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5 coisas que você precisa saber sobre o imbróglio da Huawei com os EUA

Vaivém das últimas semanas mostra a imprevisibilidade da relação - Getty Images
Vaivém das últimas semanas mostra a imprevisibilidade da relação Imagem: Getty Images

Rodrigo Trindade

De Tilt, em São Paulo

19/08/2019 19h06Atualizada em 20/08/2019 08h58

Esta segunda-feira (19) era a data-limite para que a Huawei entrasse de vez na "lista negra" do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, status que impediria que a empresa chinesa pudesse comprar componentes de seus produtos de parceiros americanos sem que o governo local aprovasse. Isso era esperado desde maio, mas o secretário de comércio Wilbur Ross renovou a "licença geral temporária" para a Huawei por mais 90 dias.

Essa flexibilização veio um dia depois do presidente Donald Trump dizer que não pretende fazer negócios "de forma alguma" com a gigante de telecomunicações chinesas. O político americano reiterou que sua preocupação é com a segurança nacional de seu país. Se você não está por dentro dessa história, fique tranquilo que a gente te ajuda.

Concorrência e segurança

Pelo seu tamanho e área de atuação, a Huawei virou um bode expiatório em meio a toda a guerra comercial entre Estados Unidos e China. Vice-líder no mercado de smartphones global, a empresa também desenvolve softwares e é a líder em equipamentos de telecomunicações, uma das três fornecedoras de redes 5G do planeta.

É este campo que serve de desculpa para Trump destacar a Huawei como uma inimiga dos Estados Unidos. O país também teme que os laços da empresa com o governo chinês possam significar a instalação de redes de telefonia móvel com "portas dos fundos", brechas de segurança que poderiam permitir que a China interceptasse dados nos locais onde o 5G for providenciado por equipamentos da Huawei.

O ataque direto

Depois de processo e acusações, os Estados Unidos partiram para uma ofensiva específica contra a Huawei. Em maio, a empresa chinesa entrou para a tal "lista negra" do comércio, junto a outras 70 afiliadas. A argumentação do secretário Wilbur Ross é que isso impedirá que a tecnologia americana seja usada por estrangeiros de uma maneira que mine a segurança ou os interesses de política externa dos Estados Unidos.

No dia seguinte, Google, Qualcomm e Intel, entre outras empresas americanas, confirmaram que iriam aderir às ordens governamentais, interrompendo a venda de componentes à Huawei. O caso do Google foi o mais crítico, já que os celulares da marca chinesa utilizam o sistema operacional Android.

A autossuficiência da Huawei

Embora esteja com a licença temporária para comprar o que for necessário de empresas americanas e "atender clientes existentes", a Huawei está bem posicionada para diminuir sua dependência a fornecedores estrangeiros. Ao contrário da maioria de seus concorrentes no mercado de smartphones, a marca não depende de processadores terceiros, já é proprietária e utiliza os processadores da chinesa HiSilicon.

Neste mês de agosto, a empresa chinesa também revelou o HarmonyOS, seu próprio sistema operacional. Com ele, o Android deixa de ser essencial, embora ainda existam questões sobre de onde virão os aplicativos compatíveis - o acesso à Play Store, do Google, está na lista de restrições impostas pelo governo americano.

Empresas americanas querem acesso à China

A atitude de Donald Trump em vetar a comercialização com a Huawei, em conjunto às tarifas aplicadas a produtos chineses, motivaram reuniões de executivos de empresas americanas com o presidente. Nestes encontros, o pedido era de uma trégua na guerra comercial. Google, Intel, Cisco, Qualcomm e Apple estão entre as companhias que discutiram com o presidente.

O Google, por exemplo, perderá o acesso aos aparelhos da segunda maior fabricante de smartphones do mundo e terá a concorrência do HarmonyOS em campos como computadores, vestíveis, sistemas multimídia de carros e internet das coisas. A Apple se preocupa com a Samsung, que poderá oferecer produtos mais baratos por não ter que encarar as mesmas tarifas da guerra comercial. Enquanto isso, a fabricante do iPhone segue perdendo espaço na Ásia.

Futuro confuso

No final de julho, Donald Trump havia sinalizado que as restrições à Huawei poderiam ser suspensas. Ele se reuniu com o presidente chinês Xi Jinping na última cúpula do G20 e saiu do encontro falando que os países retomariam conversas comerciais. Além disso, o presidente disse que os Estados Unidos iriam parar de implementar novas tarifas a bens chineses. No dia 1º de agosto, Trump impôs tarifas de 10% em importados chineses avaliados em US$ 300 bilhões, a serem aplicadas a partir de setembro.

A pressão da Apple, recebida com carinho pelo presidente americano, veio depois dessa iniciativa, assim como a extensão da licença temporária a empresas americanas que são fornecedoras da Huawei. Todas essas variações de comportamento vieram em dois meses, o que dificulta qualquer previsão do que acontecerá daqui em diante.

Certo é que a Huawei continuará tocando seus negócios, com ou sem os parceiros dos Estados Unidos. O executivo-chefe Ren Zhengfei sente que sua empresa é subestimada por americanos e afirmou que, aos preocupados, assinará acordos de não-espionagem com governos e clientes dos equipamentos de 5G da marca.

Quanto aos celulares, o mercado chinês bastou para a Huawei vender mais que a Apple no segundo trimestre de 2019 e o HarmonyOS alivia o impacto da restrição ao uso do Android. Para quem esperava um conflito, Ren e sua empresa aguentaram bem os primeiros socos.

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