Quanto precisariam te pagar para você largar o WhatsApp por um mês?
Sem tempo, irmão
- Pesquisa estimou o valor de serviços gratuitos da internet na visão do usuário
- Pessoas responderam quanto aceitariam de receber para deixar serviço por um mês
- Para europeus, Facebook vale 97 euros mensais, já o WhatsApp 536 euros por mês
- Dados são importantes para que cálculos de índices econômicos sejam atualizados
Você já pensou quantos reais você aceitaria receber para parar de usar WhatsApp, Google ou Facebook? Ao lado de colegas do MIT (Massachussetts Institute of Technology), o professor Erik Brynjolfsson tentou fazer uma estimativa de valor desses serviços gratuitos online, que estão no radar do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) na busca por melhores explicações dos resultados econômicos americanos.
O país vem na maior sequência de crescimento de sua história, mas com baixos ganhos de produtividade. O PIB (Produto Interno Bruto) americano tem aumentado regularmente, mas Jerome Powell, presidente do Fed, sente que os dados usados para calcular o índice não representam necessariamente a realidade.
Na última semana, Powell admitiu que os dados que o Fed tem à disposição são "raramente tão bons" quanto eles gostariam. "Como deveríamos calcular o valor do luxo de nunca ter que pedir direções?", indagou, com uma alusão a serviços como Google Maps, Waze e Maps (o da Apple).
Powell falava em uma convenção anual de economistas, durante a qual ele também citou o trabalho de Brynjolfsson com seus coautores Avinash Collis e Felix Eggers. O trio realizou uma pesquisa online com 3 mil participantes, que foram questionados quanto seria necessário pagá-los para deixar de usar o Facebook por um mês. Partindo dessa lógica, eles encontraram um valor médio que esses usuários davam ao serviço em 2016: US$ 48 (R$ 198). Em 2017, o número caiu para US$ 38 (R$ 156).
Se o valor te surpreende, saiba que uma parcela grande dos participantes do levantamento —um quinto, para ser preciso— disse que pararia de usar a plataforma somente se recebesse cerca de US$ 1.000 (R$ 4.125) mensais. No trabalho, publicado em abril deste ano, os economistas argumentam que "bens digitais geram uma grande escala de bem-estar do consumidor que não é capturada pelo PIB".
O Facebook nem chega a ser a plataforma mais valorizada pelos usuários que participaram da pesquisa. Um recorte europeu do trabalho, com coleta de dados em campo, até elevou o valor dado à rede social a 97 euros (R$ 441) mensais, o que é muito menos que os 536 euros (R$ 2.438) dados na média ao WhatsApp.
Em entrevistas que compuseram o levantamento, os usuários explicaram que a valorização do WhatsApp está ligada à forte integração dele na rotina, já que o aplicativo é o intermediário das conversas com familiares, amigos, colegas de trabalho ou de escola.
O serviço que as pessoas dão mais valor, no entanto, é o que o Google sempre foi: um buscador de internet gratuito. Para deixar de usá-lo por um ano, os usuários cobrariam US$ 17.530 (R$ 72.323).
"Nossa análise revela que bens digitais criaram grandes ganhos no bem-estar que não são refletidas em medições convencionais de PIB e produtividade", afirma o trio.
A solução para os questionamentos de Jerome Powell tem relação com o trabalho dos economistas, que defendem a necessidade de pesquisas periódicas sobre bens e serviços que não são precificados e acabam ignorados por índices oficiais.
Assim como reguladores correm contra o atraso para estabelecer novas regras para inovações tecnológicas e os problemas a elas associados, a economia também vem se adaptando. No Brasil, o IPCA, índice oficial de inflação do país, será atualizado para considerar o que é o padrão de consumo da população, deixando para trás itens como vendas de CDs e DVDs para considerar gastos com Netflix, Spotify e Uber.
A mudança anunciada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na última sexta-feira (11) é simbólica desta adaptação aos serviços digitais, mas para isso chegar a um cálculo de PIB isso pode demorar. Bill Gates indica o porquê em uma resenha do livro "Capitalism Without Capital" (Capitalismo sem o Capital), de Jonathan Haskel and Stian Westlake.
O bilionário lembra que os Estados Unidos não incluíam software nos cálculos de PIB até 1999, mais de 20 anos depois da fundação da Microsoft. "Levou um tempo para o mundo do investimento abraçar empresas construídas sobre ativos intangíveis. No começo da Microsoft, eu sentia que eu estava explicando uma coisa completamente estranha às pessoas", conta.
O fundador da Microsoft escreveu que o mundo mudou muito desde 1980, o que exige novas formas de pensar a economia dos dias atuais, sugestão que Powell e Brynjolfsson abraçaram e mostra como a economia corre para entender o impacto que inovações de mais de dez anos têm no nosso bem-estar.
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