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Cadê o avanço? Cai muito participação e salário das mulheres na tecnologia

Falta preparo da área de recursos humanos de algumas empresas - Getty Images
Falta preparo da área de recursos humanos de algumas empresas Imagem: Getty Images

Mara Maehara*

Especial para Tilt

08/09/2019 04h00

Mesmo não estando totalmente imune à crise econômica que assola o país nos últimos anos, o segmento de tecnologia da informação no Brasil é um dos únicos que mantém, há mais de uma década, uma significativa expansão. Mas mesmo com o crescimento constante do faturamento e postos de trabalho em ascensão, o setor não está imune a um dos mais polêmicos desafios da atualidade: a baixa representatividade feminina, principalmente em cargos de liderança.

Times compostos por homens e mulheres podem gerar um equilíbrio importante para os resultados de performance devido às diferentes características dos gêneros. Falando especificamente das mulheres, saber equilibrar a vida pessoal com a profissional, ser multitarefa, ter mais disposição para ouvir, trabalhar bem em equipe e ser resiliente, são competências importantes na composição de times que precisam cada vez mais se adaptar com mais agilidade às constantes transformações dos negócios.

Segundo o estudo da Softex "Mulheres na TI - Atuação da mulher no mercado de trabalho formal brasileiro em Tecnologia da Informação", com base em dados de 2007 a 2017, a participação da mulher no mercado de trabalho em tecnologia vem caindo, enquanto a diferença de salários entre os dois gêneros vem aumentando —consequência da diminuição das mulheres nos altos cargos os quais os salários são mais expressivos.

Para se ter uma ideia do cenário, em 2007, elas ocupavam 24% dos postos de trabalho no Core TI (setores econômicos tipicamente de TI) e os homens 76%. Embora a quantidade de mulheres tenha praticamente dobrado de 2007 para 2017 (21.253 para 40.492), a quantidade de homens aumentou 144% (67.106 para 163.685). Ao longo desses dez anos, a participação da mulher no mercado de trabalho no Core TI diminuiu de 24% para cerca de 20%.

Quanto à remuneração por gênero, os dados permitem observar que, se em 2007 os homens ganhavam 5,34% mais, em 2017 essa diferença mais que dobrou, passando para 11,05%.

Por outro lado, apesar da participação feminina ter diminuído, o nível de graduação das mulheres é maior do que a dos homens. Isso está associado ao esforço sempre crescente da mulher em buscar especialização para conquistar seu espaço no mercado.

Dentre os principais desafios enfrentados pelas mulheres para conquistar cargos de liderança no setor de TI, podemos citar a falta de preparo da área de recursos humanos de algumas empresas, que nem sempre estão aptas a buscar um novo perfil. Soma-se à urgência para preencher uma vaga, o que pode resultar na busca primária por homens, devido a uma maior oferta. Isso quando a descrição do perfil das vagas não é tendenciosamente masculina.

Os cursos técnicos também precisam ser melhor trabalhados em sua divulgação e em seu marketing para atingirem mais mulheres, assim como o paradigma de curso para meninos e curso para meninas precisa acabar.

É claro que não devemos generalizar. Algumas empresas estão investindo em programas para elevar o número de mulheres em seu quadro executivo, iniciativas que servem de exemplo para outras companhias e estimulam às mulheres que estejam iniciando suas carreiras e na luta por maior reconhecimento.

Muitas iniciativas de grupos de mulheres executivas, organizações independentes e que são patrocinadas por algumas empresas se movimentam também para fomentar o crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho e no de tecnologia, especificamente.

Acredito que todo este movimento aliado a políticas públicas deve contribuir, e muito, para a valorização e maior participação da mulher no setor de TI. Também acredito que precisamos de iniciativas que incentivem as meninas ao mercado de tecnologia desde cedo; a mudança de cultura é fundamental para acelerarmos o equilíbrio no mercado.

* Mara Maehara é a Chief Information Officer (CIO) da TOTVS dentro e fora do Brasil. Desde janeiro de 2016, é responsável pelas soluções e infraestrutura que suportam as operações da companhia. Com mais de 26 anos de experiência em TI, já teve cargos de liderança em empresas como Ambev, Grupo BRF (Sadia), Carrefour e Grupo Pão de Açúcar (GPA).