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Assim como na Terra, o polo magnético de Mercúrio mudou de lugar

Mercúrio é outro corpo no Sistema Solar, além da Terra, com núcleo que gera campo magnético - Nasa/Johns Hopkins University Applied Physics Lab
Mercúrio é outro corpo no Sistema Solar, além da Terra, com núcleo que gera campo magnético Imagem: Nasa/Johns Hopkins University Applied Physics Lab

Thiago Varella

Colaboração para Tilt

10/09/2019 19h08

Assim como ocorreu com a Terra, os polos magnéticos de Mercúrio também mudaram de lugar com o tempo, segundo um estudo recente na publicação "Journal of Geophysical Research", da União Geofísica Americana (AGU, na sigla em inglês).

Isso significa que o planeta deve ter núcleo líquido metálico, já que os cientistas acreditam que o campo magnético de um planeta provém dos movimentos fluidos de seu núcleo fundido.

Mercúrio é o outro corpo no Sistema Solar, além da Terra, com um núcleo fundido confirmado capaz de gerar campo magnético. Ele cria uma magnetosfera que circunda o planeta. Na Terra, é o que bloqueia a radiação cósmica e solar e permite que a vida exista por aqui. E no nosso planeta, os pólos mudam entre 55 e 60 quilômetros por ano.

Observar o comportamento dos núcleos metálicos de outros planetas ajuda os cientistas a entender mais sobre a formação dos planetas do Sistema Solar.

Os cientistas sabem que Mercúrio evoluiu ao longo do tempo, mas não conseguem dizer definitivamente como isso aconteceu, disse Joana S. Oliveira, astrofísica do Centro Europeu de Pesquisa e Tecnologia Espacial da Agência Espacial Européia, em Noordwijk, na Holanda, e principal autora do estudo.

As conclusões sobre as mudanças no campo magnético de Mercúrio foram obtidas com a ajuda da sonda Messenger, que orbitou o planeta de 2011 até 2015. A sonda coletou três meses de informações em baixa altitude sobre Mercúrio.

A Messenger tinha um magnetômetro para medir o campo de Mercúrio em detalhes. O instrumento mostrou anomalias magnéticas fracas na superfície associadas a crateras de impacto.

Segundo a pesquisa, essas anomalias se deviam à presença de ferro nas rochas que entraram em impacto com a superfície e que criaram as crateras. Eles também assumiram que, quando esse material fundido esfriava, era modelado pelo campo magnético de Mercúrio.

Os cientistas sabem que, quando a rocha que cria as crateras esfria, ela preserva um registro do campo magnético do planeta na época. Enquanto essas rochas contiverem material magnético, elas se alinharão com o campo do planeta. Esse fenômeno é chamado "magnetização termo-remanente".

Como diferentes rochas em diferentes locais da Terra esfriaram em diferentes momentos, criou-se um registro histórico dos polos flutuantes do planeta. É assim que sabemos que seus polos mudaram no passado.

Os cientistas puderam estudar o campo magnético de Mercúrio, mas nenhuma amostra de rocha foi coletada, já que nunca uma espaçonave pousou em Mercúrio. O planeta é um lugar difícil para uma sonda visitar, orbitar e pousar. Sua proximidade com o Sol significa que qualquer missão em Mercúrio deve enfrentar uma poderosa força gravitacional.

Para contornar isso, os autores deste estudo se concentraram em cinco crateras de impacto na superfície e nos dados magnéticos que o Messenger coletou quando se aproximou da superfície de Mercúrio.

Cinco crateras mostraram assinaturas magnéticas diferentes das medidas em todo o planeta. Essas crateras têm entre 3,8 e 4,1 bilhões de anos. Os pesquisadores pensaram que elas poderiam conter pistas sobre a posição dos antigos polos de Mercúrio e como eles mudaram ao longo do tempo.

A partir daí, eles foram capazes de estimar a localização dos antigos polos magnéticos de Mercúrio, ou paleopólos.

Os cientistas descobriram que os polos antigos estavam longe do atual polo magnético sul e que provavelmente mudavam com o tempo. Eles esperavam que os polos se agrupassem em dois pontos próximos ao eixo rotacional de Mercúrio, muito parecido com o da Terra. Mas os polos foram distribuídos de forma aleatória e, para surpresa geral, estavam todos no hemisfério sul do planeta.

Essa evidência mostra que a história magnética de Mercúrio é um pouco diferente da vista na Terra. O que aconteceu por lá é o verdadeiro desvio polar, quando as localizações geográficas dos polos norte e sul mudam.

Enquanto a Terra tem um campo magnético dipolar com um polo norte e um polo sul distintos, Mercúrio possui um campo magnético dipolar-quadrupolar com dois polos e uma mudança no equador magnético.

Os cientistas agora esperam que a missão BepiColombo colete mais dados do campo magnético de Mercúrio. A nave deve chegar ao planeta em 2025 e passará de um a dois anos por lá.