"Uber do ônibus" é barrado pela Prefeitura de SP; Tilt testou e mostra app
Sem tempo, irmão
- App UBus começou a operar na semana passada em SP, mas foi barrado pela Prefeitura
- O aplicativo, que conecta passageiros a linhas de ônibus, foi considerado clandestino
- Tilt testou o app antes da proibição: sistema requer melhoras, mas os ônibus são ótimos
- As empresas que operam os ônibus aguardam para retomar linha
Na última semana, um novo aplicativo começou a operar na mobilidade de São Paulo: o UBus, uma espécie de "Uber de ônibus". Sua proposta é conectar passageiros a veículos de transporte coletivo. Mas, uma semana depois, o serviço foi barrado pela Prefeitura da capital, que alega ser um transporte clandestino.
O UBus foi lançado para operar inicialmente em uma rota entre a região da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na zona sul de São Paulo, e São Bernardo do Campo, região metropolitana do Grande ABC. Mas a ideia era ir expandindo sua atuação.
Com a decisão da Prefeitura, o plano terá que ser revisto. O argumento é que o serviço não está credenciado. Em nota enviada ao Tilt, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes (SMT) informou que o credenciamento visa "garantir a segurança dos munícipes e prevenir a ocorrência de acidentes".
Alguns ônibus chegaram a ser apreendidos pela fiscalização municipal.
Por dentro do UBus
O UBus surgiu como uma alternativa à tradicional maneira de pegar um ônibus de transporte coletivo. O aplicativo começou operando com apenas uma linha, em parceria com a empresa Metra (Sistema Metropolitano de Transportes), que tem concessão do Governo para operar pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos). É a Metra a dona dos ônibus, enquanto a startup UBus opera a tecnologia do sistema.
Desde a semana passada, ônibus vinculados à plataforma estavam operando e Tilt chegou a testar a novidade em uma viagem rápida entre a Av. Berrini (como é conhecida) e a Avenida Vereador José Diniz, intermediada pela plataforma.
De cara, o aplicativo de mobilidade, considerado por algumas pessoas como "Uber do transporte público" e diferente do app Buser (que promete passagens de ônibus mais baratas) no propósito, mostrou problemas em seu funcionamento.
Por outro lado, os ônibus e o sistema me surpreenderam positivamente ao oferecer benefícios que superaram minhas expectativas iniciais.
O serviço, inclusive, está em um ramo no qual a própria Uber quer entrar - a empresa já vende passagens de transporte público em Denver (EUA) e estuda a viabilidade de soluções do tipo no Brasil. Por aqui, as companhias de ônibus já reclamam que a Uber tirou passageiros dos veículos municipais.
Como o aplicativo funciona?
Ao abrir o programa, que é gratuito, o usuário tem três opções na tela: "meus tickets", "solicitar viagem" e "atendimento". Para o pagamento das passagens, é necessário um rápido cadastro e dados do cartão de crédito - o cartão BOM também é aceito como forma de pagamento.
Ao clicar em "solicitar viagem", são dadas duas opções: "quero viajar hoje" e "quero agendar uma viagem". A diferença entre ambas é que na primeira são mostrados apenas os próximos horários de passagens dos ônibus para o mesmo dia. Na segunda, você pode agendar um horário e reservar o ônibus em dias posteriores.
Aí achei um primeiro defeito do aplicativo: é necessário saber quase exatamente a rota pela qual o ônibus passa para que ele lhe dê sugestões. Se você pesquisar por "São Paulo" como origem e "São Bernardo do Campo" como destino, não são dadas opções. Ao colocar a Av. Berrini e a Av. José Diniz, foi possível achar a linha.
Passado isso, o usuário só precisa reservar o lugar do ônibus (são todos marcados e ninguém pode viajar em pé) e escolher a forma de pagamento. O mais grave problema do aplicativo está em seu funcionamento: ele travou com frequência e chegou a irritar em meu uso no iPhone - foram comuns problemas para rolar pela tela ou selecionar um campo de cadastro, por exemplo. O app não respondia aos cliques e era necessário fechá-lo e abri-lo novamente.
Ônibus confortável com pequenos "luxos"
Com um pé atrás devido aos problemas irritantes do aplicativo, fui para o ponto de ônibus com expectativas não muito altas. Mas foi aí que o jogo começou a virar.
Cheguei ao local de partida com 20 minutos de antecedência e aguardei com o celular em mãos. Quando o horário de partida estava próximo, abri o app.
Dentro de "meus tickets" é mostrado o mapa da viagem e aí surgiu o ícone do meu ônibus a caminho - da mesma forma que ocorre com carros em aplicativos como Uber e 99, ou outros de mapas de linhas de ônibus. Isso é bem prático porque mostra em tempo real a chegada do veículo. O meu ticket estava programado para 13h16 e o ônibus chegou 13h17.
O mais legal do app é que o motorista sabe previamente em que pontos parar - o app avisa a ele onde um passageiro vai subir ou descer. Fiz a minha viagem completamente sozinho no veículo e, como ninguém entrou ou saiu, o percurso demorou cerca de 15 minutos. Ao entrar no ônibus, os passageiros precisam passar o QR Code, que serve como ticket, em uma máquina no topo da escada de acesso ao veículo. Só então o motorista parte para a viagem.
O ônibus é totalmente diferente do que estamos acostumados no transporte público. Ele faz parte do estilo executivo: é um ônibus moderno, com bom espaço entre os assentos, ar-condicionado, wi-fi, tomada para recarregar o celular e até oferece conteúdo de streaming de um app da Metra - não consegui acessar essa última comodidade, contudo. O serviço conta inclusive com cinto de segurança, algo que não estamos acostumados a ver no transporte público.
Sem "vai descer"
Dentro do ônibus, fui acompanhando o percurso pelo aplicativo para saber exatamente onde iria descer - não precisei abrir o Google Maps para isso. O motorista também se mostrou prestativo a tirar possíveis dúvidas - não achei a tomada e ele foi educado ao me explicar onde estava. Também não precisei apertar um botão ou gritar o famoso "vai descer". O motorista sabia o ponto que devia parar.
É claro que o preço por tudo isso é bem mais elevado do que qualquer um que está acostumado a pagar. São R$ 14,50 por uma única passagem. O valor é três vezes maior do que o de outros ônibus que circulam entre São Bernardo e São Paulo.
Antes de pegar o ônibus da Ubus, imaginava que esse serviço só valeria para viagens realmente distantes, como aquelas em que o usuário poderia substituir dois ou mais ônibus por um só. Mas até que o serviço faz mais sentido do que eu imaginei.
Os pontos positivos são que, além de toda a comodidade do app e do próprio ônibus, o veículo anda pelos corredores e só para em pontos indicados ao motorista. Em horários de pico, o UBus pode valer mais a pena do que um Uber, caso sua origem e seu destino estejam dentro da rota da linha, e o preço esteja mais barato. Sendo assim, me mostrou uma solução razoável para viagens esporádicas - não dá para pegar todo dia, claro.
Treta com a Prefeitura
Tudo ia bem até a Prefeitura de São Paulo barrar os ônibus pelo aplicativo por considerá-lo clandestino. Em três dias, a UBus afirma ter emitido 1.200 passagens e já previa ampliação para outras linhas de São Paulo, além de rotas na Paraíba e Rio Grande do Sul.
O curioso da história é que o ônibus contava com a autorização da EMTU, que é ligada ao Governo do Estado - inclusive, tem adesivos de ambos na lataria.
A Metra, responsável pela frota, é uma concessionária e tem a autorização para transitar em alguns horários com veículos pela cidade. Uma das autorizações envolve a possibilidade de rodar com um serviço diferenciado e incrementado, podendo cobrar a mais por isso.
Antigamente, a Metra tinha um ônibus com o chamado "rodomoça", com pessoas prestando atendimento aos passageiros. Isso foi tirado de circulação, mas a autorização governamental continuou - e a parceria com a UBus entrou no lugar.
A Secretaria dos Transportes do Governo do Estado de São Paulo aprovou a parceria, mas a novidade foi barrada pela Prefeitura, que detém certo poder pelos veículos circularem pelas ruas do município.
Ao Tilt, a Metra apontou, por meio de nota, que "tem todas as autorizações para circular entre São Bernardo do Campo e São Paulo e, além disso, todos os veículos são novos e estão em perfeitas condições para operar". A empresa apontou esperar uma explicação da Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana do Município de São Paulo para dar continuidade ao serviço.
Já a UBus afirmou à reportagem que não possui nenhum veículo próprio e é "apenas uma empresa de tecnologia, criada para fazer a ponte entre passageiros e operadoras de transporte legalizadas". O app aponta que cabe à concessionária prestar todo serviço de transporte e auxílio para o usuário.
"Para se tornar parceira da UBus a operadora deve ter a concessão pública na área de transporte coletivo, bem como toda a documentação necessária para exercer a atividade, como é o caso da Metra, na linha 376", informou o aplicativo.
Como fica?
Com o impasse, os ônibus do UBus não estão mais circulando em São Paulo. Ao abrir a tela de solicitação de viagem no aplicativo, o app informa que houve um "erro inesperado ao buscar viagens".
Todos os passageiros que já haviam comprado passagens tiveram o estorno feito no cartão de crédito, segundo a UBus. Já passageiros que fizeram a compra com o BOM não tiveram problemas, já que ele é passado antes de entrar no ônibus.
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