Por que as grandes de tec estão com medo da nova tarifa digital francesa?
Representantes de três das cinco maiores empresas de tecnologia dos EUA (conhecidos como FAANG, sigla formada por Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google) devem depor em uma comissão comercial dos EUA nesta segunda-feira (19). O motivo? Uma tarifa recém-criada pelo governo da França que pode causar uma grande dor de cabeça aos ganhos dessas gigantes.
Aprovada pelo Senado da França em julho, a nova tarifa de serviços digitais exige das empresas com receita global acima de US$ 831 milhões que paguem 3% sobre suas vendas à França. A cobrança vale retroativamente, a partir do início deste ano.
Essas empresas já se acostumaram a pagar taxas ao governo de seu país natal, os EUA. Mas o que as irritou desta vez é que o imposto francês fugiu desse padrão e está taxando a receita da empresa, e não seu lucro, o que eleva bastante a multa.
Empresas de tecnologia geralmente mantêm escritórios europeus em países onde os impostos são menores, como Irlanda (Google) e Luxemburgo (Amazon), o que costuma render a elas acusações de manobra fiscal --já que a maioria das vendas não é feita nestes países.
Segundo o ministro da Fazenda francês, Bruno Le Maire, cerca de 30 empresas, a maioria americana, serão afetadas pela tarifa digital, que pode render cerca de 500 milhões de euros à França.
Segundo o site Business Insider, Amazon, Facebook e Google enviaram representantes à audiência em Washington. Um advogado que representa as três empresas e outras, como Airbnb, Microsoft e Twitter, também estará na reunião.
Discriminação?
O argumento das empresas de tecnologia contrárias à nova tarifa é que ela pode causar perda de empregos. Peter Hiltz, diretor de política tributária internacional e planejamento da Amazon, disse que a taxa seria "prejudicial" e "discriminatória", por valer somente "para um pequeno número de empresas, quase todas não-francesas".
Segundo ele, a tarifa pode impedir pequenas e médias empresas de crescer e vender, porque encareceria o custo de fazer negócios em território francês. A medida também afetaria terceiros que vendem em plataformas como a da Amazon. "A taxa (...) poderia causar perda de vendas, redução de investimentos e produção, e pode até causar perdas de empregos."
Em julho, o presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou uma investigação sobre a nova taxa criada pela França. O resultado do inquérito pode levar os EUA a impor tarifas retaliatórias.
Ou seja, se não bastava a guerra comercial e tecnológica com a China, Trump agora pode encrencar também com os franceses. "Se alguém foi taxá-las, deveria ser o país delas, os Estados Unidos. Vamos anunciar uma ação substancial recíproca sobre a loucura de Macron", escreveu Trump em julho no Twitter, referindo-se ao presidente francês, Emmanuel Macron.
E nessa já sobrou até para o vinho francês. No mesmo tuíte, ele provocou: "Sempre achei que o vinho americano é melhor que o francês!"
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