Ao ampliar serviços e peitar Google, Uber inicia sua fase mais ambiciosa
Sem tempo, irmão
- Em série de anúncios feitos em San Francisco, Uber mostrou sua visão de futuro
- Uber Transit, que mostra rotas também de ônibus e metrô, chega ao Brasil
- O app já integra o Uber Eats e logo deve juntar ali as bikes elétricas
- Com isso, empresa quer ir além e virar um "sistema operacional da vida'
- Diversificação começa a fazer frente a gigantes da tecnologia, como o Google
"O sistema operacional da vida". Não é a primeira vez que falamos por aqui que a Uber quer ser muito mais que só um serviço conveniente para chamar carros, mas a maneira que o executivo-chefe Dara Khosrowshahi posicionou a empresa na tarde desta quinta-feira (26), em San Francisco, soou extremamente ambiciosa, embora faça sentido se pensarmos em como será uma cidade daqui a 10 anos.
A visão de negócios do chefão da Uber combina com uma projeção que Roland Busch, CTO da Siemens, fez em entrevista ao Tilt. Ele havia sugerido que cidades precisarão de um sistema operacional que as organize no futuro; a ideia apresentada por Khosrowshahi encaixa como uma solução para gerenciar e conectar diferentes tipos de modais de transporte por meio de tecnologia.
De área em área, a Uber tem expandido seus tentáculos como parceira para tarefas rotineiras. O primeiro passo foi te levar de um ponto a outro de uma maneira mais eficiente do que a tradição de chamar um táxi por telefone ou procurá-lo na rua. Depois vieram as entregas de comida e corridas com estranhos - um pseudo-transporte público em um automóvel de cinco assentos.
Nesta quinta-feira a empresa realizou uma série de lançamentos para sua plataforma, embora a maioria deles esteja restrita a certas regiões. As novidades variaram desde a introdução de filtros de restrições alimentares em pedidos no Uber Eats (para comodidade de alérgicos a glúten, por exemplo), a troca de senhas entre passageiros e motoristas para início de uma viagem e até o anúncio de um relatório sazonal do impacto ambiental causado pelas 15 milhões de corridas diárias da Uber.
Vários dos recursos anunciados são bem pontuais e específicos, como a necessidade de você ter que ativamente pedir o canudinho de plástico no Uber Eats, mas dois deles, que chegarão ao Brasil, dão o tom da visão que Khosrowshahi tem para a empresa: a expansão do Uber Transit e uma renovação do design do aplicativo.
Fizemos uma notícia só sobre isso, mas vale recapitular: até o final de 2019, São Paulo se juntará às outras 14 cidades do mundo que utilizam o Uber Transit, recurso que permitirá que você cheque dentro do app da Uber quanto tempo (e dinheiro) a rota que você planeja levaria de ônibus ou metrô.
Comprar passagens por meio do app é um objetivo que está no horizonte —em Denver, nos Estados Unidos, já é possível—, mas por enquanto essa novidade será oferecida sem que você dê um centavo a mais de forma direta para Uber.
O custo será sua atenção, que tem a ver com o tal do "sistema operacional da vida". Quer se deslocar? Abra a Uber, não o Google Maps, e veja qual a melhor opção para sua rota.
"Estamos mostrando para os usuários pela primeira vez que, em certas situações, usar o transporte público é uma opção melhor. Pode ser mais barato, mais rápido, pode ter um valor melhor no todo", nos explicou David Reich, diretor do Uber Transit.
Ele ainda complementou: "queremos ser o lugar que você vai quando pensa em se deslocar, independentemente do meio de transporte".
Além das viagens
Nossa vida não consiste apenas nos nossos deslocamentos para certos lugares, pois —mais do que nunca- curtimos a conveniência do que chega até nós. Não por acaso, serviços de entrega de comida (e, cada vez mais, de qualquer objeto) têm se difundido. Para que você encontre tudo isso no mesmo lugar, a Uber planeja uma integração de seus serviços em um só aplicativo.
Quem já usou o Rappi têm uma ideia do que é isso. Ao abrir esse app de serviços diversos, você pode escolher desbloquear patinetes da Grin, pedir comida ou chamar um entregador para levar um documento que sua avó esqueceu na sua casa. O desenho do novo aplicativo da Uber, mostrado por Khosrowshahi no início da apresentação desta quinta, tem uma cara parecida.
De imediato, fiquei intrigado. Travis Kalanick, cofundador e polêmico CEO da Uber até 2017, era obcecado por eficiência na experiência do usuário. Seu aplicativo deveria ser fácil de usar, a ponto de o usuário não ter que se preocupar com absolutamente nada além de chamar um carro, que te levaria ao destino sem que você precisasse sequer tirar a carteira do bolso.
Kalanick se opunha até à ideia de incluir a possibilidade de dar gorjetas pós-corrida, que já seria uma "dor de cabeça" que o usuário não deveria ter que pensar sobre.
Mesmo depois da saída do executivo, essa experiência fluida, sem solavancos, foi mantida pela empresa. Mas será que isso mudou?
Colocar esse passo antes da corrida é uma tela a mais para se passar, uma decisão extra para o usuário fazer. A princípio não é um fator que vá arruinar a experiência, mas a adoção de mais e mais camadas dentro do aplicativo podem torná-lo poluído e confuso (alô, Facebook!), distorcendo um conceito que foi muito bem-sucedido.
Foi com essa dúvida que nos aproximamos de Joost van der Ree, designer sênior de produto e participante desse novo design. Ele explicou que a mudança não será necessariamente definitiva, mas foi bem recebida em consultas com usuários de diferentes partes do mundo. A preocupação com uma eventual rejeição, no entanto, passa pela cabeça da equipe que trabalha com isso.
"Tem sido uma grande discussão no nosso time [manter a experiência fluida do usuário]. Estamos experimentando e queremos aprender como as pessoas estão interagindo com o novo design", contou. Em paralelo à nova pintura do app da Uber, há uma outra versão sendo trabalhada com o mapa tradicional no topo e ícones para outros serviços na parte debaixo da tela.
Chefe de Van der Ree, o vice-presidente de produto Manik Gupta afirmou que a iniciativa potencialmente arriscada tem seu risco mitigado pelo tamanho que a Uber tem na atualidade —a empresa está em 64 países
"A forma que criamos produtos na Uber conta com o luxo de termos tantos mercados diferentes em que podemos testar múltiplas versões. Vamos ver qual tem o melhor resultado no sentido de garantir que a 'mágica do Uber' ainda está lá", tranquilizou o executivo.
Caminho difícil para o sistema operacional
Seja da vida, como Khosrowshahi quer, ou de cidades, como Busch sugeriu, a Uber terá concorrência pesada e terá que bater de frente com as empresas fundadas por quem inspirou o ex-CEO Kalanick. Admirador de Larry Page e Jeff Bezos, fundadores de Google e Amazon, respectivamente, Kalanick queria ser o próximo dessa linhagem de executivos do ramo da tecnologia.
Travis Kalanick saiu da Uber há mais de dois anos, mas, apesar do prejuízo multibilionário no último trimestre, sua ideia original deixou a empresa posicionada como uma candidata a tirar casquinhas dos impérios de Google e Amazon.
Do usuário do Google, a Uber tentará atrair as buscas de como as pessoas se movimentam dentro de cidades. Em paralelo, a Uber também prepara uma plataforma acessada para solução de variados tipos de demanda. Certos tipos de entrega já estão lá, mas um possível próximo passo é incluir compras.
Neste campo, a Amazon é ridiculamente bem posicionada, mas sua plataforma não é a mais fácil do mundo para compreensão de quem está vendendo o produto ou quais são os diferentes tipos de entrega que você terá que pagar. Se conseguir introduzir sua tradicional experiência do usuário nesta briga, há uma chance de roubar um espaço.
Os lucros e a consolidação desse "sistema operacional" não são para o mês que vem ou daqui alguns trimestres. A aposta da Uber é ganhar tamanho gradativamente e, quem sabe, estar do mesmo patamar desses gigantes em alguns anos.
"Se você está construindo produtos que têm foco no consumidor, resolvendo problemas e ganhando carinho deles, você vai ganhar no longo prazo. Essa é nossa crença, a tese por trás de todos os produtos que lançamos hoje, porque estamos ouvindo nossos consumidores, parceiros, cidades e construindo para o longo prazo", argumentou Manik Gupta.
É nesse longo prazo que se encaixam iniciativas ousadas como o Uber Air, de viagens compartilhadas pelo ar, e desenvolvimento de carros autônomos, que combinam perfeitamente com um sistema operacional de cidades, que de certa maneira já está com planejamento em curso quando são anunciados recursos como um alerta para a passagem de ciclistas.
Mas mais do que isso, a Uber reforçou hoje que quer (muito) ficar na tela do celular e não sair da cabeça de seus usuários. Para isso, competição não vai faltar
*O repórter viajou a convite da Uber
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