Muito antes da Nasa, brasileiro entregou comida com drone... e foi impedido
Sem tempo, irmão
- Padaria no interior de São Paulo testou entrega de pães com drone em 2014
- Testes renderam ao dono um parabéns, seguido de processo na Anac
- Agora drones ganham espaço e Nasa já testa tráfego para entregas do futuro
- McDonald's quer entregar hambúrgueres voadores em larga escala a partir de 2023
São Carlos não é exatamente um exemplo de pacata cidade do interior paulista, mas poucos imaginam que por ali um drone costumava carregar uma maletinha amarela com encomendas. A entrega partia da Pão to Go, uma padaria drive thru no centro, e seguia em direção a um condomínio a cerca de um quilômetro dali. Lentamente, o drone pousava no quintal, deixava o pacote e retornava para a padaria. Sem pedir gorjeta.
A cena não é nova, nem foi protagonizada por algum parceiro da Amazon. Aconteceu em 2014. Para você ter ideia, só em fevereiro deste ano a Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço) realizou os primeiros grandes testes em Nevada (EUA) para criar a engenharia do tráfego para as entregas do futuro.
São Carlos, também conhecida como a capital brasileira da tecnologia, só não fez história, porque o empresário Tom Ricetti estava alguns pés à frente (ou acima) de seu tempo. A ideia era uma espécie de locomotiva sem trilhos, e esbarrou nas normas de tráfego aéreo do país.
Ele lembra que os testes renderam a ele um processo administrativo da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). A notificação começava de forma curiosa: a agência parabenizava a iniciativa pelo empreendedorismo e pioneirismo, mas alertava que os testes estavam proibidos e cobrava uma multa.
"Nos defendemos judicialmente e escapamos da punição", contou Ricetti para a reportagem de Tilt. "Disseram que haveria uma legislação até o fim do mesmo ano para a regulamentação da Operação de Drones. Isso só aconteceu anos depois."
Drones, os entregadores de amanhã
O empresário de São Carlos viveu há 5 anos o que agora começa a se desenhar nos céus de muitos países. No fim de maio, a cidade de Reno, em Nevada (EUA), conhecida como "a maior menor cidade do mundo", parou para ver a simulação de como será o espaço aéreo do futuro.
"Estou um pouco nervoso", disse um morador, em entrevista à rede CNBC, que registrou in loco o enxame de drones pelos céus da cidade.
Novos testes voltaram a acontecer na cidade em junho, e não chamaram a atenção apenas dos habitantes locais. Em visita aos EUA, o presidente da Polônia, Andrzej Duda, acompanhou de perto as demonstrações do alto de um antigo posto dos correios. Estava acompanhado de engenheiros poloneses, interessados em levar a tecnologia para a Europa --pouco antes, o presidente Donald Trump havia anunciado a intenção de enviar drones de vigilância e mil soldados americanos à Polônia, o que provocou reação da Rússia, que prometeu monitorar "de perto" os movimentos.
Geopolítica à parte (ou não), desde 2015 a Nasa desenvolve experimentos para construir um sistema nacional para gerenciar o chamado tráfego aéreo de baixa altitude. A expectativa é que centenas de milhares de drones sejam registrados nos EUA para uso comercial até 2020.
Muito mais do que entregas
Além de entregas, eles poderão monitorar o tráfego de automóveis, inspecionar a rede elétrica e obras de infraestrutura, como pontes, e atender emergências.
Chamado de UTM (Gerenciamento de Tráfego de Sistemas de Aviões Não Tripulados), o projeto é liderado pelo Ames Research Center, da Nasa, no Vale do Silício, na Califórnia, em parceria com agências federais, como a Federal Aviation Administration (FAA), e parceiros acadêmicos e comerciais. Nas ruas bloqueadas para testes em Reno, a agência espacial simula diferentes cenários com vários drones voando ao mesmo tempo sobre as ruas e entre os prédios.
Em um comunicado, a agência informou aos moradores que eles não precisariam se preocupar com questões como poluição sonora ("os ruídos serão limitados") nem com interferências na rede wi-fi, e que questões como a privacidade dos moradores serão resolvidas em breve, pelas agências reguladoras.
Empresas já estão na nova corrida espacial
Enquanto a nova engenharia de tráfego é desenhada, as empresas já se antecipam ao futuro. Recentemente, a Uber venceu uma licitação da Federal Aviation Administration (FAA), dos EUA, para testar entregas de comida com drones em San Diego. O serviço, segundo a companhia, será impulsionado pelo Elevate Cloud Systems, um sistema de gerenciamento de espaço aéreo que rastreia e guia voos de drones da decolagem até o pouso.
A fase inicial de testes em San Diego foi feita com o McDonald's e será ampliada para outros restaurantes parceiros do Uber Eats ainda em 2019. O objetivo é que os clientes possam pedir hambúrgueres voadores em larga escala a partir de 2023 --logo ali, diria um apresentador mais empolgado.
"O Brasil tem tudo para voar"
A 9.813 quilômetros do epicentro dos testes, Tom Ricetti acompanha com atenção as notícias vindas de Nevada. "Esses projetos estão engatinhando no mundo inteiro, e aqui vai demorar um pouco mais para chegar. Nossos testes em São Carlos funcionaram perfeitamente. Se a parte de burocracia não emperrar, o Brasil tem tudo pra voar."
Até lá, o empresário aposta em outros projetos de logística não tradicional, como ele mesmo define. Desta vez, com os pés (e as rodas) no chão. O próximo passo, adianta ele, é lançar uma bicicleta de entrega autônoma em condomínios fechados.
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