Após Europa, EUA ampliam cerco para reduzir poder de Google e Facebook
Sem tempo, irmão
- Em menos de uma semana, Google e Facebook viraram alvos de investigações antitruste
- Líder, Facebook fez 76 aquisições desde 2005 e freou redes sociais rivais como Snapchat
- Google domina em busca, publicidade online e sistemas operacionais de celulares
Quando foi a última vez que você fez uma busca que não fosse no Google? Difícil lembrar, não é? Possível que você nem saiba o nome de um concorrente. Outra pergunta: qual foi a última conta que você criou em uma rede social que não seja de propriedade do Facebook? Instagram não vale, assim como o WhatsApp —que talvez não qualifique como rede social.
Essa é um pouco mais fácil de responder, já que Snapchat, Twitter, TikTok e Pinterest ainda têm relevância, mas a empresa de Mark Zuckerberg consolidou um império que impediu a coexistência com antecessores como MySpace e Orkut (que saudades!) ou desafiantes como o Google+.
Google e Facebook são completamente dominantes em seus campos, por mais que digam que têm concorrentes. O fortalecimento e crescimento contínuo das duas empresas, que compram, imitam ou atropelam adversários que ameaçam ganhar espaço, fez delas alvos de novas investigações antitruste nos Estados Unidos.
Mudanças a caminho?
A maior dessas investigações foi anunciada nesta terça-feira (10), quando 50 procuradores gerais (de 48 estados americanos, mais o distrito federal e Porto Rico) se uniram para analisar o comportamento no Google. Sob o ponto de vista deles, o gigante das buscas acabou com a competição ou livre mercado em algumas de suas áreas de atuação, o que tem aumentado preços e prejudicado consumidores.
Você pode até pensar "tudo que o Google me fornece é gratuito", mas os lucros da empresa têm crescido de forma contínua e eles são fruto dos dados de bilhões de usuários como você. Estes são usados na venda de publicidade digital direcionada aos seus gostos.
Na última sexta-feira (6), dias antes dessa investigação conjunta sobre o Google ser revelada, a procuradora geral de Nova York, Letitia James, lançou outra investigação sobre o Facebook. Ela tratará sobre o domínio da empresa de Mark Zuckerberg em sua indústria e sobre "a potencial conduta anticompetitiva" dela nesse campo. Além de James, outros sete procuradores gerais americanos participam do processo.
Mais jovem que o Google, mas com certas semelhanças em seu modelo de negócios —lucros a partir da publicidade direcionada a seus usuários— o Facebook se assegurou que não ia sofrer o destino do MySpace, que definhou anos depois de se tornar a maior rede social americana. Ao todo, a empresa realizou 76 aquisições desde 2005, mas duas se destacam: Instagram (em 2012, por US$ 1 bilhão) e WhatsApp (em 2014, por US$ 19 bilhões).
Zuckerberg tentou adquirir o concorrente Snapchat em 2013, mas o negócio não deu certo. A natureza efêmera da rede social, com seus Stories, atraiu a atenção dos jovens, que preferiam o Snapchat às plataformas do Facebook. O que ocorreu depois foi uma supressão do Snapchat, com a inclusão do modelo Stories no Facebook, Instagram e até WhatsApp.
Adivinha quais são as plataformas de Stories mais usadas no mundo? Instagram e WhatsApp. O Snapchat segue como uma rede social saudável, mas teve queda no número de usuários durante 2018. Desde então, se recuperou e atingiu a marca de 203 milhões de usuários por dia. Isso corresponde a menos da metade dos usuários de Stories no Instagram e dos Status no WhatsApp.
Esse é o melhor exemplo de como o Facebook usou seu poder para evitar que um novo concorrente ganhasse todos aqueles usuários mais importantes para os anunciantes: os jovens. A dúvida é se essa "conduta anticompetitiva" se sustentará do ponto de vista legal.
"Vamos usar cada ferramenta investigativa à nossa disposição para determinar se as ações do Facebook podem ter colocado em perigo dados de consumidores, reduzido a qualidade das escolhas dos consumidores ou aumentado o preço para se fazer publicidade", disse James, em comunicado.
Alianças com precedentes
O que chama a atenção nestas investigações contra Google e Facebook é que elas são bipartidárias, unindo procuradores gerais vinculados aos partidos Republicano e Democrata americanos. Há precedentes para essas alianças terem impacto em indústrias controversas. O jornal Washington Post lembra de uma ação conjunta contra a indústria tabagista nos anos 1990, que acabou obrigada a bancar campanhas antifumo.
Além dessas investigações nos Estados Unidos - e de uma análise do Departamento de Justiça, iniciada em julho - essas empresas estão sob escrutínio em outras partes do mundo. O Google já levou três multas bilionárias na União Europeia, duas relacionadas ao seu serviço de buscas e outra pelas vantagens competitivas que o Android dava aos aplicativos Google. Hoje, europeus podem escolher qual buscador usar em celulares Android.
O Facebook, por sua vez, entrou em um acordo com a agência reguladora FTC (Federal Trade Comission) para pagar uma multa de US$ 5 bilhões por causa do escândalo de Cambridge Analytica. Foi pouco: no mesmo dia, as ações do Facebook subiram, já que os lucros da empresa cobrem a multa e o modelo de negócios dela não foi impactado pela decisão judicial.
Há quem argumente que essas gigantes de tecnologia sejam divididas em empresas menores, o que tornaria o mercado mais competitivo e diminuiria preços a consumidores. Bernie Sanders e Elizabeth Warren, pré-candidatos à presidência dos Estados Unidos pelo partido Democrata, são adeptos dessa ideia.
No momento, no entanto, parece improvável que essas mudanças estruturais ganhem força. É muito mais palpável a aplicação de multas, que serão absorvidas com alguma relutância, mas sem causar grande dor de cabeça para essas máquinas de gerar dinheiro que são Facebook e Google.
Já teve tempo de lembrar de algum concorrente do Google? Se sua memória não te ajudou, aqui vão duas opções: o Bing, da também gigante Microsoft, e o "indie" DuckDuckGo, sem associação com grandes empresas de tecnologia. Não importa o dono da plataforma: cerca de 90% das buscas online são feitas no Google, mesmo.
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