Método facilita escolha de sexo de bebês, mas queremos mesmo isso?
Uma recente pesquisa realizada na Universidade de Hiroshima, no Japão, descobriu que alguns compostos químicos são capazes de retardar o esperma portador do cromossomo X (feminino) em relação ao Y (masculino). Desta maneira, tal experimento poderia, em última hipótese, conter o nascimento de meninas no mundo. Mas será que isso é necessário ou pode criar uma distopia sexista à la "Handmaid's Tale"?
A escolha de sexo dos embriões é um assunto que vem sendo cada vez mais discutido na sociedade de forma complexa. Em alguns países, essa ação é considerada ilegal em relação aos seus princípios éticos. Esse é o caso do Brasil, que só abre uma exceção quando se trata de evitar doenças relacionadas a determinado sexo.
Segundo os cientistas japoneses, ambos os espermatozoides são idênticos, a não ser pelo DNA que carregam. Com isso, descobriram que existem 500 genes nos descendentes femininos que não existem nos masculinos —e destes genes, 18 codificam proteínas que se destacam da superfície da célula espermática.
A partir dessa descoberta, verificou-se que, ao juntar compostos químicos que se ligam a duas dessas proteínas, eles conseguem retardar o movimento dos portadores X, não afetando os portadores Y, e, assim, diferenciando ambos.
Quando os cientistas usaram esse método nos espermas de ratos de laboratório, descobriram que 90% dos espermatozoides concebidos eram do sexo masculino.
Caso seja aprovado, esse método pode resultar em produtos facilmente comercializados, como uma espécie de gel ou espuma que seria introduzida no órgão sexual feminino antes da relação sexual.
"O impacto social deste produto me preocupa, pois é muito simples. Qualquer um pode usá-lo dentro do seu próprio quarto. Ninguém poderia te impedir de fazer isso", afirmou Alireza Fazeli, da Universidade de Tartu, na Estônia, ao portal New Scientist.
Apesar de não ter sido testado em embriões humanos, o cientista responsável pela pesquisa, Masayuki Shimada, afirmou que esse será o próximo passo e garantiu que há grandes chances de funcionar.
Impacto social
Segundo estudo realizado por pesquisadores da ONU (Organização das Nações Unidas) e das Universidades de Cingapura e Massachusetts, cerca de 23,1 milhões de mulheres deixaram de nascer entre 1970 e 2017, desde que o aborto seletivo, com base na preferência de sexo, foi aprovado.
Esses números estão presentes em doze países, sendo a maioria dos casos na China (11,9 milhões) e Índia (10,6 milhões), onde a preferência por crianças do sexo masculino é maior do que do sexo feminino. Os outros países estudados são: Armênia, Azerbaijão, Hong Kong (administrado pela China), Coreia do Sul, Taiwan (província da China), Tunísia, Vietnã e Albânia.
A partir disso, é possível perceber que experimentos como esse podem gerar um desequilíbrio demográfico no planeta.
Outros métodos
Diferentes métodos já foram descobertos, como o da reprodução assistida, onde é possível identificar, na fertilização in vitro, os cromossomos X e Y nos óvulos fertilizados. Esse recurso pode ser 100% efetivo, mas tem um alto valor financeiro.
Além disso, também é possível usar corante fosforescente no sêmen que se liga ao DNA —desta maneira, como espermatozoides que carregam o cromossomo X contam com mais DNA, eles serão mais brilhosos do que os demais, e podem ser separados um de cada vez.
Nos Estados Unidos, a escolha de sexo é considerada legal, já que apenas uma pequena parcela da população tem condições financeiras de bancá-la para uso seletivo.
Pontos positivos
Quando usados em embriões humanos, essa é uma questão duvidosa. No entanto, o artigo destaca um ponto positivo, já que esse método pode ajudar a melhorar a seleção de sexo na pecuária, onde fêmeas bovinas são usadas para a produção de leite, e os machos, para carne.
Nos EUA, muitos pecuaristas inseminam vacas com sêmen com uma técnica chamada citometria de fluxo, que dá cerca de 90% de chance de cada filhote ser do sexo desejado de acordo com a demanda do dono do gado. Mas esta técnica não funciona bem com suínos, e a de Shimada poderia ser mais eficaz para eles.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.