Jovem nos EUA não liga, nem digita no celular: chegou a Era da vídeochamada
A frase "Hey, can you see me?" (Oi, está me vendo?) está virando comum nos Estados Unidos. Aqui, onde a tecnologia e os smartphones definem a passos largos como as pessoas se comunicam, diferentes gerações de americanos estão fazendo mais ligações de vídeo do que nunca.
Há sete anos, época em que o Skype era sinônimo de conversa por vídeo, uma pesquisa da Pew Research indicou que mais de um terço dos adolescentes, de 12 a 17 anos, já conversava por vídeo.
Um breve pulo no tempo e o relatório sobre consumo digital da empresa de consultoria Ovum mostrou que 47% dos americanos usaram regularmente aplicativos de vídeochamada em 2018. "Eles estão mais confortáveis em frente à câmera do que atrás dela", informou o relatório da pesquisa.
Vídeochats também estão se tornando mais populares do que ligações telefônicas, de acordo com outro estudo. O número de ligações por telefone subiu 8% em três anos - de 2015 a 2018. Já as chamadas de vídeo aumentaram (pasmem) 171%. A Ovum declarou diante disso que "as chamadas de voz tradicionais podem se tornar relíquia".
Outro dado bem interessante é que a população americana com faixa etária entre 35 e 54 anos, e também pessoas com mais de 55 anos, fizeram mais chamadas de vídeo do que faziam há um ano.
E os celulares foram os principais dispositivos utilizados para as conversas por vídeo (68%). Nas pesquisas feitas pela mesma empresa em 2012 e 2015, os laptops foram os mais usados.
E, afinal das contas, por que os americanos fazem cada vez mais vídeo-chamadas? "Elas proporcionam uma experiência mais pessoal" comparadas às outras formas de comunicação como telefonemas ou mensagens, disseram 37,8% dos entrevistados da pesquisa Tokbox.
Mudança não é da noite para o dia
Por outro lado, não ache que ninguém mais manda mensagens de texto. O instituto de pesquisa Statistic Brain descobriu que 781 bilhões de mensagens de texto foram enviadas por mês nos Estados Unidos em 2017. Em média, cada americano mandou e recebeu cerca de 94 mensagens por dia.
É importante destacar que, embora no Brasil o meio mais comum de envio de mensagens seja o WhatsApp, entre os americanos os meios mais populares são o SMS, iMessage, Facebook e Instagram.
E as conversas telefônicas entre os millennials? Muito raras. A pesquisa mais recente sobre vídeochamadas deixou claro que, só nos últimos três anos, esse tipo de comunicação aumentou em 175% entre os millennials. Um quarto deles disse conversar por vídeo todos os dias.
Vale lembrar que, no ano passado, os millennials já totalizavam 22% da população americana. E, de acordo com projeções do governo, em 2019, são 73 milhões no país. Se um quarto deles bate papo por vídeo diariamente, então, são 18 milhões de videochamadas por dia.
Na minha última visita ao Brasil em julho deste ano, vi muita gente digitando e mandando áudio pelo WhatsApp (ou mesmo conversando por voz pelo celular), mas vídeochamada ainda não é tão popular (e não existem muitos dados sobre seu uso). Apesar disso, podemos dizer que a mudança também está sendo impulsionada pelos mais jovens no Brasil.
Vídeochamadas são usadas no trabalho
Embora a pesquisa da Tokbok tenha indicado que "pessoas de todas as gerações, de millennials até a Geração X, batem mais papo por vídeo do que antes", para algumas pessoas mais velhas, o hábito das vídeochamadas ainda é menos comum. "Uau, estou surpreso ao ouvir isso sobre vídeochats! Pessoalmente, quase todas as minhas videochamadas são relacionadas ao meu trabalho. Eu só consigo me lembrar de ter tido duas conversas por vídeo no âmbito pessoal e uma delas eu recebi por engano", comentou Dave Woods, que mora em San Diego e, aos 38 anos, continua adepto ao envio de iMessages.
Mais de 50% dos americanos já participava de vídeo-conferências em 2016. Dados da StarLeaf Cloud Data Intelligence mostraram que, de 2014 a 2018, as videoconferências na nuvem nos Estados Unidos cresceram 1034%.
As chamadas por vídeo também têm sido úteis para prestação de serviços. Um terço dos participantes de um dos estudos recentes disse já ter usado esse recurso. Por aqui, é possível usar esses serviços pelo laptop, tablet/iPad e celular. Ao ir ao caixa eletrônico de alguns bancos, por exemplo, pode acontecer de você ser surpreendido por uma atendente (uma pessoa mesmo; não um robô) que aparece na tela do terminal e lhe diz "Bom dia, como posso te ajudar?"
E os adolescentes da Geração Z?
Nascidos na Era da Inernet, os Gen Z'ers americanos continuam enviando mensagens de texto - 62,5% deles fazem isso diariamente, segundo pesquisa da Pollfish. Mas a geração também faz vídeochamadas.
Como 250 milhões de pessoas possuem smartphones no país e, dentre essas, 101,9 milhões são usuárias de iPhone, o FaceTime ser usado em larga escala nos Estados Unidos não é novidade. A designer comportamental Heather Watson, do CGK - Centro para Cinética de Gerações, afirmou que "quando eles da Geração Z querem se comunicar em particular com um amigo ou um grupo pequeno de amigos próximos, eles usam o FaceTime".
E amigos para essa geração são tanto os reais quanto os virtuais. "Quando tinha uns 13 anos de idade, eu costumava conversar por vídeo com amigos que eu fiz por causa do meu canal no YouTube", me contou Janeane Maliyah, de 19 anos, que mora em Los Angeles.
E embora confortáveis diante da câmera, muitos Gen Z'ers acham que as vídeo-chamadas em ambiente público são ofensivas. "Eu fico muito irritado porque não gosto quando as pessoas se falam pelo FaceTime quando não estão em casa. Todo mundo ouve o que você está falando. É perturbador e rude", disse o participante de uma pesquisa feita pelo CGK.
Tecnicamente da Geração X (aqueles nascidos entre 1965 e 1980), Diana Sanderson conversa, às vezes, com o irmão que mora em Nova York. "Fora isso, não sou uma pessoa de bater papo por vídeo", disse ela. "Minha filha é mais rápida para me ligar no FaceTime do que para uma ligação de voz. Como eu geralmente estou em uma loja ou no carro, sinto que é um pouco inconveniente", finalizou.
"Ei, que tal uma vídeo chat com a vovó?"
Chamadas por vídeo se tornaram também um meio de interação e conexão entre familiares de gerações distintas. Uma mãe, que vive em Nova York, disse que o filho Dylan é tímido ao falar no telefone - coisa normal para uma criança de 3 anos, mas que ele adora conversar por vídeo com os avós. "Ele pede para a minha mãe ler histórias pra ele na hora de dormir e pro meu pai 'fazer um tour' pelo porão da casa." É provável que os avós do Dylan se encaixem no grupo de adultos com mais de 55 anos que dizem fazer mais chamadas de vídeo atualmente do que há um ano.
A psicóloga Elisabeth McLur comentou, em uma matéria do New York Times, que "mesmo os pais com políticas rígidas de não-uso de internet abrem uma exceção para bate papos por vídeo". Ela conduziu um dos poucos estudos feitos até agora, que incluiu 183 pais de bebês e de crianças pequenas em Washington.
Com 7 anos de idade, Sierra Vardiman, que mora em Eastlake, na Califórnia, é outro exemplo de como as crianças americanas começam a conversar cedo. "Ela já faz isso há anos, mas só pode falar por vídeo com as crianças que eu aprovar, geralmente vizinhos ou primos", detalhou a mãe Beth.
Empresas já estão de olho
Ao que parece, as empresas estão antenadas nessa tendência. Os apps de vídeo chat focados nos jovens, por exemplo, estão cada vez mais multifuncionais - House Party, Monkey e Holla, entre outros. A ideia é criar a sensação de que se está junto de alguém mesmo não estando. Isso acontece, por exemplo, quando o usuário assiste a vídeos e ouve músicas em grupo em um desses apps.
Para se ter uma ideia da popularidade desses apps, há um ano, 20 milhões de pessoas já usavam o Houseparty. Nele, a galera de até 24 anos se "encontra" com os amigos e, às vezes, também com os amigos de amigos nos vídeo chats em grupo.
E no marketplace você encontra apps de vídeo chat para praticamente todos os objetivos e públicos: "chamada de vídeo de alta qualidade", "ferramenta fácil de usar e confiável", "ambiente seguro para o seu filho com atividades divertidas", "vídeochamada para idosos" e por aí afora.
Por falar nisso, acabei de perceber que eu perdi uma chamada de vídeo enquanto escrevia. Será que foi um millennial? Ou um Gen Z'er? O que eles fariam caso não quisessem retornar uma vídeo call?
Pronto, já tenho uma sugestão para a próxima pesquisa: "etiqueta nas vídeochamadas".
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