Apps indiscretos! Como o Facebook descobre com quem mulheres fizeram sexo
Sem tempo, irmão
- Apps para acompanhar períodos menstruais coletam muitos dados das usuárias
- Alguns enviam informações ao Facebook por fazer parte da rede de negócios da rede social
- Entre as indiscrições há a última vez em que a usuária fez sexo e se usou proteção
Você contaria ao Facebook quando fez sexo pela última vez? E diria se usou camisinha ou não? Algumas mulheres acabaram fazendo isso sem saber e de uma forma bastante indireta. Elas compartilharam essas e outras informações com aplicativos para acompanhar seus períodos menstruais. Só que esses serviços, por sua vez, acabaram enviando os dados à rede social.
Isso é o que mostra uma investigação da Privacy International. A entidade britânica que defende a privacidade descobriu que cinco apps usados por milhões de mulheres remeteram ao Facebook informações como hábitos alcoólicos, condições de saúde e até quando elas transaram pela última vez.
A Privacy International já havia mostrado no ano passado como o Facebook obtinha dados de pessoas que não tinham sequer contas na rede social. Isso ocorre porque alguns aplicativos enviavam dados à empresa de Mark Zuckerberg (veja mais abaixo). Um deles era o Period Tracker Clue, um dos maiores serviços para celular de acompanhamento menstrual.
Depois de o documento vir à tona, o Period Tracker Clue, da Leap Fitness Group, deixou de compartilhar dados com o Facebook. A partir daí, a entidade resolveu analisar outros apps populares do mesmo segmento. Após avaliar serviços como Period Tracker Flo (Flo Health), Period Tracker (Simple Design) e Clue Period Tracker (Biowink), a organização britânica constatou que eles também não mandavam informações pessoais de suas usuárias à rede social.
O mesmo não ocorreu com outros cinco apps:
- Maya (Plackal Tech);
- MIA (Mobapp Development Limited);
- My Period Tracker (Linchpin Health);
- Ovulation Calculator (Pinkbird);
- Mi Calendario (Grupo Familia).
Geralmente, esses serviços possuem muitas informações porque submetem suas usuárias a uma bateria de perguntas — é possível, no entanto, usar alguns desses apps sem responder a nenhuma delas.
O interrogatório é tão grande que essas empresas acabam sabendo desde o estado de espírito das usuárias e o que costumam beber até detalhes mais sensíveis, como seus hábitos sexuais ou se estão enfrentando algum problema de saúde. A ideia é usar tudo isso para prever quanto tempo vai durar o ciclo menstrual.
A Privacy International detectou que dois desses serviços expunham muito mais suas usuárias do que os outros.
Baixado cinco milhões de vezes, o MIA, por exemplo, enviava ao Facebook se a mulher estava usando o serviço para tentar engravidar, as datas da última menstruação e quanto tempo durou o ciclo, se elas bebiam café ou álcool, que produtos higiênicos haviam usado e até condições médicas como constipação ou diarreia.
Já o Maya, que tem um milhão de downloads, avisava à rede social se suas usuárias tiveram dor nos seios ou cólica, se usavam algum método contraceptivo, qual era seu estado de humor e quando haviam feito sexo pela última vez — e até se haviam usado proteção.
Como esses dados chegavam ao Facebook?
Os testes da Privacy International foram feitos no Android, plataforma do Google, já que o iOS, da Apple, tem controles mais restritos de compartilhamento de informação.
Os dados levantados pelos apps são compartilhados com o Facebook porque os criadores dos apps usam as plataformas para negócios da rede social.
Ao usar o kit para desenvolvedores, o Facebook SDK, esses criadores enviam para a rede social um identificador único. É com esse código que os anunciantes podem seguir você por toda a internet, seja lá qual aparelho ou serviço esteja sendo usado.
O uso desse kit dá, pelo menos, duas vantagens aos criadores de apps. Por um lado, permite que anúncios do Facebook sejam exibidos em seus serviços, o que pode ser convertido em receita. Por outro, possibilita que usuários acessem os programas usando uma conta do Facebook, ou seja, retira uma barreira de acesso que é criar cadastros próprios.
No último relatório da Privacy International, o Facebook descreveu da seguinte forma os benefícios de seu SDK:
Os desenvolvedores podem receber análises que permitem entender o que o público de seus aplicativos mais gosta e ainda melhorá-los. Os desenvolvedores também podem usar os serviços do Facebook para monetizar seus aplicativos através da Facebook Audience Network
O que dizem as empresas
A Plackal Tech, responsáveis pelo app Maya, informou que não enviava ao Facebook dados que possam identificar ou médicos das mulheres. Depois da abordagem da Privacy International, a empresa limitou a parceria com o Facebook.
"Entendemos a preocupação de que, além de fornecer o SDK de análise, o Facebook também é uma rede social e uma rede de publicidade. Portanto, removemos o SDK principal do Facebook e o Analytics SDK do Maya"
Isso quer dizer que os envios de dados serão interrompidos, mas a exibição de anúncios continuará.
A Mobapp, dona do MIA, enviou uma resposta à Privacy International, que não a publicou no relatório. A empresa ainda não respondeu aos questionamentos de Tilt.
Tilt também contatou o Facebook. A empresa afirmou que "nossos termos de serviço proíbem desenvolvedores de nos enviarem dados confidenciais sobre a saúde das pessoas e nós tomamos providências se descobrimos que isso aconteceu".
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