA, e certamente tentará evitar a Roscosmos
Bill Ray, analista da consultoria Gartner
A empresa de Musk, por exemplo, já fechou o lançamento de um satélite do Comando Espacial da Força Aérea como parte de um contrato avaliado em US$ 160 milhões.
Só que as técnicas de reutilização de foguetes criadas pela SpaceX dão uma tremenda vantagem ao Falcon Heavy: enquanto um lançamento dele custa entre US$ 90 milhões e US$ 150 milhões, a decolagem do Delta 4, foguete da ULA, não sai por menos de US$ 350 milhões. O plano é reutilizar o Falcon Heavy em até 10 viagens.
A empresa de Musk já possui contratos com a Nasa, mas a ideia é ampliar a parceria. Estão nos planos da agência espacial norte-americana fazer viagens exploratórias a Marte e retornar à Lua nos próximos anos. E, como apenas foguetes peso pesado darão conta dessas missões, a SpaceX pode ser uma das potenciais parceiras.
Rumo a Plutão?
Até hoje, o mais potente dessa categoria a decolar foi o Saturn V, da Nasa. Em 1973, ele colocou em órbita a estação espacial Skylab, que pesava 130 toneladas (o equivalente a 10 ônibus escolares).
O Falcon Heavy não chega a tanto. Carrega até 63,8 toneladas. Como o satélite Arabsat 6A pesa apenas 5,8 toneladas, não precisará colocar todo seu poder em ação.
Mas a SpaceX usa essa capacidade toda para sinalizar à Nasa que está pronta para voar mais alto. A empresa já até calcula que, caso a missão fosse rumo ao planeta vermelho, conseguiria transportar 16,8 toneladas. E, como quem não quer nada, a firma presidida por Musk avisa que poderia carregar 3,5 toneladas até Plutão.
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